10 de maio de 2010

Cidade do Panamá !

Do dia para a noite, fui instado, convidado a ir ao Panamá... e fui ! Viajei num vôo noturno por uma empresa venezuelana de nome Viasa, isso aconteceu em 1988 ! A lua, muito me lembro era cheia e a rota era pela selva amazônica, incluindo a parte peruana, e olhando pela janela da aeronave, podia-se vislumbrar um imenso tapete espesso de um verde escuro, essa imagem era formada e iluminada pelos raios de um brilhante luar !
Pouco dormi, pois confesso, estava com medo desse pássaro de metal rasgando os ares tão longe da minha casa. O tempo passou e o avião já estava aterrissando no aeroporto Internacional Simon Bolívar, cujo nome é em homenagem ao libertador do povo venezuelano do jugo espanhol, essa independência se deu há 200 anos. Nesse aeroporto, fiz uma conexão para a cidade do Panamá, com muita agonia e tensão, pois, a locutora que informava no serviço de alto-falante, pronunciava as palavras com muita rapidez e dava a entender, que estava com a metade de um ovo cozido na boca.  Nada entendia. Mais à frente, tomei conhecimento que depois da Espanha, o melhor espanhol falado na América Latina, pertence ao nosso vizinho boliviano. O fato é, que não sei como, mas consegui embarcar num bi-motor da Air Panamá, e em um quarto de hora, o avião descia no Aeroporto Internacional de Tocumen, República do Panamá – em plena América Central -  logo eu, filho de um "schumacher", melhor dizendo de um honrado sapateiro e músico, vindo das terras do alto Alegre, e de uma mãe filha de paulista, ciosa como esposa e mestra para os seus filhos. Distante oito mil quilômetros, do meu tugúrio, da minha  casa.
A saudade,  já justificada geo-politicamente, fui encaminhado para a aduana, na necessária, porém, invasiva aberturas de malas e inconvenientes revistas. Quando coloquei os pés na via pública principal, deparei-me com um ônibus pintado de diversas cores, um verdadeiro carro alegórico de carnaval. O ônibus parou, e um som saiu do seu interior, era um rítmo caribenho, cheio de swuing,t ocava um merengue ! Todos os coletivos  na capital  eram, ou ainda são todos sonorizados. tocam o rítmo deles, não, ouvi nenhum rock and roll. Suas  roupas também são coloridas, tanto as mulheres quanto os homens. Os panamenhos se apresentaram como pessoas simples, alegres e gentis. O Panamá é uma  festa. É uma grande planície, um imenso baixadão, parecia que estava em Campos dos Goytacazes. A temperatura é braba, aliás, toda a América Central é muito quente ! Prédios modernos se misturam com o casco velho da cidade. Muita gente pelas ruas, prá cima e prá baixo. Um frisson.
O taxista levou-me ao hotel onde havia uma reserva, em meu nome.Era um hotel de pequeno porte, aconchegante e seus funcionários muito atenciosos. Durante o percurso da viagem, não tive a oportunidade de estabelecer nenhum diálogo, e ao chegar na recepção da minha nova casa por alguns dias,disse ao atendente : por favor, sou do Brasil, e tenho uma reserva . Não houve tempo de falar o meu nome, quando o recepcionista explodiu de satisfação. E disse em alto e bom som : brasileño !!! Usted es flamengo ? Mira ! Jo tengo una camisa de deporte del flamengo .
Pela manhã, fui ao encontro do café da manhã, e encontrei o refeitório apinhado de gente, e um balcão, repleto de pratos típicos daquele país aconchegante.  A primeira refeição dos  panamenhos é muita farta,  e se inicia pela manhã.  Uma mesa bem sortida: desde a costeleta de porco, e até um feijão de cor castanha, que ao prová-lo, estava adocicado. Com o passar do tempo, percebi, como esses hispanicos,latino-americanos gostam imensamente do Brasil e de nós  brasileiros. Tive uma cobertura de gentilezas por tempo integral. Bastava que eles identificassem a minha nacionalidade, que as perguntas eram na sua maioria sobre futebol e depois sobre Roberto Carlos - nascido no  distrito de Santo Antonio - pois suas músicas eram gravadas nos ritmos locais, a saber : salsa e merengue e rumba.
Outros fatores também influenciam essa interação,o Panamá celebrou há mais de quarenta anos um convenio na área educacional, onde as Universidades federais brasileiras, reservam um pequeno quantitativo de vagas, para os estudantes panamenhos, em especial na área médico-hospítalar.
Naquele  momento da minha vida, exercia democraticamente um mandato sindical, e isso me habilitou, segundo os critérios ora vigentes, a prestar solidariedade a um  movimento de solidariedade internacional, contra a invasão das tropas americanas a este indefeso país. Na realidade eles estavam de olho no rentável canal do Panamá, que estava prestes a encerrar, o seu longevo contrato de exploração.
A invasão foi consumada pelo Presidente Bush e seus mariners em 1989. Nessa ocasião, tres mil panamenhos morreram lutando contra a poderosa nação dos americanos do norte.

Gilberto Machado