
Recentemente foi lançado um documentário através do DVD - "A casa do Tom,mundo monde,mondo " sobre a vida de Tom Jobim (1927/1994) narrado por sua esposa Ana Lontra Jobim. Ele escreveu um longo poema,interessantíssimo, que levou 8 anos para ser concluído chamado - O Chapadão - n'O Papo Amarelo News,na medida do possível,periodicamente reproduziremos o poema completo (são + de 80 !)
CHAPADÃO
Vou fazer a minha casa 
No alto do chapadão 
Vou levar o meu piano 
Que ficou no Canecão
Vou fazer a minha casa 
No alto do Chapadão
Vou levar Don'Aninha 
Prá me dar inspiração 
Vou fazer a minha casa 
No alto de uma quimera 
Vou criar um mundo novo
Vou criar nova megera 
Vou fazer a minha casa
Com largura e comprimento 
E peço ao Paulo uma sala 
Prá botar Aninha dentro 
Vou botar minha biruta 
No taquaruçu de espinho 
Vou fazer cama macia 
Prá te amar devarinho
Seremos dois belezudos 
Neste mundo de feiosos 
As noites serão tranquilas
E os dias tão radiodosos
Quero a minha casa feita
Com régua prumo e esmero 
Quero tudo bem traçado 
Quero tudo como eu quero 
Quero tudo bem medido 
De largura e comprimento 
Não quero que minha casa 
Me traga aborrecimento 
Vou fazer a minha casa 
Do alto de uma canção
E agradecer a Deus Pai 
A sobrante inspiração
Sob a axila do Cristo
Neste sovaco cristão 
Vou fazer a minha casa 
No alto do Chapadão 
E vou dar festa bonita 
Com bebida e com garçon 
E ao Lufa que foi amigo 
Dou champagne com bombom 
Vou fazer a minha casa 
No centro do ribeirão 
Quero muita água limpa 
Pra lavar meu coração 
Mina casa não terá 
Nem sábado ,e nem domingo 
Todo dia é dia santo
Todo dia é dia lindo 
Todo dia é sexta-feira 
Sexta-feira da Paixão 
Vou convidar o Alberico
Para o peixe com pirão
E dentro da minha casa 
Nunca vai juntar poeira
Pelo meio dela passa
Uma enorme cachoeira
Pelo meio dela passa
Uma enorme cachoeira
Quero água com fartura
Quero todo o riachão
Quero que no meu banheiro
Passe inteiro o ribeirão
Quero a casa em lugar alto
Ventilado e soalheiro
Quero da minha varanda
Contemplar o mundo inteiro 
Vou fazer o meu retiro 
Na grota do chororão
A minha casa será
Uma casa de oração
Vou me esquecer do pecado
Entrar em meditação
E não saio mais de casa
Só saio de rabecão
Vou entrar pra academia
Vou comer muito feijão
E acordar a meia noite
Pra vestir o meu fardão
Mas na minha academia
Sem chazinho e sem garçon
Só emtra Mario Quintana
Só entra Carlos Drumond
Que já chega de besteira
Já basta de decoreba
Que a cultura verdadeira
Tá na asa do jereba
Porque quem tem urubu-rei
E tem urubu ministro
Dois de cabeça amarela
E um preto que registro
Tem diretos no além
Sob a axila cristã
Neste sovaco cristão
Vou fazer telha-vã
A casa do chapadão
Vou dormir meu sono velho
Neste sovaco do Cristo 
Muito comprar muito sossego
Vou regar o meu hibisco
Vou viver na minha casa
Vou viver com a minha gente
Vou viver vida comprida
Pra não morrer de repente
Vou contemplar grandes pedras
Vazio de compreensão
Vou esquecer o meu nome 
No alto do chapadão
 
