29 de agosto de 2018

Teresa Fênix 52a.Parte

A magia para os indivíduos cosmopolitas, acostumado a procedimentos lógicos, torna-se difícil (ou não), a compreensão de  métodos não conservadores de pensar ou de proceder . Se sabe que alguns segmentos,  acreditam numa forma  de "magia simbólica". É característico que "os sinais, símbolos, códices e palavras mágicas, podem exercer a partir deles,  os mesmos  efeitos que lhe é atribuído,   e a  força dos deuses, reconhece por si só,  essas  imagens e atua de forma correspondente(Harless,1858). Navegar na incerteza, ainda é uma alternativa provisória.O batráquio,  somente se exercita no salto constante,  pela imperiosa necessidade de se alimentar dos insetos incautos. O grego as vezes se sentia um sapo.  Era mister saber,  como mover as pedras no imaginário tabuleiro de  xadrez, ora  apresentado.  Buscou o negrume da antecâmara melancólica e mística, a  sala de não estar(as vezes) As convicções filosóficas nem sempre lhe faziam companhia irrestrita. Como  a fé dos monges,  muitas das vezes elas  escafedem-se.  "Por mares nunca dantes navegados" na poesia épica do vate lusitano Luiz Vaz de Camões, esse sentimento do desconhecido tomou-lhe conta, parecia-lhe estar atravessando uma situação inédita, absurda e com franjas de uma  dramaturgia angustiante.Na saída, algo inusitado aconteceu, pois Teresa Fênix, apareceu na sala do atendimento, e com voz fora do lugar, olhou seriamente para o grego, e nada disse. Era um olhar devorador. O grego não se abalou. E se recolheu no seu(dele) lar,doce lar...

5 de agosto de 2018

Teresa Fenix - 51a.parte

Numa manhã do mês  de agosto, no  inverno  tropical, o grego se levantou e  teceu lentamente  o sonho da noite anterior. Conhecia  a técnica da mnemônica como facilitadora do processo interpretativo da memória. Por certo a mensagem do sonho não era assim tão relevante, mas intuía em interpretar as ideias e imagens  criadas durante a viagem do sono. O foco principal segundo ele, foi retornando de navio à Grécia, e a  embarcação fez água e soçobrou. O grego ficou "bolado" com esse louco devaneio. Não surtou, mas ficou desconfortável. Talvez  um acidente aéreo, não lhe causasse tanto espanto. A real tragédia do  Titanic veio imediatamente na cabeça dele, lembrando do filme   sob a direção de James Cameron em  1998. Num átimo, o  marinheiro saiu de bicicleta pela estrada vicinal em direção a Crimeia, indo visitar uma experimentada jogadora do  tarô, um baralho de  78 cartas  coloridas, e  com figuras simbólicas. Ir ao encontro do místico, não eliminaria   os incômodos "grilos", todavia lhe parecia um leve conforto. A Xamã respondia  pelo nome de Anaili, indicada pelo amigo Deusdedit Utrecht Dutra. Ela  estava atendendo um  cliente, e não o recebeu  de imediato. Esperou cerca de quarenta  minutos,tendo sido  convidado a  sentar-se numa elegante e legítima  cadeira chippendale. Tímido,  como sempre diante das pessoas não conhecidas, adentrou e começou a narrar o sonho para a maestrina do ocultismo. A Xamã, lhe ouviu atentamente. E  repentinamente murmurava frases,   como por exemplo: Oh Ely Ely ! Falava em aramaico: Oh Deus, Deus !  A sessão transcorria sem intercorrências. As palavras inesperadas da protagonista do mistério foram duras.Disse-lhe ao grego estando a precisar tomar decisão. Não fraquejar diante da Teresa Fenix. E disse um verso de uma musica do compositor Edu Lobo: "toma decisão tá na hora, lança o seu saveiro no mar".


15 de julho de 2018

Teresa Fênix - 50a. Parte

Pressentir o encerramento de um ciclo de vida, é confrontar com  o popular   aforismo: "se ficar o bicho pega, se correr o bicho come".  Num paradigma mais ousado,  para o comandante retornar ao torrão natal ou para Grécia de Diógenes,  é como    estivesse  repetindo a travessia comandando um navio, no  perigosíssimo   Estreito de Magalhães (ele havia experimentado a tensa, todavia foi uma  exitosa aventura marítima) tendo a probabilidade de  naufragar. Raciocinava dentro e fora da filosofia dita clássica, se  lembrando  do arquiteto e flautista Paulo Pena Firme(in memorian), ao lhe dizer entre um trago e outro de uma uca(*) honesta, vinda de Salinas,  que o "homem volta às origens".  Não  dizia comungar dessa assertiva, contudo a dúvida quase sempre lhe acolhia. Tocava em frente. A vida dele era mergulhar nas coisas prazerosas e conhecidas, como visitar a casa rural  de um  amigo, residente no Barro Branco, um   pintor, e respeitado  restaurateur de painéis, naves de igrejas e outros. Gentil e importante artista . O nome   é Deuseli Utrecht, contudo nasceu por essas   terras   Puris. Depois de amargar uma breve cadeia injustamente, vítima de um ardil  entre um graduado funcionário da justiça e a então ex-mulher, resolveu  viver na clausura bucólica. Estava a esculpir há anos uma réplica em tamanho adulto,  de São Francisco de Assis. O Comandante apreciava a arte, e a belíssima  obra do amigo foi por ele reconhecida, mas todavia, de  olhar horizontal, parecia estar a ver distantes  paisagens. Mas sempre admirou os impressionistas como Van Gogh e Gauguin.  Ir embora em definitivo, custava-lhe uma posição única(talvez irreversível) e cujo gradiente estava difícil de ser estabelecido. É provável que nas  andanças empreendidas  pelo Capitão,  ganhava (ou perdia) tempo, procrastinando (ou não)  o dia D partir. Rememorava a dramaturgia de Sófocles, pois o oráculo afirmou  que Édipo Rei  mataria o pai dele,  e se  casaria com a mãe, Jocasta. E o destino foi  consumado,  no imagético cenário pensado por Sófocles. Édipo Rei, fugiu da  tragédia pessoal,  tentou mudar o curso do rio, ao se transformar num ser errante, mas não  teve êxito. O Comandante se via no retrovisor dessa história, intuía uma partida em direção ao mar Mediterrâneo. Nos momentos budísticos, passavam-lhe nuvens passageiras outras mais lentas, a lhe dizer, a não tentar mudar a interpretação   semiótica das imagens do espaço sideral. O enfrentamento é inexorável.

(*) cachaça                                                             

3 de junho de 2018

Teresa Fênix - Parte 49a.


O que fazer, diante de tantas disjuntivas inesperadas? E reverberadas altissonantes sobre o afeto mais nobre? Jungir   é mais confortável,  como ouvir o solo de clarineta numa tarde,  quando o sol cheio de cansaço se dirige  lentamente ao ocaso. Chega lembrança do poeta carioca Vinicius de Moraes, no Soneto da Fidelidade, livro de poesia quase esquecido - numa estante improvisada de tábuas de eucalipto - presente de um amigo da marinha mercante brasileira, para o auxiliar no aprendizado do idioma do Lácio, e  na penúltima estrofe assim versejou o vate: Quem sabe a solidão, fim de quem ama. Aparentemente um paradoxo. Pois quem ama deveria ter a compensação da companhia. É o pedágio emocional por ter amado? Ou nada amou? Conjecturas gregas, com vernizes dos trópicos. E os dias modorrentos iam se passando. No modesto inverno, se juntava a alguns poucos amigos a beberem vinho de uvas tintas oriundos possivelmente  do Chile ou Argentina. Comiam queijo banhado com azeite grego (ele tinha algumas garrafas  compradas pela internet) e apreciava quibe cru com pão árabe.  Tinha conflitos com a rotina. E para suavizar a atitude dele, gentilmente rejeitava convites para ingressar em sociedades secretas ou não. Além de todas as ilações, se preocupava com as parcas economias, segundo as contas dele,  poderiam sustentá-lo por mais  dois anos. Ele começou timidamente a desenhar a Carta Náutica para retornar para as ilhas gregas. Estava literalmente meditabundo.

31 de maio de 2018

Teresa Fênix 48a. Parte

Teresa Fênix engordou muito, mais do que esperava, e dizia para algumas amizades, atribuindo a  ansiedade,  que havia tomado-lhe  conta. E se alimentava mais do que  necessário. Parecia   estar  grávida. E passou a caminhar, como parte  dos indivíduos ávidos a perderem peso, e melhorar  a condição física,  pelas ruas quase desertas da cidade. No inverno essa prática diminuía, principalmente quando a "chuva de horta" como falam os habitantes da região, molhava o uniforme, e o tênis encharcavam-se  nas pequenas poças d'água. Assim era parte da rotina de Teresa Fênix. Sem contudo esquecer o  seu comandante Nemo.Numa dessas caminhadas encontrou-se com Elza,  ex-auxiliar doméstica do marinheiro. E travou-se um diálogo assim: Olá Teresa ! Oi (um oi seco) respondendo-lhe  meio a contragosto, pois sempre desconfiou ser a Elza  uma fofoqueira contra ela. Mas enganou-se. Afirmou-lhe que o comandante gostava muito dela. E desistiu, pela inconstância  de Teresa de Fênix. O comandante dizia para Elza, que Teresa Fênix era apaixonada por um policial. Ela respondeu-lhe, que era verdade, todavia, há muito descurtiu  o gendarme. E convocou a Elza para colaborar no canjerê para retornar aos braços do comandante. Elza era uma veterana mãe-de-santo do candomblé. Aliás toda família da Elza  foi iniciada na religião de matriz africana, cuja a saudação é  saravá !

5 de maio de 2018

Teresa Fênix - Parte 47a.

Já se sabia na boca miúda que o comandante era ateu. Com certeza um curioso das atividades esotéricas, tal qual um amigo dele, cuja  origem  judaica, sendo  russo da vertente  esquenazi, que  após longos anos em  praticar a cabala( lado místico do judaísmo) resolveu frequentar os terreiros de religiões de matrizes africanas. O grego ficou intrigado, sobre o recado de Teresa Fênix, ao ameaçar em colocar o nome dele na boca do sapo, para fazer-lhe reatar com ela. Ele quis conhecer como se operava tal manobra para se produzir  mal a alguém. Pesquisou exaustivamente pelas redes sociais, e depois foi ao encontro das poucas pessoas conhecidas, e  ligadas a Umbanda ou ao Candomblé. Ouviu e anotou  a história e a  ritualística de ambas religiões. Todos àqueles  depoentes o convidaram para participar de uma gira da Umbanda, onde se prevalece os pretos velhos, Maria Padilha e outras entidades. O  experimentado marinheiro ouviu atentamente as orientações daqueles obás de plantão. Um deles afirmou ser ele médium de alta sensibilidade. Devendo desenvolver essa mediunidade, ou seja, lhe foi recomendado a frequentar terreiros. Ele nada dizia, era uma boa escuta, como devem ser os psicólogos mais eficazes. O comandante  agradeceu gentilmente, o aprendizado transmitido de gerações em gerações, pela oralidade por  homens que preservavam uma importante cultura  oriunda da África. Nos momentos de reflexão, o homem do mar,  preferia ouvir como sempre, a música  Zorba o grego, e dançava.

1 de maio de 2018

Dia do trabalhador


O Muro de Berlin construido em 1961,  dividia a Alemanha de Wolfgang Von Goethe, e foi derrubado em 1989, e trás o   estereótipo da vergonhosa  atitude dos principais vencedores da Segunda Guerra Mundial(1939/1945) a saber Estados Unidos, Rússia e Inglaterra, que “leiloaram” a Europa. A queda do Muro de Berlin se creditam   a Glasnost (transparência) e Perestroika(reestruturação) que são políticas públicas oficiais de Mikail Gorbachov(1985/1991) para a então União Soviética, e  acrescenta-se a globalização da economia, que enfraqueceram  sobremaneira o movimento sindical mundial que tinha  seus pés plantados no mundo dito  “socialista”, através da ex-União Soviética,  que se dissolveu num mar de corrupção e  denúncias confirmadas de assassinatos em massa. O dia do trabalhador há muito tem o seu brilho ofuscado, ou os sindicatos estão a perder a sua importância.  O sistema capitalista não é  nenhuma  oitava maravilha, pois pune severamente os mais despossuídos, ou àqueles sem eira e nem beira. As Universidades Federais são para os riquinhos, e o preconceito racial e econômico(esse é o mais perverso)  continuam. As prisões na sua maioria recebem os  pobres, negros e prostitutas. A justiça serve um bom cardápio a classe dominante.  Ao trabalhador é preciso dar-lhe a oportunidade de  escolas profissionalizantes para o Brasil enfrentar as constantes demandas do rotulado  primeiro mundo. Se assim procedermos, a organização da classe trabalhadora será uma consequência(desde que seja desatrelada do Estado),   e   possivelmente  tenhamos menos presídios. O Doutor Anísio Teixeira ícone nacional da educação, vaticinou: “Sem educação não há solução”.

29 de abril de 2018

O Futebol

O futebol como motivador de atitudes variadas no campo sócio/antropológico, na terra brasilis, é algo  muito instigante.Está a merecer pesquisa pura aplicada ao segmento que absorve esse esporte de forma quase mística.  George, líder dos  Vigneron de origem franco-huguenote, não titubeou e organizou-se para  esposa dele desse a luz ao filho caçula (Jorginho) no estado do Rio de Janeiro, em função do topônimo fluminense, àqueles nascidos nesse estado. Eles eram torcedores do Fluminense Football Club (grafia inglesa). Numa vitória do Vasco da Gama,  campeão de terra e mar(remo), poderia ter sido batizado de Ipojucan, tendo sido salvo pela minha mãe, que não aceitou a imposição paterna. Muitos se chamam de Pelé ou Pelezinho. Talvez de Edson Arantes, Arthur Antunes(Zico), o grande craque Mané Garrinha, Nilton Santos, Bebeto, Castilho, Píndaro e Pinheiro. Mesmo o futebol tendo sido inventado pelos ingleses, o swing desse esporte está aqui abaixo da Linha do Equador, com os brasileiros e otros hermanos latino-americanos, tenham essa certeza. A derrota do Brasil contra a Alemanha, ainda engasga feito a temida espinha de traíra. Nesse andamento allegro ma non troppo, a memória viaja até ao calçadão de  pedras portuguesas entre Copacabana e o Leme. Naquele momento mágico,  o  tricolor Artur da Távola(in memoriam) e amigos,   acompanhados por músicos de  uma animada bandinha, ou charanga, dentre tantas, era mais uma dessas campanhas políticas. Nesse simplório evento,  a música da charanga era o mote. Eis que o encontro surpreendente e agradável ao avistar   Paulo Roberto Ramos,  tricolor de carteirinha e amigo de infância, from Mimoso do Sul(ES).  Ele  estava acompanhado do amigo Pedro Carlos N. Carneiro. Diante do inesperado,   disse ao maestro: por favor o Hino do Fluminense! Os dois  Paulo se confraternizaram pelo mesmo time,   e em seguida  tocamos em frente a caminhada.

24 de abril de 2018

Numa quinta-feira outonal.

Manhã de outono, numa caminhada, chega  o cheiro das flores silvestres,  se despertando, quase frio e quase memória a registrar a flora pujante. Eis o legado  dos mais importantes, repassado ao homem (que faz a guerra e suja a floresta). Mas elevo o pensamento ao deparar-me com a flor do sugestivo fruta/pão, a baleeira copada é indicativa de boa terra, oitis semeados pelos pássaros, sapucaia, o impenetrável palmito iri,   jaqueira-cravo, bambu gigante e chinês, hibisco, candiúva, jenipapo, mangueira, frondosa sibipiruna, jambo vermelho, ingá, paineira, imbaúba, angico vermelho, pitangueira,pau-pereira, mamoeiro,cambotá, pupunha, jabuticabeira, cedrinho, amoreira,banana d'água, ipê amarelo,fedegoso, graviola, guanandi,chibatão, pingo de ouro,  jamelão,sapucaia,figo, laranja Bahia, mixirica, pinha,pau-brasil, coqueiro,abacate, cedrinho, lírio, mogno africano, guaraná(morrendo, não sabemos a motivação), pau d'alho, cabiúna, goiabeira, araça, castanheira, ficus,  eucalipto citriodora, laranja lima, limão galego e branco, palmito amargo, pupunha, açaí,  carrapeta e  taboa. Eis a natureza nua. E a  selva de pedra não fez falta. Bioma invejável  e apreciado por um olhar atencioso, com poderosas e imagéticas lentes. E  a conclusão do  entendimento,   o quanto se deve proteger e preservar a mãe terra. Incluindo as águas escassas e finitas, como fonte e aprendizado da vida.Os valores da convivência no campo, onde a florescência do bucólico, dá a sensação da alegria de viver, tão nítida como a claridade solar.É sempre bom lembrar, que o dia de amanhã, possa ser mais promissor do que o de  ontem.

17 de abril de 2018

Dona Ivone Lara


Maria Callas está para ópera, assim como    Dona Ivone Lara está para o samba. Sem receio de errar, o samba é a arte musical de maior expressão da cultura brasileira. Dona significa no simbolismo cultural, como se fosse Dama ou Majestade, a sabedoria do sambista, não lhe permite ser narcisista, melhor dizendo “metido a besta”, em nominar Ivone Lara de majestade ou dama do samba, em vida. No Império Serrano, que é uma das   academias do Samba, onde Dona Ivone Lara é considerada uma  compositora de altíssimo prestígio, e um invejável acervo musical de sambas de raiz  que já está no inconsciente coletivo  do povo brasileiro. Gravou o primeiro disco em 1970, através de Sargenteli e Adelzon Alves. Dona Ivone Lara nasceu em Botafogo, no Rio de Janeiro há 97 anos. Teve aulas de canto com Lucília Villa-Lobos, esposa do compositor Heitor Villa-Lobos, que  elogiava a voz dessa sambista. Foi atriz no Sitio do Pica Pau Amarelo, no papel de Tia Anastácia. Freqüentou a  Serrinha em Madureira, berço do jongo, que é a semente do samba.  Naquela ocasião conheceu os compositores Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira,  ambos ícones do samba. Dona Ivone Lara viajou ao espaço sideral para ser  a sexagésima estrela da Constelação de  Andrômeda,  a partir de  16 de abril de 2018, por decisão de todos os orixás.

15 de abril de 2018

Teresa Fênix 46a. parte ( Omi nibu,Omi jéjé)

"Promessa é dívida" assim reza a crendice  por essas terras dos irmãos tupis, tamoios, avá-canoeiros, crenaques, tuxás, tremembés  e tantos outros irmãos(negado pelas elites; onde são mais de 150 línguas faladas dos troncos das famílias tupi-guarani, macro-jê, caribe,aruaque e arauá, tucano, ianomâni, macu e outros *);   que Teresa Fênix numa certa  sexta-feira, lua cheia e 7 de agosto, se preparou para ir ao Terreiro do Caboclo Rompe Mato. Toda de branco,  exceção para a  calcinha vermelha em homenagem a Pomba Gira, onde guardou rente a perseguida o papel escrito com o nome completo do Comandante grego, longos brincos de cigana, cabelos presos, cordão de ouro com a efígie de São Jorge de Capadócia e  bebeu bons goles de uca curtida na carqueja. Na hora de sair, inesperadamente surgiu a vizinha e perguntou onde ela iria toda emperequetada. A pergunta foi  de sacanagem, pois sabia ser o conjunto da  indumentária pertencer ao ritual das religiões de matrizes africanas, pois era calejada filha de santo, vinda dos terreiros onde ecoavam os sonoros atabaques da Bahia de Todos os Santos. Teresa Fênix pediu-lhe para adiantar o assunto, por estar atrasada para a gira do Candomblé. A visita inesperada falou ter consultado os Orixás, sobre o Grego, e  mais de uma entidade garantiu, ter ele a proteção pela frente de Ogum e na retaguarda Obaluaiê; ele tem o corpo fechado(no Benin, e confirmado na terra do Obá Jorge Amado) e qualquer despacho para atingí-lo  poderá retornar em dobro para o autor(a). Teresa Fênix ficou "bolada". Sentou-se  numa cadeira e desancou a chorar.  Choro alto e convulsivo, parecendo ter incorporado algum espírito.E depois entoou os Orin(cânticos em Yorubá, do candomblé), assim: Omi nibu, Omi jéjé ( mãe das águas profundas, mãe das águas calmas **). 

* Indios do Brasil/Julio Cezar Mellati (edusp) 
** Órun Àiyé/ José Beniste ( Ed.Bertrand Brasil)

23 de março de 2018

Teresa Fênix 45a. Parte

Teresa Fênix rides again, em direção ao filho de Zeus. Impassível passou ao largo das investidas para retornar o romance, onde o amor inexistia. O Comandante, teve um breve diálogo assim: Porque tem me evitado, o meu Comandante? Porque orgulho e preconceito? Ele então respondeu: " Vaidade e orgulho são coisas diferentes, embora as palavras sejam usadas como sinônimos. O orgulho tem mais a ver com nossa opinião a respeito de nós mesmos, a vaidade com que desejamos que os outros pensem de nós." Lembrou o marinheiro grego de um trecho do clássico "Orgulho e Preconceito" da britânica  Jane Austen. Teresa Fênix  ainda insistia sobre o preconceito, pois ela se sentia pobre materialmente, e o julgava ser rico. O grego nada respondeu. Uma outra tentativa, de  cunho mais sério ou não, pois se  tratava de  uma conhecida  de ambos, indo  a casa dele, na função de pombo-correio, e naquele momento  repassava o filme:("Minha amada imortal" uma película  biográfica de Beethoven, que faz (des)acreditar que o compositor  teve ou não teve um grande amor),  e a mensageira foi logo dizendo: " ela mandou dizer o seguinte: se você não voltar pra ela, o seu nome  vai parar na boca do sapo-boi". E foi-se embora com passos céleres.O interlocutor ficou atônito. Todavia não acreditava em cangerê ou congênere.

18 de março de 2018

Teresa Fênix - 44a. parte

Maga Psicológica, durante a permanência  no hospital, ela fez diversas amizades, dentre elas, com  uma  voluntária de nome Macilea Castelo,  que prestava serviço a uma Casa de Recuperação de Dependentes químicos e outros. Ela se entusiasmou,  e com a saúde recuperada, passou a dar plantões na casa acima citada. Na condição de servir àqueles que tentavam se livrar da dependência, como o alcoolismo, drogas pesadas e outros, Maga Psicológica, ia tocando a vida dela,  se sentindo útil ao próximo nesse novo contexto de vida,   falava na "boca miúda",  que  se lembrava do filho, vitima de um  severo  vício.  Doar serviço para comunidade despossuída de condições, e com dependentes abandonados pelos familiares,   é uma atitude das mais meritórias. Entre os internos, um deles chamou-lhe atenção, pois se parecia com o filho dela. Essa transferência de afetividade é praticada em outras ocasiões, para mitigar  sofrimentos  ainda presentes. O irmão  nímico (de alma), era um simpático afrodescendente cujo apelido era Pingola, e pelos anos 1960, gozava da amizade do Ricardo Ferreira Martins, mais conhecido por Kiko, amigo do Comandante Grego.  O  benfeitor do Pingola, num certo momento, Pingola foi agraciado com uma cadeira de engraxate na praça central, tendo como companheiros de profissão, o  Senhor Augusto, que ambulava com uma só perna e o filho  Expedito, mais a companhia do jovem Leonídio morador do Alto San Sebastian. Pingola mesmo tendo recebido, a cadeira de engraxate, roupas e alimentação do amigo do grego,chegou a  praticar um ou dois furtos na casa do Kiko. Pingola  inesperadamente sumiu, e anos mais tarde, se soube estar trabalhando como gari em Cachoeiro do Itapemirim. E tinha sido morto numa contenda, foi esfaqueado, vindo a óbito (como diz a corporação médica). Maga Psicológica, ao saber desse desfecho fatal com o Pingola, não resistiu  e morreu de infarto, aos 87 anos.

12 de março de 2018

Teresa Fênix 43a.parte

Repetir  o filme -  Zorba o grego - no sofrido projetor,  soava-lhe como uma eclesia dos valores helenos, e se sentia  transportado  num processo esotérico, imagético até a terra de Zeus, das deusas Atenas e  Afrodite, a primeira da guerra, a outra do amor. O Capitão de longo curso, inúmeras vezes era convidado para frequentar cultos protestantes neopetencostais, e  por último passou a receber convites para cultos de matrizes africanas. Se sentia inclinado a conhecer  a mística oriunda da África. Contudo, não se sentia atraído na busca de um deus para  se religar, religião. A curiosidade era o som agudizado  da  percussão, produzida pelos atabaques, a coreografia das danças, cânticos e a ritualística, que somente conhecia de documentários e livros. O Comandante era possuidor de uma sólida convicção agnóstica. No pensamento dele, nenhuma doutrina,seita,Um eterno aprendiz. religião, sociedade secreta ou crença popular, carregada de misticismo ou não, o levaria a professar quaisquer uma delas. Era um livre pensador. E nada mais.

27 de fevereiro de 2018

Teresa Fênix 42a. parte

O hábil timoneiro foi desafiado por mares violentos,imensos vagalhões, avariações nos mastros, velas rasgadas, toneis de água quebrados, ele superou os contratempos com sensibilidade e têmpera. Nos infortúnios ou lições de vida, a   convivência entre crianças com necessidades especiais, era a mais doída compaixão. Resolvia equações da difícil ciência  náutica, e ensinava a língua de Platão alegremente. Sabia das aventuras reveladas por Homero no livro  Odisseia. Além dos 10 anos que lutou na guerra de Tróia, coabitou 1 ano com deusa Circe, e mais sete anos com Calipso e as ninfetas. Ulisses era a representação do homem grego: inteligente e   arrojado.  E se  embaralhava no cipoal de pensamentos, quando se tratava do enigma do amor e  mistérios inerentes. O que fazer? ou para onde não ir? Todos os marinheiros foram mortos pela maldição dos deuses adversos. Com tudo isso, se embaralhava no cipoal de pensamentos, quando se tratava do sentimento mais profundo. Não tem como cotejar. Disjuntivas  frequentes, não lhe ofereciam espaços para a reflexão mais serena. Se sentia como o comandante holandês, que segundo a lenda,  somente poderia ancorar de sete em sete anos, na busca de um amor, caso não o encontrasse  retornava a singrar oceanos.  O amor lhe parecia algo (in)tangível, mesmo atuando numa larga e sincera compreensão. Se mantinha nas atividades cotidianas e as vezes era assaltado por um desejo de retornar a Grécia. Mas entre uma atividade e outra assoviava trechos do quarto e último  movimento da nona sinfonia de Beethoven. E o tempo ia adormecendo os pensamentos dele. Mas ele sabia que a qualquer momento essas reflexões retornariam. Era preciso tomar duras decisões. Assim Beethoven escreveu e musicou a parte do canto, da derradeira  Sinfonia desse valoroso ícone da música erudita:

9ª Sinfonia (Opus 125)

Ó, amigos, não nesse tom!
Em vez disso, cantemos algo mais delicioso
Cantar e sons alegres
Alegre! Alegre!

Alegria, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce voo se detém.

Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo;
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo que ele chama de uma alma
Sua própria alma em todo o mundo!
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!

Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza;
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!

Alegremente, como seus sóis voem
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente como o herói diante da vitória.

Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões, vocês estão ajoelhados diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do Céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora!


25 de fevereiro de 2018

Teresa Fênix 41a.parte

O destino do  Chefe não estava escrito nas estrelas. Foi decretado pelo  Exu Caveira, entidade mais carregada de  maldade, no campo  primitivo, chamado de vingança, sob o manto da barbárie. As religiões  de matrizes africanas, são iguais a quaisquer outras místicas. Os cultos   de todos os continentes defendem que na existência  do bem, há a contrapartida do mal. Acrescento somente para ilustrar pois, na famosa ópera Il Trovatore de Giuseppe Verdi(1813/1901) no libreto eis o  Ato 1: " O irmão mais moço do Conde de Luna desapareceu há muitos  anos. Conta-se que uma feiticeira fez-lhe um feitiço antes de ser queimada, e que a filha dela raptou e matou a criança."     Há a possibilidade que a morte do Chefe tenha sido encomendada pelo antigo empregado - José do Egito -  que presenciou o assassinato  do patrão dele. Se tal ocorreu, as mães e filhas de santo, babalorixá, cambono e o orixá mais graduado,   e demais membros tenham acedido  a proposta de trabalharem a morte do Chefe. Os alquidares foram lavados em água corrente de cachoeira,  e preparados para receberem o  bode preto sacrificado, para se processar o despacho na lua cheia no dia 17 de  agosto, como recomenda a liturgia transmitida pelos sábios  Obás. O Chefe foi vítima de um forte quebranto. Negava a se alimentar, e foi tomado de um profundo  desânimo e dizia ouvir vozes do pai dele.  Diante do quadro agravando-se em progressão geométrica,  foi internado no hospital local e morreu em poucos dias, vítima da falência dos órgãos vitais. "Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay ". (*)

(*) "Eu não creio nas bruxas, mas que elas existem, existem"

21 de fevereiro de 2018

Teresa Fênix 40a. Parte

O comandante estava animado com as aulas de grego que oferecia graciosamente a um pequeno grupo de alunos. Contudo continuava a frequentar com assiduidade o Núcleo de Crianças portadoras da Síndrome de Down.  O interesse pela mitologia grega era flagrante. A viagem marítima de Ulisses por cerca de dez  anos petrificava os olhares dos pré-adolescentes, quando narrada por aquele professor. A  Odisseia de Homero encantava os pequenos. Como um livro escrito há mais de quatro séculos a.C. poderia despertar tanto interesse  na petizada? O herói  Ulisses é o herói, é a própria Grécia, como Tchaicovsky foi para a Rússia, através da arte musical. Expressava originalmente a característica grega. Enfrenta ciclopes, motins, maremotos e todos os tipos  de perigos mortais e os supera quando chega a Ítaca, onde é esperado por Penélope, astutamente fiel, que resistiu à corte dos brutais  pretendentes, os quais foram todos mortos por Ulisses.  Interpretar Ulisses na sua condição de humanizado por Homero, abre um leque interpretativo cujo o fio condutor   indica molduras diferenciadas, por Dante, Platão, Joyce, Pound, Kazantzakis e.g. Enfim Ulisses é um marinheiro que carrega simbolismos  subjetivos e outros  nítidos, feitos a claridade solar.Ulisses foi em busca do absoluto.Talvez tivesse o famoso compositor Wagner  se inspirado em Ulisses para compor  a ópera "O navio fantasma" onde o binômio  coragem/virilidade é a culminância.

18 de fevereiro de 2018

Teresa Fênix 39a. parte

A protagonista principal desapareceu,  sem ao menos despedir dos  vizinhos. E  após um longo período de ausência, talvez mais de um ano, sendo que nesse lapso temporal, o grego em nenhum momento quis saber do destino  dela. Melhor dizendo, Teresa Fênix não lhe fez falta. Segundo lhe contou uma nova vizinha, recém chegada da Crimeia, pertencente ao  Condado de São Pedro do Itabapoana,  ela foi submetida a um  severo tratamento psiquiátrico, numa clínica no interior de São Paulo, que pertencia a Ordem dos Franciscanos. O comandante não desejava revê-la, mas isso era quase impossível, pois numa pequena cidade  certamente a  toparia inevitavelmente  num supermercado ou na praça central.  O Comandante continuou na rotina dele, sem apresentar nenhuma outra atividade, exceto em dar aula de grego para sete alunos, duas vezes por semana. E também se preparava para visitar as terras de  Homero, pois existia uma pequena herança que lhe cabia por lei e por direito. Nas idas e vindas  ao comércio local,  a viu de longe e acompanhada do filho. Pela distância,  notou-lhe que tinha ganho peso corporal. Esse olhar não caracterizava nenhum interesse. O fetiche derreteu-se. Foi um olhar pequeno, em todos os sentidos, (afinal de contas o Comandante era fruto do mimetismo cultural,ou era uma curiosidade tida como  universal?) Não nutria o mais remoto sentimento afetivo. Para o grego o amor, mesmo com o aprendizado da rica mitologia helênica, é um sentimento de altíssima complexidade com trânsfugas, disjuntivas e aceitação. E assim se faz a (des)construção do amor,  com suavidade, segundo o entendimento do experiente marinheiro dos sete mares.