27 de novembro de 2014

Itabapoana river



01 de março de 2013



Na parte subjacente da linha do Equador, no sudeste do país e no extremo sul capixaba, outrora nas terras dos índios puris,  surrupiadas em nome da civilização, se impõe como contraponto, a  majestade o rio Itabapoana, que em tupi guarani significa: pedra empinada, conectada com o barulho das águas,  nascendo nas bandas mineiras no maciço da Serra do Caparaó, junto ao Pico da Bandeira, terceiro no ranking nacional, com 2892 metros de altitude. O rio Itabapoana, mesmo tendo sido morta a protetora vegetação ciliar(tal qual os cílios, o  anteparo dos olhos), é receptor de resíduos de agrotóxicos e de esgotos in natura, e cambaleante segue impávido o seu curso. Não suportando perversidades das quais é vítima, nas chuvas intensas,  chora as suas lágrimas em profusão, e as águas sobem, e avisa: refloreste-me enquanto há tempo. Corre celeremente por duzentos e sessenta e quatro quilômetros, formando cachoeiras e suaves curvas. Irriga naturalmente as margens, e possui uma densa piscosidade, oferecendo cascudos, pacus, robalos, mandis, bocarras entre tantos outros. O condado de Mimoso do Sul(ES) teve a sua gênese na Vila da Limeira – em frente a Dona América - com o seu porto, enquanto facilitador na época, para escoar a produção da cana-de-açúcar e em seguida, o café, conduzidos a Barra de São Francisco(RJ). E através das toscas embarcações, esses produtos eram transportados para a então capital, Rio de Janeiro. A Vila da Limeira foi erguida após a invasão dos bravos índios da tribo goitacá, ocorrida na Vila da Rainha, localizada na margem direita do majestoso rio,  na capitania de São Tomé, no estado do Rio de Janeiro. Seu “dono” era Pedro de Góis, que após o massacre, determinou a construção da Vila da Limeira, a seis léguas acima da foz do rio Itabapoana, conforme “Páginas da nossa terra” do autor, Grinalson Medina. O Museu Nacional do Rio de Janeiro, ora pesquisando os vestígios da Vila da Rainha, estimou-se que a sua construção foi por volta de 1536. Tal nome da Vila destruída  homenageia Catarina, na época, rainha da Áustria, esposa de Dom João III, rei dos  portugueses.
Há simbologias sobre os rios que remetem a antiguidade. Na Grécia antiga, na sua respeitada mitologia, os rios eram conhecidos como cósmicos ou celestiais. O Nilo, o maior do mundo em extensão, desde os egípcios é considerado um ícone para o povo dos faraós. O Ganges na Índia  é considerado dadivoso e místico. E o rio Jordão, onde, segundo a Bíblia, Cristo foi batizado por João, que se tornou batista, que na sua etimologia tem origem no substantivo batismo (imersão), dentre tantos outros rios espalhados pelo mundo afora. Na tradição judaica, “o rio que vem do alto, é um rio das bênçãos, e das influencias celestiais”.
Encontrei uma pérola do filósofo grego Heráclito de Éfeso: para os que entram nos mesmos rios, outras e outras são as águas que correm por eles. Dispersam-se e reúnem-se e vem junto, e junto fluem... Aproximam-se e afastam-se. Assim são as águas dos rios e os fluxos da  vida.

24 de novembro de 2014

O astro-rei se escondeu.



Nem sempre a orquestra de pássaros  se apresenta nas manhãs.  Quando se ausenta, poderá ser pela chuva, ou o impedimento do maestro em comparecer para reger imagéticamente a -  “ode a alegria” - último movimento da nona sinfonia de Beethoven. Mais dessa vez as  tratativas foram cumpridas, com os sabiás das laranjeiras, sanhaços, bem-te-vis e  o mais recente filhote do sabiá, debutando na orquestra das aves, que trauteava acordes matinais. Com o maestro presente  a cantata dos pássaros em alto e bom som, entoou cânticos alegres e cromáticos. E de repente, eis que surge o  som tonitruante do sino secular da igreja, a perturbar a orquestra, que por pouco não desafinou. Por fim os acordes se harmonizaram. A chuva fina do outono veio chegando sorrateiramente, e a passarada foi se dispersando ao recolhimento. O grande senhor, casado com lua, o poderoso dominador da luz e do calor, o sol desse mundo - olho e alma -   se escondeu. E com a chuva, não há concerto. Estarei  atento para escutar  mais uma obra  musical, gestada pela mãe natureza.

8 de novembro de 2014

A cigana e a mão esquerda




Compartia  algumas vezes com Olimpio José de Abreu, a mesma mesa do bar que pertencia ao  Hotel Argentina, que fica no Flamengo - Rio de Janeiro, e faziam companhia, Heitor Polo, George Pires Chaves,  Moniz Aragão pai do Jimmy,  Vilmar Soter  e  outros.  Eram tertúlias de agradáveis diálogos.  Numa ocasião Olimpio contou-me que uma cigana quiromante  abordou-lhe no Largo do Machado, e ofereceu-lhe “serviços místicos” para ler a mão dele. Ele perguntou  a “sacerdotisa da quiromancia “ se poderia ler a mão esquerda . A quiromante respondeu-lhe, que a mão esquerda não se lê. Essa narrativa do amigo foi armazenada no -  arquivo implacável da modesta memória desse cronista que lhes escreve – até que deparei-me com uma cigana no mesmo Largo do Machado, reduto de um dos segmentos desses  nômades, que interrompeu meus passos, e de chofre disse-me: posso ler a sua mão? O relato do amigo Olímpio,  como num  apertar de uma tecla imaginária, veio-me a mente a estória da “ sacerdotisa da quiromancia”. Disse a cigana que a mão esquerda estava disponível para ser lida. Ela afirmou que não se lê a mão esquerda. Insisti para saber a razão, em se negar ler mão canhota.  Emudecida se afastou dando por encerrado o diálogo. Perseverei indo atrás dela, para dirimir a dúvida, foi quando num sussurro quase inaudível, disse-me:  a mão esquerda, é a do diabo.

2 de novembro de 2014

A mística e seus apêndices



·         A Igreja católica historicamente sempre esteve aliada a classe dominante, destaque  para o período da Idade Média, onde as monarquias prevaleciam. A Inquisição  promovida pelos católicos assassinou milhares de pessoas, em nome  da manutenção  do poder,  e na defesa de  teses atrasadas. Numa breve pesquisa em nome do frei dominicano o espanhol -  Tomas Torquemada - (1420/1498), descortinar-se-á o fato de ter lançado às fogueiras da Inquisição, cerca de 2200 (dois mil e duzentos) indivíduos entre judeus e muçulmanos. É a ponta de um  " mega-iceberg". Em 1517 frei Martinho Lutero abre  dissidência e cria o protestantismo, contrário a venda das indulgências que  “garantia” o reino dos céus e outras razões. Em 1789 explodia a Revolução Francesa, contra a perversa monarquia e a Igreja Católica. A guilhotina foi amplamente usada contra a realeza, e outros segmentos, inclusive um dos líderes da revolução o advogado - Robespierre - foi decapitado.  Em 1917 a Revolução Bolchevique na Rússia baniu as religiões do território russo, e por fim a Revolução da China em 1949, tomou idêntica  atitude e proibiu quaisquer atividades místico-religiosas nas terras de Confúcio. A história é implacável, os fatos são julgados através do tempo. A proliferação de igrejas neo-pentecostais ( evangelismo massivo) crescem  em abundantes proporções geométricas. Antes eram as indulgências, e no momento é a prática do exorcismo, e a pedofilia. E para finalizar, durante o golpe militar de 1964, o estamento religioso através da imponente CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil -  interferiu - politicamente correto - contra a ausência das liberdades democráticas na vigência da ditadura militar,  alguns outros segmentos evangélicos acompanharam de roldão, o procedimento da igreja católica. Surgiu o mensalão, e seus atores foram condenados por corrupção,  e a Igreja católica permaneceu emudecida. O escândalo da Petrobras promete ser o maior  furto de verba  pública  do mundo, em valores e organização.  Tal qual o passarinho, que na troca da plumagem  não canta, a igreja católica  continua emudecida, tanto quando permaneceu durante os trezentos anos da escravidão brasileira. Contrapõe (parte) da narrativa acima, o  jesuíta Papa Francisco I, que deseja uma igreja pobre, para os pobres. Dever-se-ia buscar uma teologia transcendental, diante da divisão mundial de crenças divulgada pela ONU: 31% cristãos, 23% muçulmanos, 16% sem religião, 15% hindus, 7% budistas, 5% religiões étnicas, 1% judeus e outros. Onde está, ou é o centro?

1 de novembro de 2014

Carlos Drummond de Andrade



Pela genialidade e somente para compartir, Carlos  Drummond de Andrade(1902/1987) - num exercício memorial -  nasceu em  31 de outubro  sob o signo da constelação de Scorpion,  que alumia  a imensidão do solitário espaço sideral.  Drummond  era mineiro de Itabira. É considerado junto com os imortais  Manuel Bandeira e  João Cabral de Melo Neto, os mais importantes da escola da poesia moderna  brasileira. Ao se encontrar com Drummond pelas ruas mornas  do Rio de Janeiro, indo para um compromisso,  assim versejou para o poeta e imortal baiano Antonio Torres -:
 
"Como viver
sem conviver,
na praça
de convites?

Drummond escreveu para a sempre, pois sua obra é de altíssima qualidade literária, com uma fina erudição conjugada com a simplicidade mineira:

 No meio do caminho

“ No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho/ tinha uma pedra/no meio do caminho tinha uma pedra/nunca me esquecerei  desse acontecimento/na vida das minha retinas tão fatigadas/nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra/ tinha uma pedra no meio do caminho/no meio do caminho tinha uma pedra "