30 de janeiro de 2010

Cada um, com o seu cada um

Divagando com os fragmentos da memória, desde o Bel Mont até chegar a greco-mimosense Termópilas, antes porém, tomar um café no Feliz Destino, para alavancar forças suficientes, até ao cume das pedras fálicas e quase geminadas dos Pontões...e lá de cima avistar à olho nu, o Atlântico o mais bonito de todos os sete mares. Essa aventura esteve prestes a não se realizar, pois o camarada que inicialmente planejou esse passeio, pensou em formar um grupo de quatro ou mais pessoas, que carregassem um bornal imaginário de conceitos diferentes no campo religioso, nos embates do místico e/ou do mítico. O diálogo iria desde os mistérios divinos até ao materialismo histórico. Dessa maneira se apresentaram as cabeças pensantes de um evangélico pentencostal, e um outro que era evangélico não-pentencostal, um praticante da doutrina kardecista, um católico e um outro individuo que não possuía nenhuma religião, era um livre pensador. Os camaradas não puderam ir à frente, pois o organizador do evento, defendia o direito de ter um representante do sincretismo afro-religioso, ou seja alguém que fosse adepto da |umbanda ou do camdomblé. Esse foi o participante mais difícil de ser encontrado. Essa operação foi complicada,pois mesmo o encontrando, ele se negou a acompanhar o grupo. Os demais membros argumentaram-lhe que deveria se juntar, caso contrário estava a demonstrar um baita preconceito. O camarada depois de ouvir as ponderações do coletivo, resolveu aceitar o convite, e tomaram o rumo. E os "bandeirantes" iniciaram a caminhada pelas estradas de chão e trilhas. As conversas iam se revesando entre os membros, e cada um procedia a observação mais conveniente, desde o flagrante desmatamento, até a beleza do cântico harmônico de um passarim...Outro discorria do desejo de morar num lugar bucólico, tal qual lhe apresentava aos seus olhos naquele instante, enguanto o mais velho da “tropa”, escutava e anotava na sua memória os diálogos entre todos os caminheiros. Atento, verificou-se que até a metade da jornada nenhum assunto sobre religião foi comentado...parecia um laboratório, que os psicólogos e psicanalistas gostam de fazer entre personalidades diferentes entre si. A chuva começou a cair lentamente, ela estava mais ou menos esperada,pois era o mês de março, e não poderia esquecer a frase do poeta Tom Jobim : ...são as águas de março fechando o verão, e a promessa de vida no meu coração. A turma se refugiou sob a guarda de uma árvore bonita e copada, creio uma centenária figueira, um gigante guarda-chuva da mãe natureza.
Após algum tempo, a chuva lentamente foi passando e os caminhantes reiniciaram o trajeto, com alguma dificuldades, pois a mãe terra estava molhada e escorregadia. Depois de algumas horas, uma pausa para “molhar a palavra”, com a água fresca de um manancial localizado debaixo de algumas enormes pedras, quem sabe, eram vulcânicas ? Depois dessa brevíssima parada, certificam-se que o final do trajeto estava chegando, eram mais alguns metros estariam no sopé dos Pontões. Que aponta para os céus com os seus 1200 metros de altitude. A marcha continua, os corpos cansados resistem arduamente e dá-se o início a subida até a cumieira, desse imponente marco geográfico,que outrora, muito auxiliou aos capitães-de-longo-curso ao singrarem os mares atlânticos. A rapaziada chegou ao topo, perto do por do sol...um espetáculo inenarrável, e inebriante. Todos ficaram maravilhados ao avistar, o oceano, e no fim da linha do horizonte, um dos membros,ao vislumbrar o azul do mar,assim exclamou : Eis o mar, a morada de Iemanjá. Outro afirmou : essa é a maior prova de que Deus existe, somente Ele poderia ter feito essa pintura. O mais calado, resolveu falar : tudo muito bonito, isso tudo poderá acabar, depende do juizo final. Um outro, fingia nada ouvir, em alto e bom som, falou : antes, o apocalipse surgirá nos céus do mundo. Sem caridade não há salvação, falou o mais jovem da excursão. Cada um vê o por do sol com o seu próprio olhar, isto tudo contém diversas interpretações. A pluralidade de pensamentos, é a prova de que não existe verdade absoluta. Cabe a cada um, respeitar a crença do seu semelhante, cada um com seu cada um. Finalizando eis alguns versos do poeta e escritor sãopedrense – Grinalson Medina, igual ao poeta chileno – Pablo Neruda - pela mesma e profunda sensibilidade e pelo intenso amor que ambos dedicaram aos seus torrões natais.

P o n t õ e s

Oh ! Majestoso e plácido Pontões,
Altivo a dominar a imensidade,
Irmãos gêmeos visto por multidões,
Farol do viajor na soledade