27 de agosto de 2012

Eros não brinca em serviço

Ouso a discorrer sobre o Amor, enigma (in)decifrável. A sensibilidade de cada um, lhe canta em prosas, e em todos os versos, desde a paciencia paradigmática de Penélope na Odisséia, quando esperou Ulisses, até a dramaturgia shakespiriana, representada na história de Romeu & Julieta. Isso torna o tema indicado para ser compartido, como tem sido feito, quase que universalmente. Conjectura-se, de que a origem do mundo está na Noite e no Vazio. A Noite engendra um ovo, do qual sai o Amor, ao passo que a Terra e o Céu são formados das metades da casca partida. Na mitologia grega, Eros deus do Amor, tem muitas genealogias, contudo mais frequentemente é considerado filho de Afrodite e Hermes. Segundo Platão, n’O Banquete, Eros possui uma natureza dupla, podendo ser filho de Afrodite Pandêmia, deusa do desejo brutal, e de Afrodite Urânia; que é a deusa dos amores etéreos. Esse mais acolhido na sociedade judaico-cristã-ocidental. Num outro sentido simbólico, Eros, pode ter nascido da união de Poros(Recurso) e de Pênia( Pobreza, penúria), porquanto ele está a um só tempo, sempre insatisfeito à procura do seu objetivo, e eivado de malícias para alcançá-lo. Muitas das vezes, está representado como uma criança ou um adolescente alado, nu porque encarna um desejo que dispensa intermediários, e não saberia se esconder. O fato do Amor ser uma criança, simboliza inexorávelmente a eterna juventude de todo o amor profundo, todavia, também sua irresponsabilidade poderá se fazer presente. Essa, e outras interpretações míticas e/ou místicas atravessam séculos até aos dias atuais, e segundo o poeta Vinicius de Moraes... “ o amor posto que é chama é infinito enquanto dura... “ Uns clamam, outros declamam a ausência do amor, em todas as artes. Há àqueles que escamoteiam desistir, mas estão atentos as manobras do filho de Afrodite. Sei de um; que resistiu até quando pôde...e se retirou para as montanhas, e se internou num monastério budista. E por lá se hospedou por longos dez anos; aproximadamente. Até o dia em que o “dalai lama” local , o escalou para uma viagem ao Tibete. O gajo, aceitou a missão em respeito aos rigorosos dogmas da filosofia zen-budista. Com trajes típicos da tradição herdada do seu líder Sidartha Gauthama, ou seja; estava de túnica-laranja, cabeça raspada, e uma minúscula mecha de cabelo, e assim embarcou no aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro, numa aeronave de bandeira marroquina. Durante parte do vôo, o avião balançou bastante, ao encontrar-se com pesadas nuvens acumuladas de chuvas, que o comandante pelo serviço de alto-falantes, as chamou de c.b, ou cumulus nimbus. O jovem monge não se abalou com a turbulência. Manteve a serenidade de um Hare Krishna. A muçulmana comissária de bordo, com elegância, inquiriu-lhe se poderia sentar-se ao seu lado; pois estava trêmula de medo. O monge prontamente aquiesceu o pedido e entabularam um diálogo. Anos mais tarde, tomei conhecimento da união de ambos. Até onde fiquei sabendo; o casal teve dois filhos, e residiam numa paradisíaca praia nordestina do Brasil. Ele é professor de Tai-Chi-Chuan; ela ensina dança árabe. Eros não brinca em serviço. Eis uma das odes atribuídas ao grande poeta lírico grego do século IV a.C., Anacreonte:

Um dia, lá pela meia-noite,
Quando a Ursa se deita nos braços de Boieiro,
E a raça dos mortais, toda ela, jaz, domadas pelo sono,
Foi que Eros apareceu e bateu à minha porta.
"Quem bate a minha porta,
E rasga meus sonhos?"
Respondeu Eros: "Abre", ordenou ele;
"Eu sou uma criancinha, não tenhas medo.
Estou encharcado, errante
Numa noite sem lua."
Ouvindo-o, tive pena.
De imediato, acendendo o candieiro,
Abri a porta e vi um garotinho;
Tinha um arco, asas e uma aljava.(*)
Coloqueio-o junto ao fogo
E suas mãos nas minhas aqueci-o,
Espremendo a água úmida que lhe escorria pelos cabelos.
Eros, depois que se libertou do frio,
"Vamos" disse ele, " experimentemos este arco,
Vejamos se a corda molhada não sofreu prejuizo".
Retesa o arco e fere-me no fígado,
Bem no meio, como se fora um aguilhão.(**)
Depois, começa a saltar, às gargalhadas:
"Hospedeiro", acrescentou, " alegra-te
Meu arco está inteiro, teu coração, porém, ficará partido".

(*)estojo das flechas
(**) ponta de ferro perfurante









13 de agosto de 2012

Il capo

A Fiesp – a poderosa Federação das Industrias de São Paulo, calculou entre cinqüenta e oitenta e cinco bilhões de reais, que são as perdas anuais no Brasil. Há no ar um índice de percepção da corrupção. Inclui-se nesse ralo as sonegações de impostos. O Brasil é o quarto em volume de dinheiro depositado nos paraísos fiscais espalhados pelo mundo afora. Carlinhos Cachoeira, comanda a sua máfia há dezessete anos, impunemente. E corrompeu trinta e oito autoridades, de todos os níveis. O mensalão, pelo número de envolvidos, num total de trinta e oito suspeitos, só tem similitude com o julgamento de Nuremberg. O procurador geral da república, os acusa de terem desviados, cerca de cem milhões de reais dos cofres públicos, para persuadir os parlamentares a votarem a favor das matérias do executivo federal. Esses atos ilícitos acontecem em todo o mundo. Os asiáticos, quando surrupiam verba pública, praticam o suicídio, ou suas mãos amputadas, ou fuzilados. No ocidente, a pena de morte não existe para àqueles que enveredam para essa tipicidade de crime. Somente morrem na cadeira elétrica, ou com uma dose letal de veneno direto na veia, àqueles culpados de crimes de morte, genocídios e outros. O crime do “colarinho branco” é poupado da pena de morte. Os países abaixo da linha do Equador, pelas diversas razões antropológicas, e ou sociológicas e mais outros “leitmotivs” indicam uma larga ausência de punição. Destaque para os criminosos mais abastados que contratam luminares da “advocacia de plantão” para defendê-los. Há severas suspeitas, de que esses causídicos percebam seus honorários da cornucópia adquirida, na malversação dos recursos do erário público, pelos seus próprios clientes. A "ética" não lhes permitem a questionar a origem do vil metal. Há no ar uma pergunta, que não quer se calar: Quem é “il capo" de Carlinhos Cachoeira?

1 de agosto de 2012

Grinalson, Inglaterra e as Gerais



Apreende-se com o mestre e escritor Grinalson Medina, no seu livro “Páginas da nossa terra” que o primeiro posseiro, com ar de feudalidade, a se assentar nas alterosas de São Pedro do Itabapoana, no sul capixaba, foi o mineiro Francisco José Lopes da Rocha. Ele aportou na região no dia primeiro de setembro de 1837. Tomou posse desde a fazenda da Barra, Altos de São Bento, Altos de Conceição de Muqui, e fixou sua residência, num lugar conhecido como Santa Cruz. Os índios não o aceitaram de bom grado. E uma comissão formada de índios já aculturados, liderados por Venancio, tendo com seus lugares-tenente os puris João e Natividade; intimaram-no a escafeder-se do local, pois estava alterando os costumes nas terras indígenas. Eis uma justificativa modernosa, ainda no Brasil-colonia. Francisco José Lopes da Rocha era um individuo corajoso, e resolveu partir para o enfrentamento. Alegou que havia requerido as terras dessa sesmaria na Corte. Não houve saída e o conflito foi inevitável. O posseiro foi ferido com uma flechada, e se tratou com toucinho cozido, colocado sobre o ferimento. Depois foi se curar em Campos dos Goytacazes, viajando em lombo de burro até o Porto da Prata, e atingiu o Porto de Limeira e em seguida Barra do Itabapoana e finalmente ao seu destino. Em 1850, chegaram outras famílias, e foram povoando São Pedro do Itabapoana. A esmagadora maioria das famílias, são oriundas do estado fronteiriço das Minas Gerais. Naquele tempo, o império português retirava todo o ouro, e enviava para Portugal, era a “colonização da exploração”, a qual repassava aos ingleses, a quem os portugueses sempre beijaram as suas botas. Alguns historiadores sustentam, que a Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra no sec.18, foi financiada com o ouro brasileiro. Em Minas Gerais, se pagava com a vida, àquele que adentrasse nas florestas mineiras. Era proibido desmatar para morar ou plantar. Nas matas estavam localizadas as jazidas do metal mais valorizado do mundo. Os mineiros, engessados pela proibição, deram início à procura, de uma alternativa para migrarem para outra região. O café viscejava na capitania do Espirito Santo. E escolheram no estado vizinho, a Vila de São Pedro, que pela altitude indicava o plantio da rubiaceae canephora. E por lá se estabeleceram até 1930, quando numa operação relâmpago de guerrilha, apoiada pelo golpe de estado em 1930, mudou-se a sede para João Pessoa, que assim permaneceu por mais de dez anos, e finalmente Mimoso do Sul, para diferenciar de Mimoso, uma cidade no estado de Goiás. Há quem afirme, que esse toponômio (mimoso) foi em "homenagem" a um touro, da fazenda do Capitán José Ferreira, então proprietário de todas essas glebas...