Nem sempre a orquestra de
pássaros se apresenta nas manhãs. Quando se ausenta, poderá ser pela chuva, ou o impedimento do maestro em comparecer para reger imagéticamente a - “ode a alegria” - último movimento da nona
sinfonia de Beethoven. Mais dessa vez as
tratativas foram cumpridas, com os sabiás das laranjeiras,
sanhaços, bem-te-vis e o mais recente filhote do
sabiá, debutando na orquestra das aves, que trauteava acordes matinais. Com o maestro presente a cantata dos pássaros em
alto e bom som, entoou cânticos alegres e cromáticos. E de repente, eis que surge o som tonitruante do sino secular da igreja, a perturbar a orquestra, que por pouco não desafinou. Por fim os acordes se harmonizaram. A chuva fina
do outono veio chegando sorrateiramente, e a passarada foi se dispersando ao recolhimento. O grande senhor, casado com lua, o poderoso dominador da luz e do calor, o sol desse mundo - olho e alma - se escondeu. E com a chuva, não há concerto. Estarei atento para escutar mais uma obra
musical, gestada pela mãe natureza.