13 de janeiro de 2014

O sabiá-laranjeira



Ao se apreciar o sabiá, e o seu mavioso cântico, a brasilidade remete:  “ Minha terra tem  palmeiras, onde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá” é a abertura da consagrada  poesia – Canção do Exílio – de  Gonçalves Dias (Coimbra,1843).  Mas o desejo (in)contido, é o de narrar sobre o   Turdus rufiventris” ou o sabiá-laranjeira,  habitante  das matas, caatingas, campos e cidades ajardinadas.  Em 2002, por decreto,  o sabiá-laranjeira  passou a ser  oficialmente a ave símbolo do Brasil. Desde 1966, ela já ocupava como  ave-símbolo,  na terra dos bandeirantes. De coloração geralmente parda, ou pardo-avermelhada, e são por demais populares,  pela beleza do canto. Veste uma plumagem pardacenta no dorso, e ferrugínea no abdome. Há algumas lendas  sobre a mesma,  como por exemplo:  há quem afirme, que se o  “bicho-homem”   raptar o filhote e o confinar na gaiola, a sabiá-laranjeira fêmea,  ministra-lhe um  veneno,  e o mata. A sabiá-mãe o prefere morto,  do que enjaulado. Essa é a  estória através da oralidade,  passando para as futuras gerações.  As crenças que povoam o imagético do coletivo, ocorrem em  quaisquer partes do mundo.  A fêmea é responsável pela construção do lar, ou  seja do ninho. O formato são quase sempre esféricos, e profundos. O material utilizado tem os seguintes componentes: raízes, musgos, barro e outros. As paredes dos ninhos são espessas, para melhor se protegerem.. São doze dias de incubação, e os ovos são verde-azulados. A fêmea é pouco maior do que o macho, que (en)canta no período reprodutivo, antes do amanhecer e ao anoitecer, para atrair a fêmea, e demarcar o território.  O canto do sabiá-laranjeira permanece  até dois  minutos, e  vida útil dele,   pode atingir trinta anos. Na exposição de motivos enviadas ao então presidente, para torná-la a ave símbolo oficial do país,  assim argumentou  o relator  da matéria:  “ que o sabiá-laranjeira tem larga distribuição nacional, e porque é, dentre as aves, a mais inspiradora e, consequentemente a mais aclamada e decantada pelo sentimento popular e cultural”. O cântico-dobrado dura cerca de dez longos segundos.Sabiá vem do tupi sawi’a. 

O canto do sabiá-laranjeira é lindo. Mas há quem prefira vê-lo assim, com a boca cheia para ficar quieto. Foto: Cláudio Timm/Flickr

6 de janeiro de 2014

O beija-flor



Como se fosse bailarino, com movimentos suaves, o colibri chupa o néctar das flores indefesas. Velocíssimo nas manobras aéreas, sendo o único pássaro a engrenar a "marcha-ré". Estaciona no ar feito um helicóptero, ou melhor, a máquina voadora, é que foi  baseada no princípio aerodinâmico das aves. O "beijo" se dá através de um  longo bico, igual a uma fina  agulha, que  penetra   nas cavidades das flores, saciando-lhe a fome, ou a sede.  De plumagem caleidoscópica  - tom sobre tom -  em diferentes cromagens, dependendo da família. Elegantes, alguns parecem  estarem vestidos de fraques à inglesa. Eis a nominata dos beija-flores:  vermelho, garganta verde, bico vermelho, barriga branca, rabo branco, gravata-vermelha, e tantos outros. O colibri, é da família dos trochilidae, é considerado o menor pássaro do planeta. E somente são encontrados no Novo Mundo.  No estado ativo de sua vida, o beija-flor fica quase permanente no ar, inclusive quando se alimentam. Nos dias de chuva, ficam tristes, e não levantam vôo.  O famoso  pesquisador (pouco valorizado) dessas encantadoras aves foi o cientista Augusto Ruschi.  O beija-flor macho,  usufrui de  num "dolce far niente”, pois não choca os  ovos, e muito menos alimenta  filhotes, e nem constrói os ninhos – que são horizontalizados - num formato de uma sólida tigela. O material usado na construção do mesmo - sob a batuta do beija-flor fêmea -   são as teias de aranha, folhas e xaxim.  O colibri é eclético, pois se adapta as condições rurais e urbanas. Algumas espécies  dos beija-flores são polígamas. A fêmea do “besourinho-cauda-larga”, poderá construir, com maestria a superposição de dois e até três ninhos, e comandar  esse território durante vários anos. Esse espetacular fenômeno  da natureza , só ocorre no Nordeste do Brasil. Outro fato surreal, acontece com o “beija-flor besourinho”, que poliniza a bananeira-do-mato ou ornamental,  tendo o bico incrivelmente adaptado para essa flor. No plano “romântico”, destaca-se a amorosa “beija-flor-ametista “, que  na ocasião apropriada, prepara e executa  a corte nupcial com esmero. Isso posto,  poder-se-á  intuir que pelo fato do  coração do beija-flor,  ser por demais intenso, pois poderá apresentar seiscentas batidas por minuto, quiçá isso seja  um facilitador performático na iniciação  nupcial. A conferir.







 beija-flor ametista - foto duda menegassi


4 de janeiro de 2014

A coruja




A coruja, mal compreendida, todavia desde  a antiguidade já fazia sucesso. Era a ave da deusa  Atena ( Minerva) símbolo da inteligência racional. Ela é notívaga, convive somente com a noite. Ela é tão somente lunar , e percebe a luz da lua por reflexo. Talvez, seja por isso, que  a coruja é tradicionalmente o atributo dos adivinhos: simboliza o seu dom de   clarividência, contudo é através dos signos, por eles interpretados. “ A coruja , ave de Atena simboliza a reflexão que domina as trevas”(BAGE, 108). Segundo a lenda a coruja é o avatar das noites e da chuva. Em algumas línguas latinas, designa a coruja, como mulher bonita, e ave de bom augúrio.  As espécies de corujas são diversas.  Tive um bom amigo,  um homem por demais inteligente, que possuía algumas  estatuetas de corujas, entre os livros dele, e dizia-me, que a coruja é sabia, e o inspirava. Eis o seu nome:  Artur da Távola. Por aqui, na terra brasilis, dentre as strigiformes - nome científico da coruja - destaca-se a coruja-com- orelhas(foto). Elas vivem na orla das matas e também nas cidades, e se alimentam de grandes insetos.  Minimalista, aproveita os ninhos abandonados  de outras aves, e se estabelecem. A outra, é a coruja-latideira, e por último, o caburezinho, “meio  que canibal”, pois tem como hábito se alimentar dos sanhaços( mesmo com toda  a destreza desse pássaro, é inevitavelmente capturado), e os pardais ( que vieram de Portugal, tanto quanto a sífilis), rãs, lagartixas e pasmem:  pequenas cobras. Acho que o caburezinho, mesmo no diminutivo para mitigar o “canibalismo” dele, creio ser uma sub-coruja. Com bico afiado, caburezinho, degola os passarinhos. Na infância, quando se ouvia a coruja piar, pela fidelidade à crença, os chinelos era virados, com o solado para cima. Por vezes a coruja se calava, outras não. A estética da  coruja é a elegância  e o construtivo silêncio,  fazem-na uma ave,  cuja a origem  se conecta ao mítico e ao místico, desde  longevos séculos.



Retrato de uma coruja