21 de dezembro de 2009

Bebeto Leite, 70 anos

Dar partida a uma parcial biografia de um personagem, não é das tarefas, a mais complicada, porém em se tratando de um amigo de alta patente, e que viveu no melhor Rio de Janeiro, cidade-gêmea da altiva Mimoso do Sul, torna-se-á bem mais difícil. Tudo, ou quase tudo se passou nos anos sessenta. O Presidente da República era  JK, o simpático Juscelino Kubicheck, mineiro de  origem tcheca. O governador do Rio de Janeiro, o  empreendedor - Carlos Frederico Werneck de Lacerda - E para coroar, o belíssimo presente dado ao mundo por Tom Jobim e Vinicius de Moraes: a música Garota de Ipanema. É a terceira música mais tocada no mundo fonográfico. Nessa mesma década, inaugura-se o MIS - Museu da Imagem e do Som, e a Sala Cecilia Meireles, e "de quebra" a canção: "A banda", que  é uma  "música-de-banda de música", começou a projetar o então imberbe Chico Buarque. E outro frisson é o biquini de praia, aparecendo primeiro, nas areias de Ipanema. A autora dessa ousadia, foi a irrequieta atriz Leila Diniz.E Bebeto Leite lá estava.
Um momento fértil nas revoluções nas artes em geral, evidenciando-se na música popular brasileira, ocorridas no Rio de Janeiro. E o condado de Mimoso do Sul estava representado por uma testemunha ocular, como dizem os historiadores, nada mais do que Bebeto Leite. Que ennquanto funcionário do Banco Nacional, "agencia-Ipanema" , no coração da bossa-nova.
Bebeto Leite frequentava os lugares da moda, onde estava a boemia. Desde a boite Arpège, onde "sentou praça" o maestro Tom Jobim, a bordo do piano Essenfelder.  No Arpège cantava uma constelação, a saber: Dolores Duran, Johnny Alf, Lucio Alves, Maysa entre outros. Bebeto Leite vivenciava todos esses processos e eventos culturais, pois carregava na sua alma a emoção de estar plenamente contextualizado nesse então caleidoscópio das artes. Uma minoria teve esse privilégio único e quase inenarrável. Bebeto Leite frequentava as casas notívagas, onde a música era sempre ao vivo. No centro do Rio, o point era na tradicional rua sete de setembro, num aconchegante bar-musical conhecido como Chamego do Papai. Sob a direção do casal Libania e Tomé.
Nesse local se reuniam poetas, cantores e compositores, que davam as famosas canjas. Bebeto Leite, sempre amigueiro, conquistou a amizade de um grande violonista e compositor chamado - Américo de Macedo, hoje morador em São Fidelis.
E a dupla se formou e compôs algumas músicas, e dentre elas, cujo o título é -Amarguras não - letra de Bebeto Leite e a música de Americo de Macedo. Essa música foi gravada por aquele que foi considerado " um dos maiores fenômenos da música romantica brasileira " - A l t e m a r D u t r a. Essa afirmativa,  consta no Dicionário Ilustrado Antonio Houaiss da Música Popular Brasileira - Criação de Ricardo Cravo Albin. O prelúdio das composições musicais estão quase sempre atreladas a uma uma inspiração.  Talvez uma conquista ou quem  uma desilusão amorosa. Bebeto Leite permanece se  quando lhe indago sobre a matéria. O leitmotiv, o fio condutor do poema, que se tornou música, eí-la os seus versos : "Amarguras, não"
Tu me deixastes aqui tão só /sozinho com tão grande dor /quanta esperança destruistes em mim /Vida tão cheia de luz/ eu encontrei em ti /esse presente eu vivi /sem no futuro pensar /Quero encontrar um novo amor /viver a vida que sonhei /amarguras não /quero ser feliz.
A poética dessa canção foi escrita no Arpoador, num tugúrio urbano de nome " Mau cheiro ", após o sucesso de "Amarguras não " esse local, coincidentemente se transformou n'O Barril 1800, um ponto turístico internacional do Rio. Bebeto Leite digo Carlos Alberto Gomes Leite, depois de conquistar régua e compasso, resolveu retornar em definitivo, para estar junto ao seu pai - é a volta do filho pródigo. De quando em vez Bebeto Leite voltava a rua Voluntários da Pátria em Botafogo, Leonice mãe dele. A sua trajetória de vida continuou num rítmo de acordo com a cronologia dos fatos, e resolve após uns poucos anos em estado celibatário, a se unir a Malu Silva, que é filha de um saudoso seresteiro de voz maviosa e harmônica, hors concurs. E se chamava Jair Silva,  Bebeto Leite era amigo  dele. E quando se dirigiu ao seu futuro sogro, e meio que encabulado,  imagino. Disse-lhe assim: quero me casar com a  Malu, sua filha. O pai dela foi acometido por uma pequena arritmia cardíaca. Desconcertou-se e não acreditou no pedido daquele que se tornou um paradigmático amigo e conselheiro. E Jair Silva, disse-lhe um sonoro : não. O tempo, senhor da razão, foi acendendo as lamparinas da sensatez em ambos.  A união se confirmou e o casal foi premiado com quatro exemplares filhos e uma princezinha, que herdou o simpático o nome de Francine. Bebeto Leite trilhou os caminhos que a vida lhe indicou, deixou algumas dezenas de vezes que a emoção o inebriasse, e  tomasse-lhe  a alma e o coração, até quando permitiu. Eclético, pragmático, seria necessário uma mais profunda exegese para discorrer mais sobre Bebeto Leite. Êle intuiu, e se pautou por vários pressupostos de conduta de vida.Destaque para essa filosofia da poética : É melhor ser alegre que ser triste / alegria é a melhor coisa que existe / É assim como a luz no coração. Essa é a primeira estrofe do Samba da Benção de Baden Powel e Vinicius de Moraes. O Poetinha, assim vaticinava.
Bebeto Leite construiu uma bela família, exerceu democraticamente a bíblica missão de ser pai, e está sempre a sorrir, e criando neologismos, como  "locutável", porém não exerce a vocação radiofonica. Incorporou parte do modus-vivendi dos cariocas, fruto da sua longa e profícua convivencia com o bom humor daqueles que respiram o Rio de Janeiro. É um cidadão cosmopolita, vive o seu dia-a-dia compreendendo o dinamismo das mudanças do mundo, ajustando as pedras no tabuleiro do xadrez da existencia humana. Bebeto Leite enfrentou e venceu as mais graves vicissitudes que lhe foram apresentadas, e não esmoreceu nos momentos mais agudizados. Creio ainda ser um autêntico existencialista em recesso. Para encerrar, ou melhor,  intervalar a cronica, se me permitem, estou a citar Mário Quintana - escritor gaucho, que ditou esse diamante literário : Amizade é um amor que nunca morre.
Parabéns Bebeto Leite. Foram setenta anos com mais alegria. E mais e mais anos, ainda serão comemorados.