14 de dezembro de 2012

O jongo - parte 2

Há uma interação interdependente entre o lúdico e o místico, em se tratando do jongo. No lado místico, conta-se que aquele que tem "vista forte", ou seja; um iniciado com a patente próxima de um Obá (sábio em Iorubá); dizem que durante uma roda de jongo, é possível plantar à meia-noite no terreiro uma muda de bananeira. E durante a madrugada, ela cresce e produz frutos que eram distribuidos entre os presentes. A festa-mística dos jongueiros, é composta por uma fogueira e diversas tochas espalhadas. Ao lado, ergue-se uma barraca de bambu para a dança dos casais, ao rítmo do calango; e ao som de uma sanfona de oito baixos e pandeiro. Silenciosamente, à meia noite a negra mais velha, talvez a mais sábia, sai da barraca e caminha lentamente em direção ao terreiro de "terra batida". É o momento solene, de acender a fogueira e formar a roda. Ela se benze entre os tambores sagrados, e pede licença aos pretos velhos que já se foram rumo ao zênite, para iniciar os trabalhos. Canta o primeiro ponto, que é o de abertura. Todos respondem, cantando alto e batendo palmas num clima de alegria. Os tambores rufam. Nas fogueiras, assam-se na brasa a batata doce, milho verde e amendoim. Bebem cachaça, caldo de cana quente ou café, nas noites de frio intenso. O jongo é também uma festa, sobremaneira animado e só termina ao raiar do dia. No amanhecer saudam o dia, com um "saravá a barra do dia". Dia 13 de maio é uma data consagrada dos pretos-velhos. Os jongueiros dançam descalços, vestidos com roupas do dia a dia. É uma dança de roda e de umbigada. A umbigada se dá de longe. No jongo da Serrinha existe um passo que se chama "tabiá", que é uma pisada forte com o pé direito, curiosamente, tal qual os indios da região do Xingu, na festa do Quarup.

10 de dezembro de 2012

O Jongo - parte 1

É muito provável que o samba tenha a sua paternidade creditada ao jongo. A dança do jongo se concentrou nos morros cariocas antes do surgimento do samba, porque na abolição da escravatura, a colonia não reservou sequer pequenas glebas para os ex-escravos. Em nome da preservação desse patrimonio cultural, em 1960 foi criado o Jongo da Serrinha, em Madureira no Rio de Janeiro. Seu incentivador, foi o mestre Darcy Monteiro, profundo conhecedor da prática dessa dança, carregada com fortes tinturas místicas e respeitáveis mistérios. Criou-se uma Escola de Jongo, que inicialmente foram matriculadas 500 crianças, e jovens de diversas idades até o limite de 21 anos. Além das aulas de dança e da música do jongo, há do estudo do afro-primitivo, se ensina capoeira angolana, maculelê, teatro, artes plásticas e cidadania. O jongo, conhecido também como caxambu, veio do Congo e de Angola. Eles eram bantos, que são membros do grupo linguístico nígero-congolês oriental. Esses escravos foram enviados para as fazendas de café no Vale do Paraiba(RJ), Minas Gerais e São Paulo. Há informações que o jongo se estendeu até ao Espirito Santo. No passado somente os mais velhos podiam entrar na roda para dançarem. Os líderes eram necessariamente rígidos, por exemplo: na passagem das "mirongas" (segredos) e ao informar os fundamentos dos pontos. Os cânticos do jongo são simbólicos, pois é uma linguagem cifrada, exigindo uma boa experiencia para decodificá-los. Os jongueiros são verdadeiros poetas-feiticeiros, que se desafiam na roda do jongo. É a disputa das sabedorias entre as duplas. Com o poder das palavras e uma forte concentração, buscavam encantar o outro, por meio da poesia dos seus pontos. Aquele que recebesse um ponto enigmático, deveria decifrá-lo na hora e respondê-lo imediatamente( a esse fato dá-se o jargão: desacatar o ponto). Caso não consiga responder "a tempo e a hora", ficará enfeitiçado, "amarrado", podendo desmaiar, e a perdre a voz. E para agravar, se embrenhará na mata, e não saberá como retornar. Até vir a morrer. Há quem sustente, que atualmente esses fatos não se repetem. A conferir. O jongo é uma dança atávica. Pertence aos pretos velhos escravos, do povo da cativeiro, e por conseguinte pertence a " linha das almas".

aguardem: O Jongo (2)

4 de dezembro de 2012

Um quilo mais aquilo




Há tempo para tudo. Coexisto com as (in)certezas. Às vezes sinto um vazio "glauberiano" por dentro, que me entorpece. Sabidamente, a lucidez faz sofrer mais. Retirando as viciadas lentes de aumento, o fantasma parece menos assustador. Na fase atual, no balancete da vida, viver é um premio. Melhor viver no Leblon? A conferir. Tive filhos, e não os tenho... pertencimento deles não é meu, como Khalil Gibran vaticina nos seus aforismas, que os filhos são do mundo. Há seriíssimas controvérsias. Distanciei-me pela dor... e aqui não se dá o (des)encontro das águas, Não importa onde estou, pode ser nas margens do rio Itabapoana, Ipanema ou na Croácia. Onde estou há escassos episódios indicativos, de que é possível estabelecer fluídas relações, e algumas conversas-fiadas com os moradores, e também com os frequentes ciganos, que faz-me lembrar da infancia. Dentro das reminiscências, vem-me o som do violão de Django - Reinhardt, Jean Baptiste (1910/1953) - guitarrista cigano-belga, tido como um dos virtuoses desse instrumento, e lhe faltava um dedo. Jamais havia ouvido falar de Django. E o mestre da música erudita, Artur da Távola também, o que é compreensível. Fiquei intrigado, pois achei que Django era uma farsa, enfim, um "fake". E fui à cata de um disco de Django. E fui na então loja, Modern Sound em Copacabana. E lá encontrei alguns discos. Numa zona de (des)confortável, para compensar, parece que há algo leve no ar, feito um falcão planando dentro de uma providencial corrente de ar. E viajo silente junto ao falcão, igual aos passarins, que na "muda", não cantam, contudo pelas plumagens, encantam. O existencial ermitão declarou que só acontece "o agora", e só. E nada mais. Então, pode ser uma pintura que só o autor identifica. Uma obra-cabeça. No mais, pode ser "um quilo mais aquilo, não é nada disso...eu quero é, botar o meu bloco na rua", como versejou e cantou o poeta Sergio Sampaio.