10 de novembro de 2008

Tom Jobim


Recentemente foi lançado um documentário através do DVD - "A casa do Tom,mundo monde,mondo " sobre a vida de Tom Jobim (1927/1994) narrado por sua esposa Ana Lontra Jobim. Ele escreveu um longo poema,interessantíssimo, que levou 8 anos para ser concluído chamado - O Chapadão - n'O Papo Amarelo News,na medida do possível,periodicamente reproduziremos o poema completo (são + de 80 !)




CHAPADÃO


Vou fazer a minha casa
No alto do chapadão
Vou levar o meu piano
Que ficou no Canecão
Vou fazer a minha casa
No alto do Chapadão
Vou levar Don'Aninha
Prá me dar inspiração



Vou fazer a minha casa
No alto de uma quimera
Vou criar um mundo novo
Vou criar nova megera

Vou fazer a minha casa
Com largura e comprimento
E peço ao Paulo uma sala
Prá botar Aninha dentro

Vou botar minha biruta
No taquaruçu de espinho
Vou fazer cama macia
Prá te amar devarinho

Seremos dois belezudos
Neste mundo de feiosos
As noites serão tranquilas
E os dias tão radiodosos

Quero a minha casa feita
Com régua prumo e esmero
Quero tudo bem traçado
Quero tudo como eu quero

Quero tudo bem medido
De largura e comprimento
Não quero que minha casa
Me traga aborrecimento
Vou fazer a minha casa
Do alto de uma canção
E agradecer a Deus Pai
A sobrante inspiração


Sob a axila do Cristo
Neste sovaco cristão
Vou fazer a minha casa
No alto do Chapadão

E vou dar festa bonita
Com bebida e com garçon
E ao Lufa que foi amigo
Dou champagne com bombom


Vou fazer a minha casa
No centro do ribeirão
Quero muita água limpa
Pra lavar meu coração
Mina casa não terá
Nem sábado ,e nem domingo
Todo dia é dia santo
Todo dia é dia lindo

Todo dia é sexta-feira
Sexta-feira da Paixão
Vou convidar o Alberico
Para o peixe com pirão
E dentro da minha casa
Nunca vai juntar poeira
Pelo meio dela passa
Uma enorme cachoeira
Quero água com fartura
Quero todo o riachão
Quero que no meu banheiro
Passe inteiro o ribeirão
Quero a casa em lugar alto
Ventilado e soalheiro
Quero da minha varanda
Contemplar o mundo inteiro
Vou fazer o meu retiro
Na grota do chororão
A minha casa será
Uma casa de oração
Vou me esquecer do pecado
Entrar em meditação
E não saio mais de casa
Só saio de rabecão
Vou entrar pra academia
Vou comer muito feijão
E acordar a meia noite
Pra vestir o meu fardão
Mas na minha academia
Sem chazinho e sem garçon
Só emtra Mario Quintana
Só entra Carlos Drumond
Que já chega de besteira
Já basta de decoreba
Que a cultura verdadeira
Tá na asa do jereba
Porque quem tem urubu-rei
E tem urubu ministro
Dois de cabeça amarela
E um preto que registro
Tem diretos no além
Sob a axila cristã
Neste sovaco cristão
Vou fazer telha-vã
A casa do chapadão
Vou dormir meu sono velho
Neste sovaco do Cristo
Muito comprar muito sossego
Vou regar o meu hibisco
Vou viver na minha casa
Vou viver com a minha gente
Vou viver vida comprida
Pra não morrer de repente
Vou contemplar grandes pedras
Vazio de compreensão
Vou esquecer o meu nome
No alto do chapadão