4 de março de 2012

A queridinha ( segunda parte )

Eremildo, era o marido de Joana D'Arc. Não tinha profissão definida, e os familiares dela montaram-lhe uma quitanda, para ganhar o pão-de-cada-dia. O casal não pagava aluguel, pois morava de  favor na casa da sogra, num "puxadinho" construido pelos cunhados, que pela responsabilidade, conquistaram uma melhor posição na comunidade.  A quitanda não tinha horário para abrir. Eremildo assistia filmes até altas horas da madrugada. Gostava das películas picantes, melhor dizendo, eram fitas pornôs. Para acordar de manhã, era um suplicio. Alguns fregueses  reclamavam, pois abria o seu negócio muito tardiamente.  Eremildo começou a se interessar por Gracinha - babá da filha do seu  cunhado -   ela era graciosa e muito jovem. Começou a cortejá-la, contudo não recebia nenhuma contrapartida positiva, por parte dela. O assédio continuou, e por diversas  vezes abordou a jovem pájem. Certo dia, Eremildo encheu-se de coragem, e agarrou-lhe à força, tentando violentá-la.   Gracinha, desvencilhou-se do agressor, e em seguida denunciou-o junto a familia de Joana D'Arc. De nada adiantou.  A reclamação, foi considerada   uma denúncia vazia. Imediatamente "panos quentes"  foram colocados pela Eleutéria, e filhos. Estarrecidas, as noras assistiam a farsa.   A serviçal, foi estereotipada de mentirosa, oportunista e invejosa. E o prestigio dele  sequer foi arranhado,  por ter assediado uma menina de menor idade. E a vida transcorria sem intercorrencias, como se fosse um capitão-de-longo-curso, num mar de almirante. E para o coroamento desse união, a sua mulher engravida-se. Hosana, glória e júbilo. Todavia, ele não desistiu da prática  de seduzir. E numa tarde de um inverno rigoroso, na boca da noite, eis que  uma retardatária freguesa, foi em busca de  temperos básicos.  A cliente ao  entrar na birosca de Eremildo, num  ato repentino agarrou-a agressivamente. A vítima, se chamava Luanda, que lutou bravamente. Todavia,  não resistindo a  força dele,  foi  vencida   caindo por terra,  sem sentidos. Ele a possuiu sexualmente, se revelando um abjeto  necrófilo. O farsante foi  à rua e pediu por socorro, no qual  foi prontamente atendido. Moradores afluiram e aplicaram à vítima alcool canforado, friccionando-lhes os pulsos. O efeito foi imediato. Luanda recobrou os sentidos e foi-se embora.  Por se sentir envergonhada, e aviltada, resolveu guardar a sete chaves a ocorrencia. O tempo, relógio  implacável da vida, indicou que Luanda estava grávida. Não existia  exame de DNA na época. Luanda, reuniu suas forças e relatou tudo para Eleutéria, que  não acreditou na versão da mesma.  Igual  expediente  usado com a Gracinha.  Joana D'Arc vociferou, dizendo que existia uma perseguição ao marido dela.  E os irmãos apoiaram-na.  Mais uma vez, ele safou-se, e passou a se  sentir    acima do bem do mal. Um verdadeiro semi-deus  no Olimpo. E para atenuar a sua culpa, foi visitar um pastor, casado com uma das suas tias,  no interior de Goiás. Luanda não se conformava, com o descaramento dele e dos familiares da  Joana D'Arc. A filha de Luanda nasceu, num parto normal, sem nenhum problema. Resignada, aceitou a sua missão em silêncio, como se esperasse o veredicto de um impossível julgamento. Após tres anos, numa tarde madorrenta de domingo, a pequena Chora Morena, foi sacudida  inesperadamente pelas sirenes da  ambulância e da viatura da polícia, ambas vindas da cidade vizinha. Os moradores viram saindo  da casa de Eleutéria, numa maca, um corpo de homem, coberto por um lençol branco  e tisnado de sangue. E uma mulher de cor caucasiana, exangue e  cabisbaixa,e amparada por policiais, caminhava lentamente, em direção ao autómovel  dos gendarmes.  Era Maria do Carmo, uma das   noras de Eleutéria. Tendo sido abordada pelo garanhão, travou uma  ferrenha batalha física, e levou a melhor, ferindo-lhe de morte com uma faca de cozinha. Joana D'Arc a queridinha, desesperada avançava sobre Maria do Carmo, chamando-lhe de assassina. Maria do Carmo, foi absolvida pela unimidade dos jurados. Antes do julgamento, o marido dela pediu o divórcio. Maria do Carmo é zeladora numa escola de monges zen-budistas. A filha, cujo o nome é Esperança, vive com a avó materna.
" Qualquer semelhança , é mera coincidencia "
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A queridinha (primeira parte)

Joana D’Arc, assim se chamava a moçoila. Uma  das protagonista de uma dramaturgia de inspiração ítalo-tupiniquim, ocorrida há décadas, próximo a Açucena-Branca, uma pequena vila pertencente as alterosas mineiras, onde se registrava baixíssimas temperaturas. O local é conhecido pelo simplório topônimo de Chapéu de Palha. A grafia correta do seu nome, se baseia na leitura quase compulsória, nos antigos almanaques da Capivarol ou do fortificante Biotonico Fontoura. Essas publicações existiram há quase cinqüenta anos, e chegavam nos mais longínquos rincões desse Brasil continental. Era uma espécie de enciclopédia-guia, onde continham informações úteis a vida rural. Citava as fases da lua, para orientar algumas plantações, receitas fitoterápicas, dados biográficos de personagens históricos, anedotas e outras matérias. Numa casa modesta, morava Eleutéria, que durante a sua  gravidez,  leu no almanaque e admirou, ao saber da vida da heroina e santa,   Joana D’Arc(1412/1431). Após  dar a luz, e no ato do registro de nascimento da  filha,  levou pessoalmente o almanaque, para que o escrivão o copiasse “ipsis litteris”,  que passou a ser o  nome da menina recém-nascida. Joana D’Arc ao nascer, já tinha outros dois irmãos.  Eleutéria sempre foi  a maestrina desse pequeno clã familiar. O marido, era um homem pacato e passivamente aceitava as determinações autoritárias e dissimuladas da esposa. A matriarca, com sua mão-de-ferro,  fez ver a toda a familia, que a filha seria sempre a preferida  de todos.  Claro que houve um consenso geral. Há mães e ou  pais, que instrumentalizam os filhos em geral, para serem ou fazerem coisas que os mesmos  não lograram  êxitos, durante seus trajetos de vida. Talvez fosse, o caso de Eleutéria. Os desejos de Joana D'Arc, dentro das (im)possibilidades eram atendidos através da sua mãe, poderosa e protetora. Os irmãos tornaram-se adultos, e em seguida começaram a trabalhar nas lavouras existentes na região. Partes das remunerações de ambos, eram prazerosamente doadas a mãe, que se destinava as despesas pessoais da irmã. Ela tinha um comportamento de "riquinha", e as tarefas iniciadas, desde a lavagem de louças, até roupas para serem  passadas, jamais eram conclusas. Os irmãos se casaram. E Joana D’Arc se sentiu no desejo de imitá-los. Estava cansada da donzelice. No amor, é preciso alguma sagacidade na escolha , diziam os antigos. Poderá ser uma falácia, enquanto receita de felicidade. Ou não. Há controvérsias. Ela não  titubeou,  e "providenciou" um namorado. E o período de relacionamento  foi curto, e num pequeno lapso de tempo, contrairam-se núpcias. Eleutéria apoiou incondicionalmente a decisão do enlace. A situação financeira era precária, pois um dos seus irmãos, tinha se submetido a uma delicada operação intestinal, na qual dispendeu toda a  pequena economia familiar. A solução foi a de vender os  suínos, e caprinos e uma mula de trabalho. A casa foi pintada, meio que reformada, e fez-se a quermesse do enlace. O marido escolhido por  Joana D’Arc, revelou-se imediatamente avesso ao trabalho, e periculosamente um   sedutor de plantão. Pois, era dono do seu tempo, para arquitetar seus planos.
Continua na segunda Parte de "A queiridnha"