Parsival chegou na casa
da Dona Clara, acompanhado do esposo dela que atendia pelo apelido de Gemiano, herança da sua avó, a robusta e respeitada Gimiana. Quando Getulio morreu em 1954, com um porrete nas mãos exigiu que os comerciantes(alguns udenistas) cerrassem as portas das lojas. A sala da casa bem iluminada, ostentava uma
pós-moderna aparelhagem de televisão
ligada na novela das oito, que começa às nove horas da noite. Escarrapachado no tapete, um grande cachorro, também participava do convívio familiar. Parsival ao chegar
na casa de Gemiano saudou a família com
um cordial – boa noite – infelizmente não foi correspondido. Repetiu a
gentileza, e outra vez não foi bem sucedido. Parsival sentou-se no canto da sala num
tamborete, e nada mais falou. Gemiano entrou no clima e passou a assistir também a novela, cuja pergunta entre os assistentes era:
Quem matou Odete Rothman? Parsival, homem de hábitos simplórios, continuou
silente assistindo a novela. Num momento inusitado o cachorro latiu alto! Como se desse uma ordem aos tutores dele. E todos quase unânimes falaram: Antonio
está com fome! Gemiano, dê ração ao Antonio (era o nome do animal), bradou Dona Clara para o marido. Gemiano respondeu que somente atenderia a ordem matriarcal, quando do intervalo. A novela acabou, Antonio recebeu a ração e Parsival continuou ignorado.
26 de abril de 2015
17 de abril de 2015
Carta a um amigo
A arguta exegese do douto advogado, é uma bela defesa do
sistema capitalista, o qual " está dando certo", mesmo registrando
uma desigual e perversa distribuição de renda. Karl Marx argumenta que somente a força da
economia de mercado, sequer mitiga a miséria humana. As tinturas socialistas na
prática existem há mais de 100 anos nos países escandinavos, sob o manto da
social-democracia, na qual é compulsório pagar mais impostos àqueles que lucram
por demais, cujo objeto é financiar os consolidados e legítimos programas sociais. Os
experimentos sociológicos ocorridos em Cuba, na área da educação e saúde são
reconhecidamente meritórios, contudo a ausência de liberdade na ilha cubana, é
lamentável. Em contraponto a prisão de Guantánamo, é uma pedra no sapato para o
governo norte-americano, pois fere o mais elementar pressuposto dos direitos
humanos. Quanto a ex-União Soviética e os países do Leste Europeu, no plano dos direitos humanos, ambos os blocos, contabilizaram um total desrespeito aos mais elementares direitos do cidadão durante longos anos. Nas franjas do paradoxo, ressalte-se que morreram 25 milhões de russos no combate travado na Segunda Guerra, durante a gestão do mais perverso ditador russo - José Stálin - e depois
vergonhosamente eles dividiram (Roosevelt+Churchill e Stalin) a Europa entre
eles, como uma ação entre amigos. Em nome da sua respeitável
intelectualidade resolvi me manifestar. Vivemos sob à égide do capitalismo,
pois até o momento, nada se apresentou, contudo acredito na evolução da
história, e por isso acredito que o sistema está se exaurindo...como exauriram
os impérios de Genghis Khan e o de Roma. Deixo-lhe a minha admiração pela sua
augusta pessoa.
13 de abril de 2015
São Jorge guerreiro
São Jorge é da Capodócia, que fica na atual Turquia. Todavia São Jorge pertence aos brasileiros, ingleses, russos, portugueses e de tantas outras nações do mundo. A crença de São Jorge aqui chegou pelos portugueses, e por imposição se transformou na Bahia de Jorge Amado, pelos braços dos orixás do candomblé, incorporado em Oxóssi, e pelos pretos velhos da umbanda no Rio de Janeiro é Ogum. É o sincretismo afro-brasileiro dentro do misticismo, que é um mix das crenças, as quais se debitam aos colonizadores que impediam os escravos cultuassem a mística deles trazida da mãe África. São Jorge é conhecido como Santo guerreiro. Na República da Rússia é padroeiro e a imagem dele está brasão nacional, tal qual na Inglaterra, no pavilhão britânico. Em Portugal o Castelo de São Jorge é uma das atrações de Lisboa. As homenagens destacam-se em personalidades importantes, como George Washington, primeiro presidente dos Estados Unidos George Orwell, famoso escritor, e o compositor teuto-ingles George Handell. E por aqui nas terras puris, o craque de futebol, George Vigneron. Há quem afirme que São Jorge ressuscitou trezenos mortos e salvou a filha de um rei das garras do dragão, na cidade de Selem na Líbia. São Jorge foi preso e torturado e depois decapitado, no dia 23 de abril de 303, que é feriado no Rio de Janeiro. Salve São Jorge guerreiro, saravá !
9 de abril de 2015
O homem de óculos escuros
Raras foram às vezes, que pelo meu trajeto não encontrava na beira da estrada, o homem de óculos escuros. Sentava-se sob o alpendre de uma pequena casa meio colorida, sob o signo de um branco barroco e um azul colonial. Ele remetia-me sempre a impressão de que era um observador do mundo, no seu cockpit. Mesmo nos dias nublados, crepúsculos ou de sol
inclemente, lá estava ele portando as lentes escuras. Será porque nunca o vi sem os
óculos escuros? Será que era um artifício para ocultar a identidade dele? Um fugitivo que se evadiu de algum presídio? Ou não era nada disso. Simplesmente poderia ser um costume dele. Ou quem sabe, se esses óculos escuros faziam-no ver o verde mais verde? Ou esses óculos eram
para contrapor a lucidez que lhe
perseguia? Notei, que ao passar de carro, nunca também o tinha visto caminhar. Pensei por diversas vezes em conversar com ele. Não sabia como justificar a
mim mesmo essa atitude. Invasão da privacidade, saber por
que ele sempre usava óculos escuros?
Mesmo nos dias nublados e ou chuvosos. Resolvi não ir ao encontro dele, a ansiedade foi dominada. E por canais de comunicação no campesinato, tomei
conhecimento que o homem de lentes ray ban é cego. Tantas viagens nas asas do imagético.
3 de abril de 2015
A mediocridade está à solta
Num canal de televisão assisti a entrevista
do escritor Heitor Cony. Na
ocasião afirmou que apreciaria de ter feito um voto de silêncio, tal como
alguns monges. Acrescentou que se acontecesse, além de estar emudecido, não desejaria ouvir nada, tal qual um religioso no mosteiro próximo a Perugia, norte
da Itália, que há trinta anos não ouvia a voz humana. E finalmente informou que foi seminarista por
dez anos, e que ninguém merece a salvação. Afirmações de alto teor filosófico
partindo de um intelectual de escol, como o entrevistado, remetem-se a conjecturas escutando os respeitadíssimos teólogo Santo Agostinho, e o pensador
alemão Frederico Nietzsche. Quanto a salvação,
me inclino a estar de acordo com a assertiva do escritor, pois o legado da
miséria humana – que as crianças ainda não percebem – é bicho feio, segundo o livro - Memórias de Brás Cubas - de Machado de Assis. Como merecer a remissão dos pecados, se na porta da igreja, templo, mesquita ou congá um mendigo
pede pão, e todos dissimuladamente ignoram-no? Não ouvir nem a própria voz num
voto de renúncia à convivência humana, é uma decisão que corta na carne, tal
qual despojar-se dos bens materiais para servir ao próximo, igual fez Tereza de Calcutá, uma raríssima e exemplar atitude. A mediocridade está à solta.
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