Ao se
apreciar o sabiá, e o seu mavioso cântico, a brasilidade remete: “ Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, as aves que
aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá” é a abertura da consagrada poesia – Canção do Exílio – de Gonçalves Dias (Coimbra,1843). Mas o desejo (in)contido, é o de narrar sobre
o “Turdus
rufiventris” ou o sabiá-laranjeira, habitante das matas, caatingas, campos e cidades
ajardinadas. Em 2002, por decreto, o sabiá-laranjeira passou a ser oficialmente a ave símbolo do Brasil. Desde
1966, ela já ocupava como ave-símbolo, na
terra dos bandeirantes. De coloração geralmente parda, ou pardo-avermelhada, e
são por demais populares, pela beleza do
canto. Veste uma plumagem pardacenta no dorso, e ferrugínea no abdome. Há
algumas lendas sobre a mesma, como por exemplo: há quem afirme, que se o “bicho-homem” raptar o filhote e o confinar na gaiola, a
sabiá-laranjeira fêmea, ministra-lhe
um veneno, e o mata. A sabiá-mãe o prefere morto, do que enjaulado. Essa é a estória através da oralidade, passando para as futuras gerações. As crenças que povoam o imagético do
coletivo, ocorrem em quaisquer partes do mundo.
A fêmea é responsável pela construção do lar, ou seja do ninho. O formato são quase sempre
esféricos, e profundos. O material utilizado tem os seguintes componentes: raízes,
musgos, barro e outros. As paredes dos ninhos
são espessas, para melhor se protegerem.. São doze dias de
incubação, e os ovos são verde-azulados. A fêmea é pouco maior do que o macho,
que (en)canta no período reprodutivo, antes do amanhecer e ao anoitecer, para
atrair a fêmea, e demarcar o território. O canto do sabiá-laranjeira permanece até dois minutos, e vida útil dele, pode
atingir trinta anos. Na exposição de motivos enviadas ao então presidente, para torná-la a ave símbolo oficial do país, assim
argumentou o relator da matéria:
“ que o sabiá-laranjeira tem larga distribuição nacional, e porque é, dentre as aves, a mais inspiradora e, consequentemente a mais aclamada e decantada
pelo sentimento popular e cultural”. O cântico-dobrado dura cerca de dez longos segundos.Sabiá
vem do tupi sawi’a.
13 de janeiro de 2014
6 de janeiro de 2014
O beija-flor
Como se fosse
bailarino, com movimentos suaves, o colibri chupa o néctar das flores
indefesas. Velocíssimo nas manobras aéreas, sendo o único pássaro a engrenar a
"marcha-ré". Estaciona no ar feito um helicóptero, ou melhor, a
máquina voadora, é que foi baseada no princípio aerodinâmico das aves. O
"beijo" se dá através de um longo bico, igual a uma fina
agulha, que penetra nas cavidades
das flores, saciando-lhe a fome, ou a sede. De plumagem caleidoscópica - tom sobre tom - em diferentes cromagens, dependendo da
família. Elegantes, alguns parecem
estarem vestidos de fraques à inglesa. Eis a nominata dos
beija-flores: vermelho, garganta verde,
bico vermelho, barriga branca, rabo branco, gravata-vermelha, e tantos outros.
O colibri, é da família dos trochilidae, é considerado o menor pássaro do
planeta. E somente são encontrados no Novo Mundo. No estado ativo de
sua vida, o beija-flor fica quase permanente no ar, inclusive quando se
alimentam. Nos dias de chuva, ficam tristes, e não levantam vôo. O famoso pesquisador (pouco
valorizado) dessas encantadoras aves foi o cientista Augusto Ruschi. O beija-flor macho, usufrui de
num "dolce far niente”, pois não choca os
ovos, e muito menos alimenta
filhotes, e nem constrói os ninhos – que são horizontalizados - num
formato de uma sólida tigela. O material usado na construção do mesmo - sob a
batuta do beija-flor fêmea - são as teias de aranha, folhas e
xaxim. O colibri é eclético, pois se
adapta as condições rurais e urbanas. Algumas espécies dos beija-flores são polígamas. A fêmea do
“besourinho-cauda-larga”, poderá construir, com maestria a superposição de dois
e até três ninhos, e comandar esse território durante vários anos. Esse
espetacular fenômeno da natureza , só
ocorre no Nordeste do Brasil. Outro fato surreal, acontece com o “beija-flor
besourinho”, que poliniza a bananeira-do-mato ou ornamental, tendo o bico incrivelmente adaptado para essa
flor. No plano “romântico”, destaca-se a amorosa “beija-flor-ametista “,
que na ocasião apropriada, prepara e
executa a corte nupcial com esmero. Isso posto, poder-se-á
intuir que pelo fato do coração
do beija-flor, ser por demais intenso,
pois poderá apresentar seiscentas batidas por minuto, quiçá isso seja um facilitador performático na iniciação nupcial. A conferir.
beija-flor ametista - foto duda menegassi |
4 de janeiro de 2014
A coruja
A coruja, mal compreendida, todavia desde a antiguidade já fazia sucesso. Era a ave da deusa
Atena ( Minerva) símbolo da inteligência
racional. Ela é notívaga, convive somente com a noite. Ela é tão somente lunar
, e percebe a luz da lua por reflexo. Talvez, seja por isso, que a coruja é tradicionalmente o atributo dos
adivinhos: simboliza o seu dom de clarividência, contudo é através dos signos,
por eles interpretados. “ A coruja , ave de Atena simboliza a reflexão que
domina as trevas”(BAGE, 108). Segundo a lenda a coruja é o avatar das noites e
da chuva. Em algumas línguas latinas, designa a coruja, como mulher bonita, e
ave de bom augúrio. As espécies de
corujas são diversas. Tive um bom amigo, um homem por demais inteligente, que possuía
algumas estatuetas de corujas, entre os
livros dele, e dizia-me, que a coruja é sabia, e o inspirava. Eis o seu nome: Artur
da Távola. Por aqui, na terra brasilis, dentre as strigiformes - nome científico da coruja - destaca-se a coruja-com- orelhas(foto). Elas vivem na orla das
matas e também nas cidades, e se alimentam de grandes insetos. Minimalista, aproveita os ninhos
abandonados de outras aves, e se estabelecem.
A outra, é a coruja-latideira, e por último, o caburezinho, “meio que canibal”, pois tem como hábito se
alimentar dos sanhaços( mesmo com toda a destreza
desse pássaro, é inevitavelmente capturado), e os pardais ( que vieram de Portugal, tanto quanto a
sífilis), rãs, lagartixas e pasmem: pequenas cobras. Acho que o caburezinho,
mesmo no diminutivo para mitigar o “canibalismo” dele, creio ser uma
sub-coruja. Com bico afiado, caburezinho, degola os passarinhos. Na infância, quando se ouvia a coruja piar, pela fidelidade à crença, os chinelos era virados, com o solado para cima. Por vezes a coruja se calava, outras não. A estética da coruja é a
elegância e o construtivo silêncio, fazem-na uma ave, cuja a origem se conecta ao mítico e ao místico, desde longevos séculos.
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