25 de junho de 2013

Leon Tolstoi



Leon Tolstoi, escritor, de renome universal, um verdadeiro cossaco, disse do alto da sua sabedoria : ” ... se queres tornar-se universal, comece por pintar a sua própria aldeia... “ Nesse andamento, como se fosse uma sinfonia e seus movimentos, a escritora Karina Fleury, garimpa de forma arqueológica-literária a vida e a obra de Maria Antonieta Tatagiba, e transcende esse percuciente estudo, quando faz analogias e exegeses bem fundamentadas, ou quando denuncia com legitimidade histórica, o acorrentamento das mulheres pelos ditames da falocracia, lamentavelmente, ainda em pleno vigor ...E ancorando seu ideário na consistência dos versos e dos conceitos nele contidos, encontra a escritora Karina Fleury, paradigmas, desde Charles Baudelaire até o estilo modernista místico-melancólico de Cecília Meirelles, sem contar - Virginia Woolf - essa inglesa, sempre atemporal... Os escritores , além da imortalidade das suas obras, na realidade são as suas próprias e (in)contestes ânimas ! Isso vale para quaisquer outras artes. A mestra Karina Fleury, sua fidelíssima – ghost writer – discorre com cuidadoso equilibrio a saga da família, e a via crucis da autora de - Frauta agreste – incorporando sua admiração e reconhecimento da peculiar poética, digna de quaisquer galerias oficiais. Antonieta publicou seu livro acima citado em 1927, no Rio de Janeiro. De onde recebeu elogios ,através do “ O Jornal “, o então conceituadíssimo matutino, pertencente ao poderoso conglomerado dos Diários Associados. É a poetisa-primeira do pequeno estado do Espírito Santo, e morreu precocemente aos 33 anos...lutou bravamente contra o bacilo de Koch, e infelizmente não o venceu.
A intensa peregrinação empreendida pela autora, na abissal biografia, ao escrever – O papel da mulher e a mulher de papel - Editora Opção - é mais uma tentativa, espero seja frutífera, de tornar Maria Antonieta Tatagiba, num vate cosmopolita, que viveu na década da Semana da Arte, realizada em 1922, sob a batuta de Mário de Andrade e outros entusiastas colaboradores. A autora da – Frauta agreste - viveu nas alterosas sãopedrenses, no extremo sul do estado natal de Rubem Braga ...Se ela tivesse nascido francesa, certamente seria reconhecida, pois a França, possui um modelar respeito aos seus ícones, onde o padrão básico de conhecimento é compartido com todos, indistintamente. A este padrão pertencem naturalmente os escritores. Por essas bandas de cá, as coisas culturais não florescem, pelo estrabismo anacronico do poder público acanhado, e soturno. Não toma iniciativas, e não permite, em nome do obscurantismo, que outrem o façam...A Mestra Karina Fleury é uma bem-aventurada, ao se lançar no resgate de uma poetisa de escol, e injustamente olvidada. Não é para se colocar algodões entre os cristais, mas para refletir : o transcendental escritor e dramaturgo - Leon Tolstoi - até hoje, passados 110 anos, continua excomungado por ter colaborado com a revolução de 1917.

22 de junho de 2013

Cárcere privado - primeira parte


O fulcro da  narrativa é de cunho verdadeiro, e chegou ao meu conhecimento por um confiável interlocutor. O contexto, mesmo emprenhado de algumas lentes de aumento, faz sentido,  pelo conteúdo do relato, mesmo estando envolvido de compreensível ingrediente emocional. O fato ocorreu nos anos sesenta, no extremo sul capixaba, e se estendeu até ao Rio de Janeiro. Marialice era filha de Antonio e Berê, e irmã de Santinho, um cozinheiro de categoria, que harmonizava os temperos, como se fosse um maestro de uma orquestra sinfônica. Nunca soube da vetusta escola Cordon Bleu em Paris,  contudo possuia “savoir-faire” na arte  da cocção, quer  para rei, quer para os amigos.  Curiosamente afirmava que pimentão é uma hortaliça, e enquanto viveu, nunca "o convidou" para os seus marinados. Acusava ser o pimentão tão autoritário, que anulava os demais.
Marialice residia em Matilde, um vilarejo que pertencia ao Cachoeiro de Rubem Braga. Era um bela mulher. Impressionava os homens pelos seus olhos azuis, seios fartos e porte empertigado. Berê, sua mãe, sabidamente não podia arcar com despesas extras, além do teto, alimentação e um simplório guarda-roupa. E nada mais. Aos dezessete anos, na flor da idade, Marialice, segundo a sua mãe, já estava na hora de conseguir um casamento de conveniência, com um homem abastado.
Nagib Ahmed, na época, um bem sucedido ex-mascate, talvez um ascendente omíada, e patricio do escritor Gibran Khalil Gibran(1883/1931). Possuia um grande empório, considerando a sua geo-localização. O seu comércio funcionava na viela principal, num prédio antigo, com sete portas, e vendia de tudo um pouco. A mercadoria era sortida, pois oferecia desde as populares calças brim-coringa, até os mágicos tabletes de anil, alvejante das roupas encardidas.
Nagib Ahmed era o perfil exato que Berê desejava para sua filha. O mouro tinha uma vida regalada e opulenta. Era voz corrente entre os moradores, que era possuidor de um voraz apetite sexual, do alto dos seus cinqüenta e oito anos. Nunca se casou, pois o propósito era fazer fortuna. Órfão de mãe, não teve infância e muito menos juventude; pois começou na labuta aos nove anos com seu pai. O árabe Nagib Ahmed era quase da cor do ébano, seu perfil era a de um sujeito forte e atarracado, e sempre com a barba por fazer. Chamava seus fregueses de "brimo ou brima", com atenção e simpatia. Berê tomou coragem e foi até “ao lôja” do solteirão e rico comerciante. E fez-lhe a proposta de lhe apresentar a filha Marialice, podendo desposá-la, se lhe conviesse. O ex-mascate aceitou, e exultou-se com a oferta. Comunicada, Marialice entrou em desespero, e depressão. Perdeu os sentidos. Berê às pressas, saiu em busca de ajuda. Nesse ínterim, recobrou os sentidos e fugiu em direção a casa do seu tio, no qual depositava toda a confiança. Seu tio residia nas alterosas mineiras, e o lugarejo era conhecido como, Chora Morena. Passaram-se meses, e ela, infortunadamente foi descoberta. O parente não teve pulso suficiente, para impedir que ela partisse. E a desventura se concretizou, casando-se com o noivo que lhe foi absurdamente imputado. O casamento compulsório pelas circunstancias, foi matizado por desavenças diárias, pois Marialice rejeitava o estupro da sua dignidade, submetido-lhe por sua genitora.
Certa vez, fugiu diante de num descuido, desse ascendente bérbere.. Não tardou a ser descoberta e retornou a casa de Nagib Ahmed, que morava no andar de cima do “seu lôja". Era um prédio de sobrado. Pela fuga, o comerciante a puniu severamente. Primeiramente lacrou as janelas da frente da casa privando-a de ver à rua principal. E em seguida, acorrentou-lhe dentro de casa, limitando os seus movimentos. Um  cárcere privado. E assim coexistia essa mulher com o infortúnio. Emudecida, servia ao seu impostor nas suas libações sexuais, esperando o dia “d” para conquistar a sua liberdade. E não tardou, surgindo uma impar oportunidade. Após um dia de intenso trabalho, e por demais cansado, estirou-se o beduino na sua costumeira cadeira de balanço. E com a bôca às escancaras, dormitou pesadamente. Marialice não perdeu tempo: com a água que preparava para o costumeiro café, jogou-lhe água fervente de goela abaixo. Urrou feito um javali ferido.
Em seguida, apanhou as chaves, abriu as algemas e o cofre. Fugiu, segundo se supõe, para a terra dos bandeirantes. Nagib Ahmed, gravemente ferido, não morreu.

A agenda nacional mudou



No dia 20 de junho de 2013, o Brasil desde o impeachment do Collor em 1992, não se registrava manifestação popular com 1,2 milhões de participantes, sendo que o Rio, colaborou com trezentos mil pessoas, que protestaram na larga avenida Presidente Vargas, no centro dessa cidade. Um movimento sem liderança, em nítido confronto com os postulados marxistas-leninistas, que preconizava, que movimento sem comando e sem propostas concretas, não leva a nada. Há controvérsias. O movimento foi "organizado" pelas redes sociais disponíveis na internet, com a ausência total de líderes carismáticos e/ou similares. A manifestação estava sob o manto apartidário. Não havia entidade de classe, ong ou partidária enquanto atores do evento. O mote foi o aumento da tarifa do transporte, com o qual os estudantes, da legendária USP, tomaram à vanguarda. Eles pertencem ao MPL - Movimento do Passe Livre - e segundo o jornalista Merval Pereira, publicou n'O Globo de 23/06/2013, que o movimento tem inspiração na esquerda radical. O MPL, perdeu o controle, e declararam que houve infiltração de "conservadores" no movimento. Eis alguns exemplos contraditórios: O MPL não condenou os vândalos, e foram contra a expulsão dos petistas na manifestação. O MPL perdeu o controle do movimento nacionalmente. A classe politica ficou atônita, pois foi atropelada pelos fatos. Aliás o povo está anos-luz à frente de todas as instituições da sociedade civil. A pauta de reivindicações dirigida ao poder público, felizmente transcendeu ao protesto do reajuste das passagens. Protestou-se contra o descaso, em respeito aos mínimos direitos dos cidadãos, desde o atendimento nas filas dos hospitais públicos, até a proposta do governo federal, da PEC 37 - Projeto de Emenda Constitucional - que retira poderes investigativos do Ministério Público, e a corrupção que gerou volumoso processo no Supremo Tribunal Federal, que julgou e condenou os "mensaleiros", os quais possuem a perspectiva de não serem recolhidos ao respectivo presidio. As autoridades por dever cívico, deveriam assumir a sua "mea culpa", e proceder a reforma política, e punir àqueles que dilapidam o bem público. Inclusive, investigar a variação patrimonial nos últimos anos, do ex-presidente Lula, e todos os demais suspeitos. A saúde e a educação, devem carrear verbas compatíveis com necessidade da população. Os valores nas reformas dos estádios, não indicam que o governo seja sensível quanto a saúde, e muito menos quanto a educação. Universidade pública continua sendo dos "riquinhos". O protesto poderá se repetir - quiçá reforçado pela classe "c", que aplaude, mas ainda não participa - caso o governo-paquiderme, continuar olhando somente para o seu próprio umbigo. O jornal a Folha de São Paulo procedeu uma pesquisa entre os manifestantes, que assim se pronunciaram, na escolha do candidato(a) a Presidencia da República: 30% Joaquim Barbosa, 22% Marina Silva e 10% Dilma Roussef. Cabe uma reflexão? ou não?