Num canal de televisão assisti a entrevista
do escritor Heitor Cony. Na
ocasião afirmou que apreciaria de ter feito um voto de silêncio, tal como
alguns monges. Acrescentou que se acontecesse, além de estar emudecido, não desejaria ouvir nada, tal qual um religioso no mosteiro próximo a Perugia, norte
da Itália, que há trinta anos não ouvia a voz humana. E finalmente informou que foi seminarista por
dez anos, e que ninguém merece a salvação. Afirmações de alto teor filosófico
partindo de um intelectual de escol, como o entrevistado, remetem-se a conjecturas escutando os respeitadíssimos teólogo Santo Agostinho, e o pensador
alemão Frederico Nietzsche. Quanto a salvação,
me inclino a estar de acordo com a assertiva do escritor, pois o legado da
miséria humana – que as crianças ainda não percebem – é bicho feio, segundo o livro - Memórias de Brás Cubas - de Machado de Assis. Como merecer a remissão dos pecados, se na porta da igreja, templo, mesquita ou congá um mendigo
pede pão, e todos dissimuladamente ignoram-no? Não ouvir nem a própria voz num
voto de renúncia à convivência humana, é uma decisão que corta na carne, tal
qual despojar-se dos bens materiais para servir ao próximo, igual fez Tereza de Calcutá, uma raríssima e exemplar atitude. A mediocridade está à solta.