22 de abril de 2009

Doutor José Coelho dos Santos (1863/1923)

Esquecido pelo poder público de passado longínquo, no sul do Espírito Santo, numa senzala nas alterosas da então comarca de São Pedro do Itabapoana, no período cinzento da escravatura, existiu um certo Mestre Silvestre, escravo alforriado, enfim livre das chibatas. Ele veio, quem sabe, das terras angolanas, da distante e espoliada África.

Mestre Silvestre era um pai abnegado e tinha um sonho dourado, e uma feérica  determinação. O sonho desse carpinteiro de igual profissão daquele que é chamado de São José Operário, esse quiçá, poderia ter sido São Silvestre. E a proposta dele  era promover a instrução do seu filho, e precisava poupar suas parcas economias, imagine-se na vigência da pós-escravidão, a abissal dificuldade em realizar tal intento.

A profissão de Mestre Silvestre era uma raridade, e por isso valorada no contexto escravagista. Eis que Mestre Silvestre, repentinamente ficou seriamente doente. A temperatura do seu corpo não cedia, a uma febre que ardia implacávelmente. E por bom tempo permaneceu acamado. Receiava morrer e não conseguir materializar o sonho dele. Era uma ferrenha vontade; e para animá-lo, sabia ser seu filho, por demais inteligente, eis o  mágico leitmotiv.


A esposa, disposta a salvar seu marido, tomou uma decisão: embrenhando-se nas densas matas na busca da sua cura, através da fitoterapia, ou seja, das plantas medicinais. Muitas dessas ervas já eram conhecidas dos negros, pois existiam também na mãe África. Colheu as folhagens e  raízes milagrosas, e preparando-as para o marido dela.. Ele, gradualmente foi se restabelecendo, e após algumas semanas já estava de pé.


escravidão

Credita-se a sua cura, a essa rudimentar terapia, contudo eficaz. Os escravos doentes eram desprezados e morriam à míngua, pois o senhor-do-engenho não cuidava da enfermidade deles, por razões financeiras. Os historiadores atuais, pesquisando esse período, chegaram à conclusão que um escravo, pela evolução monetária, custaria hoje a cifra de R$10.000,00 (dez mil reais).

O jovem filho inicialmente foi estudar numa escola regular junto ao Porto de Limeira, às margens do majestoso rio Itabapoana, onde o mesmo é a fronteira entre o Espírito Santo e o Rio de Janeiro. O filho do Mestre Silvestre resolveu desafiar o seu próprio destino e submeteu-se aos testes na Escola Nacional de Medicina - aprovado brilhantemente - logrou-se em ser o primeiro aluno, e nessa condição arrebatou o então disputadíssimo prêmio Torres Homem. Graduando-se, retornou à terra natal, e em São Pedro do Itabapoana clinicou durante um longo período. Conquistou diversos cargos no Legislativo, tendo sido Vereador e Deputado Estadual por duas vezes, e ocupado a Presidência da Assembleia do Estado do Espírito Santo, e nessa condição foi Governador do Espírito Santo.

Um filho legítimo de escravo alforriado, chegou ao mais alto cargo do poder público estadual. Anos mais tarde mudou-se para a cidade vizinha - Campos dos Goytacazes - pois seus filhos lá estudavam. Nessa cidade exerceu a profissão plena de médico, tendo se destacado no combate à epidemia da peste bubônica, que se sucedeu a uma caudalosa enchente em 1909. Pela sua inequívoca inteligência e valor profissional, foi convidado para ser membro da hermética Academia de Medicina da França. Tal qual o famoso compositor de música erudita Wolfgang Amadeus Mozart, pertenceu aos quadros da Loja Ordem e Progresso, de ascendência maçônica, na cidade de Campos dos Goytacazes, onde repousa eternamente.

Toda essa trajetória vitoriosa foi um milagre forjado nas lágrimas e no sangue dos ancestrais. Curiosamente, na infância e juventude, residi na rua que leva o seu nome, sem jamais saber de quem se tratava. Um sobrevivente das trevas do maior trauma social da história do Brasil. E a biografia desse cidadão brasileiro continua eclipsada. Talvez propositadamente, por vontade das elites carcomidas pelo tempo. Um inconteste luminar, esse Doutor José Coelho dos Santos.

Bibliografia:
Mimoso do Sul - "Um Municipio em Revista de 1951"
Autor: Newton Braga - Cach. do Itapemirim
São Pedro do Itabapoana - "Páginas da nossa terra - 1534 a 1931"
Autor: Grinalson Medina
Publicação da Loja Maçônica - "Ordem e Progresso" - Campos dos Goytacazes-RJ
Título: "1808"
Autor: Laurentino Gomes
Editora Planeta - RJ
"Dicionário Grove de Música"
Autor: Stanley Sadie
Editora: Jorge Zahar RJ
Loja Maçônica Progresso - Campos dos Goytacazes - RJ
Agradecimento especial ao Ex-Presidente da Câmara dos Vereadores de Mimoso do Sul (ES) - Jorbano Almagro

Gilberto Freyre...



O Brasil ainda está por fazer, porém algumas viagens reflexivas poderão ser empreendidas ou não. O Brasil foi descoberto em 1500, Michelangelo Buonarroti (1475-1564) já estava com 35 anos de idade.  Em andamento estava a  construção da Capela Sistina, situada no Palacio Apostolico, residencia oficial dos Papas. Ou outras razões editadas e reeditadas que cada um de nós sabemos de cór e salteado.  Existem dúvidas no ar, na terra e no mar.  Destaco uma velha e atual pergunta,q ue não quer se calar : Porque ainda não conseguimos ser uma nação desenvolvida? Somos exportadores de bens primários, esse extrativismo até quando a terra vai suportar ?  Por que ainda somos um país "periférico"? Por várias e inúmeras justificativas equilibradas ou não, muitas ocas e indiferentes, acrescenta-se, o agravante, que como consequencia, somos carentes das tradições, neste e em outros pontos somos, aprendizes,neófitos, onde há muitas estradas para serem  percorridas. . Uma das mais mais arrazoadas justificativas, é creditado  a ausencia de uma política pública educacional e permanente, nunca  praticada ao longo da nossa história. Os exemplos do exterior devem ser mencionados, mesmo se apurando abissais diferenças, algum saldo positivo há de permanecer. Ouso citar a França, talvez, por ser um país de normas, pelas quais todos os franceses devem se alinhar-se. Os  ditames estão também vinculados ao sistema escolar, essa praxis, dá um certificado-padrão e básico de conhecimento, que é compartilhado por todos. A este padrão, incluem-se os clássicos da literatura francesa. É um indicativo de uma política educacional, que  está dando certo desde a gloriosa Revolução Francesa. Mesmo sendo a cultura uma instancia subjetiva, muitas das vezes ela se apresenta de forma cristalina, translúcida quando é abordada de frente, sem tergiversações, sem  prolegômenos.  A nossa realidade, quer na literatura ou quiçá na arte culinária, ainda estamos e permaneceremos por alguns anos no final da fila. Na primeira citação, ou seja no setor literário, somente cinco ou seis países latino-americanos - todos de linguas hispanicas - conquistaram o Premio Nobel de Literatura, quanto a segunda abordagem, a nossa culinária de origem luso-afro-indígena, vai se afirmando muito acanhadamente, enguanto na França, somente o queijo  Rockford existe há mais de quatrocentos anos,  sendo  a sua receita guardada a sete chaves. O manejo culinário é transmitido de geração em geração. Eis um processo  cultural consolidado, que atravessa séculos e mais séculos.  Sem medo de errar, me permito a afirmar, que precariamente conhecemos a  história, e os sábios dizem : infeliz do povo que não conhecer a sua história, pois, ao repetí-la, será sempre uma farsa ! E para subtrair as nossas esperanças, carregamos um vampiresco pesadelo, a mais traumática página social do Brasil - que foi a a escravidão. Foi   a última a ser abolida em todo o mundo. Essa é a genuina  dramaturgia brasileira. E os nossos ícones, onde eles estão?   Será que somos um povo sem memória ? Eles continuam ocultos, pois não se enguadram nos critérios da burguesia. Baluartes desconhecidos e/ou escamoteados da esmagadora maioria.  Faz-se  necessário relatar, mesmo que seja parcialmente o passado, a via crucis da escravatura.  Milagres nunca foram registrados naquela época. Somente para ilustrar, a Igreja Católica - santa e pecadora - era omissa e aliada dos senhores torturadores do engenho, como bem relata Gilberto Freyre na sua biblia sociológica - Casa Grande e Senzala - escreveu o Mestre Gilberto Freyre : " O senhor-do-engenho mandou matar dois escravos e enterrá-los, para que servissem de alicerces da casa ".Isso me bastou.

FRASE DO DIA

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" EU SOU EU E MINHA CIRCUNSTANCIA "

JOSE ORTEGA Y GASSET - Filósofo espanhol

18 de abril de 2009

FRASE DO DIA

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" ESTUDA O PASSADO,SE QUISERES ADVINHAR O FUTURO "



CONFUCIO - 551-479 A.C.

17 de abril de 2009

O banco e a lavagem

Na ausencia de uma agencia de um certo banco onde me encontrava,viajei para a cidade vizinha na busca de uma sucursal dessa instituição financeira,para efetuar um pagamento.Chegando bem cedo,sentei-me e fiquei a observar o movimento de pessoas e veículos,curiosamente,impressionou-me os nomes dos bairros estampados na parte frontal dos ônibus,e imaginei o significado etimológico e histórico desses nomes,alguns ainda me lembro,como Baiminas,seria uma aliança mercantil entre os estados da Bahia e Minas Gerais,em pleno Estado do Espírito Santo ? Vila Rica,esse é um outro bairro,essa Víla já foi outrora rica,ou uma lembrança da Vila Rica imperial e mineira ? Ilha da Luz,talvez vincula-se a produção de energia ou não é nada disso,ou quem sabe são as luzes da ribalta ?
Carone,Coronel Borges,Aquidabã e tantos outros entretantos ! Solta-me aos olhos uma simplória homenagem,àquele que foi jornalista-correspondente na Segunda Grande Guerra Mundial,foi embaixador no Marrocos,consul no Chile de Pablo Neruda - poeta e premio Nobel de Literatura,perseguido político no governo Vargas(Estado Novo)e também durante a ditadura militar instalada em 1964,e que durou 18 longos anos,foi o primeiro a hospedar Dorival Caymi no Rio de Janeiro,considerado como "o pai da cronica brasileira" - o jornalista e escritor Rubem Braga !
O Poder Público fez-lhe uma homenagem,ainda está a merecer mais ! Deu seu nome a um bairro da cidade que tanto amou e divulgou por onde passava,deixava sua marca de cachoeirense !
Talvez esse bairro recôndito,discreto e habitado por pessoas simples,como gente humilde na letra da música de Garoto e Chico Buarque,teria inspirado em Rubem uma belíssima cronica ! Talvez as crianças desse bairro devessem saber quem foi o homem ,o personagem que elas pronunciam ao serem questionadas em que bairro habitam ? Respondem : Rubem Braga !
Talvez esse personagem homenageado pudesse inspirar as autoridades,e em cada escola(ou pelo menos numa única escola !) uma simplória biblioteca com livros variados,alguns à moda Bertold Brecht : imprescindíveis ! para,também conhecerem a sua própria história !
Mas o tempo é implacável,foi passando, e absorto a essas divagações,tive que entrar no banco comercial,e atencioso a parafernália cibernética conhecida como terminal,pressionando teclas e enfiando e retirando o cartão magnético,ora corretamente,ora erradamente...ora os filetes infra-vermelhos não processavam o código de barras... repetia sofregamente a operação... até que senti meus pés frios e úmidos,olhando para baixo,percebi que estava dentro de uma poça de água com sabão,tudo muito escorregadio ! Olhando ao derredor vi uma mulher,fingindo desconhecer a minha presença,empunhava uma vassoura e pano de chão e num canto da parede, um balde de água-e-sabão a esfregar o chão ! Exclamei : Estou fazendo uma operação bancária e não posso permanecer pisando nesse piso com água e sabão,podendo tomar um tombo ! A senhora deve parar de fazer isso ! disse-lhe energicamente !
Respondeu-me a senhora:Não posso parar,pois ontem não foi possível fazer a lavagem,estou fazendo agora !
Nada mais me restava, não ser pedir ajuda ao gerente,engravatado,posudo com uma expressão auto-referente,como diria há tempos atrás : um verdadeiro lacaio do sistema !
A contragosto solicitou a senhora que interrompesse a lavagem - menos mal ! Dessa vez não foi de dinheiro !

FRASE DO DIA





" QUEM NASCEU PARA RASTEJAR, NÃO SABERIA VOAR "



Maximo Gorki - " O canto do falcão "

16 de abril de 2009

FRASE DO DIA




" TELLUS SUPERATA, SIDERA DONAT "

"dominada a matéria, ele cria as estrelas "


Frase na lápide de Georg Friedrich Handel,na Abadia de Westminster 1759 - autor : Boécio-filósofo e músico do sec VI.

11 de abril de 2009

FRASE DO DIA

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NÃO MERECE O DOCE, QUEM NÃO EXPERIMENTOU O AMARGO

" dulcia non meruit qui non gustavit amara "

E R A S M O - 1469-1536 - adágios