8 de março de 2020

Afrodescendentes


Uma   missão quase impossível escrever sobre a escravatura no Brasil. É considerada o maior trauma social e histórico do nosso país. Tive uma experiência,  reveladora, quando tentei pesquisar a vida de Izidoro Machado, meu avô paterno. O genoma paterno é   afrodescendente,  segundo os laboratórios da Heritage, ascendo dos nigerianos e quenianos, além dos ibéricos, leia-se lusitano.  Dei inicio a pesquisa, pois sabia por informação do meu pai, que o Izidoro Machado em 1926,  exerceu profissão de alfaiate na vizinha  Muqui, antiga São João do Lagarto. Na Cidade-Menina  os registros, quer de nascimentos, quer de óbitos, estavam sob o manto protetor da santa e pecadora igreja católica, na comarca de Apiacá. O padre que me atendeu era um holandês, ascendente dos huguenotes. A primeira impressão foi tosca e quase grosseira. Disponibilizou–me um robusto livro de anotações. Vasculhei auxiliado por uma lupa, procurando pelas datas de nascimento e morte. Notei que somente os escravos alforriados, constavam a data de falecimento dos mesmos. Na época da escravatura, uma alforria custava no valor atualizado, em torno de dez mil reais. Percebi que aqueles não-alforriados não possuíam certidão de nascimento ou de óbito. Eram enterrados como indigentes. Faz-me lembrar o aforismo de Joaquim Nabuco (1849/1910) : A igreja católica, apesar do seu imenso poderio em um país ainda em grande parte fanatizado por ela, nunca elevou no Brasil a voz em favor da emancipação.” (sobre a posição da igreja católica em relação a abolição da escravidão no Brasil). Ficou claro que existia uma discriminação praticada pelos fazendeiros, entre os próprios escravos. Lamentavelmente não consegui o meu intento. Voltei de mãos vazias, mas a alma repleta de todas as certezas possíveis, que a escravidão foi tão perversa, pois ainda persiste, em todos segmentos sociais, contudo mitigada.