Pouco sei da família
paterna, quase nada... uma lamentável
lacuna, um vazio. Alguns não
desejam nada saberem da sua genealogia.
Registro esse desinteresse em muitos, que assim indagam: para que saber dos
ancestrais de Treviso, Damasco, Benin, Maputo ou do Algarve?
Respeita-se a opinião.
Embrenhei-me numa pesquisa nos cartórios, qual nada, era a igreja católica, o notário público, que historicamente sempre foi aliada da
classe dominante, até aos dias atuais. Omitiu durante os 350 anos de
escravatura. Ao garimpar, fui informado que os registros de nascimento e óbito
estavam sob a guarda da paróquia de Boa Vista, hoje Apiacá. Ao chegar no local, acompanhado da Marcia,
recebeu-me um padre de origem huguenote,
das terras de Mauricio de Nassau.
Circunspecto no primeiro momento, todavia, tomei coragem e inquiri-lhe sobre os boers ( holandeses que instalaram a mais perversa segregação
racial do mundo, na África de Mandela): porque tanta desumanidade com o povo
negro sul-africano? Ele não titubeou, respondendo que os boers acreditavam que
os negros eram ascendentes de Caim, que matou Abel o irmão dele. Por isso os negros foram amaldiçoados, e daí a punição. O padre não
esboçou nenhum gesto de apoio aos boers. Essa justificativa surreal, jamais
tinha tomado conhecimento, anterior ao
padre huguenote me afiançar. Iniciei a
busca num robusto livro manuscrito, se
encontrava o nome do meu avô. Senti-me numa situação como estivesse literalmente procurando uma agulha no
palheiro. Até que deparei-me com a seguinte observação: “ o creoulo fulano de tal, foi morto em.... “. Os negros não
possuíam registros de nascimento e nem de óbito. Meu avô era negro. Quando se
registrava, com a alcunha pejorativa de “creoulo”, era um negro alforriado, ou um “negro de alma branca”. Raros são os afro descendentes que conseguem saber o nome do bisavô. Os negros não
existiam nos compêndios oficiais, e foram considerados como “peças”,
verdadeiras unidades de produção. Para o meu regozijo, recentemente encontrei
uma parenta legítima e gentil – Lélia Machado
- e continuo a caminhada, dessa em vez em Matipó, nas terras do alferes e heroi Joaquim José da Silva Xavier.
24 de fevereiro de 2014
19 de fevereiro de 2014
Taquarim (parte 2)
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Descobrir devagarinho, com se estivesse tecendo um samburá. Igual percorrer uma dezena de quilometros, a pé, de Mimoso do Sul para o Barro Branco (tabatinga) na busca de varas lineares de bambu, dito chines, que depois de tratada ao fogo, solta uma substancia semi-oleosa. Em seguida, limpando-a com um tecido velho e seco. Isso feito, estará pronta e mais resistente a bravura de um piau-tres-pintas, e para finalizar, recebe seus apetrechos, ou seja : linha, chumbo e anzol. A busca desse caniço, é através da via férrea, ora caminhando sobre os trilhos, tal qual um equilibrista de circo no horizontal arame, ora pelos dormentes, na cadencia de uma marcha quase-castrense, pois a distancia dos dormentes nos trilhos é muito pequena, obrigando o caminhante a dar passos curtos e precisos. Essa viagem já foi empreendida há alguns anos. É uma andança observadora feito um jornalista vibrador, que o editor-chefe lhe confiou uma matéria sobre " o taquarim e suas finalidades" - para publicar na seção latina do New York Times.
A memória guardou tudo, assim me parece, pois ao andar, abria-se feito uma grande cortina de um teatro mambembe, cheio de luz. A moldura verdejante se apresenta, filha da mãe natureza, e cercada pelo bucolismo, e ouvia-se os cânticos dos bem-te-vis, o arrulhar das rolinhas ou o pio dos inhambus. Inesperadamente uma nascente de água cristalina. Saciava a vontade incontida de beber muita água. Um pouco de descanso, e logo retornava a " a caminhada do bambu chines". Alguns o chamam de taquarim, taquara, espécie de bambu. Os pés já começavama a doer, e o sol castigava, pois era o mes canicular de janeiro.A chegança no Barro Branco, foi uma festa. Foi como encontrar um pequeno oásis. As inúmeras touceiras dos taquarins, na margem direita do rio - eis um belo taquaral, produzindo sombra e água fresca. Empreender esse pequenino périplo, é tão lúdico quanto caminhar pelo calçadão de Ipanema em direção ao Arpoador, ouvindo as opiniões Mauricio Dias sobre legendário Raimundo Faoro. Ou quiçá, perambular a esmo pelo Quartier Latin. Enfim, algumas varetas de taquarim foram decepadas, e suficientes para serem preparadas, rumo ao rio piscoso rio Itabapoana.
12 de fevereiro de 2014
Homo sapiens e o amor
Há princípios que dignificam o grau de civilidade de um povo.
Como por exemplo: não matar e não furtar. A convivência
social harmônica, se faz através do tempo, com a manutenção de algumas regras
pétreas imutáveis e irrevogáveis. Infelizmente,
nem sempre essas normas do bom relacionamento são seguidas, e todo o mundo é sabedor das transgressões. A bem
da verdade - o homo sapiens ainda está em fase de aprimoramento – e
creio que essa “quarentena” vai demorar. Do outro lado do rio, no sentido único do
viés emocional, uma flor matinal sombreava
uma mensagem, mais ou menos assim: ...” avalia-se a inteligência de um indivíduo, pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar...” de
Immanuel Kant ( 1724/1804). E essa pérola filosófica está a merecer
considerações, no campo das incertezas, sem contudo vincular a arrogância de
ser mais ou menos inteligente, se me for permitida a presente interpretação. O “sabe
tudo”, segundo Sócrates (filósofo grego 400 a.C), afirmou que: “ tudo que sei, é
que nada sei”...dai o aforisma de Kant, quanto a incerteza. Ora pois, se percebe que no ato do aprendizado, é constado que pouco se sabe. E ainda se acrescenta, os enigmas da vida, sendo o amor um
misterioso viés, que navega (des)orientado pelos sete mares. Nada se pode
concluir, em se tratando de uma matéria
controversa. Mas, intuir, é possível de se fazer. O amor é fruto da complexidade das relações
humanas, e por isso, poder-se-á justificar ser o êle,
uma busca tão fundamental, quanto da liberdade, como fonte inspiração para tornar a vida mais
lúdica.
8 de fevereiro de 2014
Uma luta contínua
O mundo atravessa um novo ciclo, com o aparecimento da
internet. E a ferramenta das redes sociais serve para organizar os protestos. A consequência são o espoucar das bombas, corre-e-corre e a polícia nos calcanhares dos
manifestantes, (alcunhados de
vândalos, iguais aos bárbaros europeus - visigodos
e ostrogodos – que derrubaram o longevo
império dos césares) e nesse palco beligerante, eis que um cinegrafista foi ferido, e veio lamentavelmente a morrer. O foco,
é a contrariedade quando do aumento das passagens no transporte urbano, na
cidade de São Paulo. Não bastando o poder público ser atavicamente autoritário, o
setor acima citado, construiu um poderoso cartel, com representantes (vereadores e deputados estaduais) nas casas
legislativas, até porque alguns empresários do setor, são suspeitos de financiarem as campanhas eleitorais de candidatos em todos os
níveis. É provável que essa prática seja encontrada em outras capitais do país.
A luta do homem para manter a sua dignidade enquanto cidadão é constante desde
a Revolução Francesa (1789-1799) até ao genocídio (1994) de Ruanda, onde oitocentos
mil pessoas da etnia tutsi foram mortos, dentre elas muitas crianças e idosos. A maioria das mulheres foram estupradas, pelos hutus, etnia rival. E pasmem, mais uma vez: com a participação da classe dominante, leia-se: França, EUA, Inglaterra, FMI, Banco Mundial, ONU et caterva. Sob o símbolo da dignidade, se trava doze guerras civis em diversos países em território da mãe África, e a grande
mídia nada noticia. A luta é permanente, em todos os quadrantes do planeta, quer na
manifestação carioca, quer na resistência do povo sírio. Isso pode significar, que a
liberdade do homem é uma luta contínua. A história é implacável, e todos esses fatos serão por ela julgados.
PS.: Se desejar melhor contextualizar a matéria acima, por favor, veja o filme "Hotel Ruanda".
PS.: Se desejar melhor contextualizar a matéria acima, por favor, veja o filme "Hotel Ruanda".
1 de fevereiro de 2014
"Vale o escrito"
Ouço numa tarde de verão, algumas interpretações de músicas altissonantes, a referência é para o virtuose das cordas - Rafael Rabelo - encapsulado no seu violão-alado, partiu inesperado e
precocemente, em direção a mais brilhante esfera celestial. Quem sabe está a
dedilhar para os astros, asteróides e extraterrenos ou não? O fato é que, nesse
instante imagético, místico e campesino, convivo com o calor tropical, mais
famoso nesse inicio de 2014, com árvores a produzir boas sombras,
e um riacho a correr suave, e
manso feito o sol poente, quer no Arpoador, quer no pico da siderúrgica Estrela
Dalva, uma das torres símbolo das montanhas imponentes, e enfeitadas pelas flores silvestres e cachoeiras. Lá do alto da Estrela Dalva
pode-se avistar o veleiro alteroso singrando o mar alto, permitindo-se rememorar os
barquinhos-de-papel, enquanto brinquedo
de criança, e empreende-se "outras viagens". E o olhar se perde, e se encontra, dessa vez entre a vegetação de um
açude, e se faz presente ( infortunadamente, fotografado somente pela retina) a ação transformadora da natureza, na insígnia do ninho semi-ovalado,
construído de varetas e forrado de folhas, com três ovos de tamanho médio, repousados e prometendo o nascimento das avezitas do Martin-pescador. O ninho desse pássaro
compõe o cinturão ciliar da pequena lagoa, e localiza-se somente há uma distância de um metro e meio, da água. A nidificação está na condição de - hóspede - da candiubá, arbusto
nativo da região sudeste. O Martim-pescador, veste uma plumagem
pluri-cromática, que são cores impressionistas, harmônicas e encantadoras. Imagine-se os
pequenos Martim, pela proximidade do espelho d’água, muito cedo serão treinados
a mergulharem, como - atividade primeira da sobrevivência - ao localizarem, como
suas “poderosas lentes” os cardumes encontrados nas inundações lacustres. Os vizinhos e compridos arvoredos, conhecidos popularmente como imbaúbas, - cecropia purpurascens - são testemunhas desse relato. Contudo, “vale o escrito".
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