23 de abril de 2017

Teresa Fênix 35a. Parte

José do Egito, o antigo empregado do audacioso cabouqueiro, resolveu ministrar o funeral do patrão, seguindo a liturgia do candomblé(*). José do Egito mesmo tendo se afastado dos terreiros dos orixás, raciocinava que por ter sido mensageiro  da fatal premonição, estava a prestar homenagem as entidades da mística afrodescendente, pela confiança esotérica nele depositada. Entre os yorubá, quando morre uma pessoa, o corpo é banhado, igual na tradição judaica.  Se for mulher, o cabelo é devidamente penteado, e se for homem, o cabelo é inteiramente  raspado. A condição de estar devidamente higienizado, é para ser bem recebido na morada dos ancestrais. Em algumas regiões da África, chumaços dos cabelos e pedaços das unhas dos pés do morto, são cortados e guardados para o 2° enterro, em sete  ou mais dias. Em  seguida o defunto é   envolvido imediatamente numa mortalha branca. Acrescenta-se que  ritual fúnebre do candomblé detém o conhecimento da conservação do corpo. Os alimentos e oferendas são depositadas numa cabaça aos pés do morto, como forma  dele não sentir fome,  durante a permanência entre os antepassados.  Os ataques rufam,  e os amigos e parentes dançam  e também se alimentam, todavia até a barra da madrugada. A dança se encerra e o corpo é vestido em roupas pesadas e coloridas, e em  procissão solene se dirigiram  até a sepultura. Há o hábito de mandar recados para àqueles que partiram, que é a prova da crença no além, e no poder inconteste dos ancestrais. Vários dias decorridos após o  funeral, se pratica outro rito conhecido como Fífa éégún Òkùú wo lé - Trazer de volta o espírito para casa. Um santuário é construído  num canto residência, onde se realizam pedidos e oferendas, num diálogo da intimidade familiar. José do Egito cumpriu a obrigação que julgava correta dentro dos cânones orais repassados por várias gerações.     

*) O Negro no museu brasileiro - autor: Raul Lody - Ed.Bertrand Brasil;
 *) Òrun Àiyé - autor: José Beniste - Ed. Bertrand Brasil.                 

10 de abril de 2017

Teresa Fênix - 34a. Parte

A futura mãe estava  a sorrir,  principalmente quando ouvia alguma referência sobre  a  gravidez.  A avó incumbiu-se de costurar à mão uma peça de recém nascido. A mãe dentro da cultura  sul-americana,  mergulhou nas águas abissais do desejo da filha única. E iniciou-se a aquisição  do enxoval, com o  mais apurado gosto. Na casa de Maria Guadalupe o tempo girava em torno do nascimento do neném. O futuro avô materno vaticinava dissimuladamente, se fosse homem, sugeria o nome dele. A mãe e a filha,  desconversavam sobre essa possibilidade. A compra do berço, pintura do quarto, viagem ao México, enfim agenda assoberbada. Ulisses ficou marginalizado diante do importante evento. Mesmo tendo sido coadjuvante,  o prestígio caiu. O foco das atenções foi alterado. Lembrou-se da crônica do Artur da Távola( 1936/2008), cujo texto, em alguns casos, o homem  é simplesmente o colocador de  semente, e só.  Ulisses assim se sentia. Todavia,  bem cedo aprendeu com o preceptor dele, o grego,  que o silêncio é sábio. Ulisses mudou-se para a casa da namorada. E sentia feliz pelo neném. Não era expectativa dele, ser pai tão rapidamente. Outro remetente num contexto próximo,   também no  espaço  e no  tempo, e personagens díspares, eis o curto diálogo: Como isso aconteceu? Você uma mulher experiente,  se deixou engravidar? Vc sempre afirmou,  não queria mais filhos. Pois é mãe de três adolescentes. Pensou por alguns segundos,  e sorridente  retrucou: ele é que  não soube brincar. Um aforismo popular,  à propósito.