Raras foram às vezes, que pelo meu trajeto não encontrava na beira da estrada, o homem de óculos escuros.  Sentava-se sob o alpendre de uma pequena casa meio colorida,  sob o signo de um  branco barroco e um azul colonial.  Ele remetia-me  sempre a impressão de que era um observador do mundo, no seu cockpit. Mesmo nos dias nublados, crepúsculos ou de sol
inclemente, lá estava ele portando as lentes escuras. Será porque nunca o vi sem os
óculos escuros?  Será que era um artifício  para ocultar a identidade dele? Um fugitivo que se evadiu de algum  presídio?  Ou não era nada disso. Simplesmente poderia ser um  costume dele. Ou quem sabe,  se esses óculos escuros  faziam-no ver o verde mais verde?  Ou esses óculos eram
para contrapor a lucidez que lhe
perseguia?  Notei,  que ao passar de carro, nunca também  o tinha visto caminhar. Pensei por diversas vezes em conversar com ele. Não sabia como justificar a
mim mesmo essa  atitude. Invasão da privacidade, saber por
que ele sempre usava óculos escuros?
Mesmo nos dias nublados e ou chuvosos. Resolvi não ir ao encontro dele, a ansiedade foi dominada. E por canais de comunicação no campesinato, tomei
conhecimento que o homem de lentes ray ban é cego. Tantas viagens nas asas do imagético.
 
