3 de abril de 2015

A mediocridade está à solta

Num canal de televisão assisti  a entrevista  do escritor Heitor Cony.  Na ocasião afirmou que apreciaria de ter feito um voto de silêncio, tal como alguns monges. Acrescentou que se acontecesse, além de estar emudecido, não desejaria ouvir nada, tal qual um religioso no mosteiro próximo a Perugia, norte da Itália, que há trinta anos não ouvia a voz humana.  E finalmente informou que foi seminarista por dez anos, e que ninguém merece a salvação. Afirmações de alto teor filosófico partindo de um intelectual de escol, como o entrevistado,  remetem-se a conjecturas escutando os respeitadíssimos teólogo Santo Agostinho, e o pensador alemão Frederico Nietzsche. Quanto a salvação, me inclino a estar de acordo com a assertiva do escritor, pois o legado da miséria humana – que as crianças ainda não percebem –  é bicho feio, segundo o livro - Memórias de Brás Cubas - de Machado de Assis. Como merecer a remissão dos pecados,  se na porta  da igreja, templo, mesquita ou congá um mendigo pede pão, e todos dissimuladamente ignoram-no? Não ouvir nem a própria voz num voto de renúncia à convivência humana, é uma decisão que corta na carne, tal qual despojar-se dos bens materiais para servir ao próximo, igual fez Tereza de Calcutá, uma  raríssima e exemplar atitude. A mediocridade está à solta.