20 de outubro de 2010

PASSARAM-SE 80 ANOS

Caro Flavio Boechat Aguiar,

Algumas amizades são como as pedras, não se movem nunca. Em 1969 fui para o Rio,e em seguida chegou o Maneca Aguiar.Dedé já tinha ido para Brasilia e Tião – competente zagueiro do Independente Atlético Clube – já estava em Paranaguá. E ficou na terra a professora Regina, sua única tia capixaba. O interior não apresentava alternativas de trabalho. A capital Vitória ainda patinava e o Rio, é considerado perto de Mimoso, mesmo estando distante. São 380 km até a Copacabana. Os capixabas do sul do Estado freqüentam o Rio, anos a fio. O Rio é muito sedutor - parte expressiva da juventude – queria ir para o Rio. Brasilia, mais longe, recebia os mimosenses em menor escala. Creio que hoje em Brasilia ,deve ter umas 15 a 20 familias de origem mimosense, com os seus ascendentes.
A origem da sua familia pelo lado paterno, creio, que as primeiras sementes foram germinadas em terras mineiras. Assim é maioria da população do extremo-sul do Espírito Santo, que divisa com o Estado do Rio de Janeiro, através da sua majestade , o rio Itabapoana. Os mineiros vieram para as alterosas sãopedrenses e alhures, porque o império portugues não permitia a entrada nas matas, por conta das jazidas de ouro. A expansão do estado ficava limitada, era uma proibição rigorosa. Muitas famílias mineiras se estabeleceram em São Pedro do Itabapoana, e nela floresceu uma comunidade espetacular, ainda na vigência da República Velha.
São Pedro do Itabapoana, foi um grande produtor de café, possuía tres fábricas ,sendo uma delas de sêda pura, vários médicos ,advogados, agronomos, teatro , jornais etc .Os tres poderes co-existiam harmonicamente na Comarca – o executivo, através do Intendente, nome dado ao prefeito,o Juiz e a Câmara dos Vereadores. Na época chegou a ter 49.000 habitantes, maior do que a capital. Poucos sabem, pois a primeira escritora do Espirito Santo, foi a poetisa sãopedrense - Antonietta Tatagiba – Há oitenta anos, nenhuma manifestação oficial foi realizada. Propositadamente desconsideram o médico Dr.José Coelho dos Santos, que foi deputado distrital por duas vezes, e chegou a assumir as funções do Executivo Estadual. Com uma biografia transcendental e paradigmática. O Poder Público perde uma oportunidade impar em não divulgar os seus heróis. Infelizmente permanecem esquecidos, é a conseqüência da cegueira crônica das autoridades. Passaram-se oitenta anos e nenhuma lembrança histórica foi registrada. Um país periférico - a sua consolidação cultural em andamento – ainda não possui bagagem para dispensar a sua história. Faltam-lhe homens e livros, assim vaticinou Monteiro Lobato.
A importância de São Pedro do Itabapoana, era visível, pois o então futuro presidente da República - Nilo Peçanha - a visitou.
Pois bem, há oitenta anos passados - no dia 2 de novembro de 1930 - um comboio de treze caminhões, repletos de homens armados se dirigiu a São Pedro do itabapoana. Ameaçando a população civil ,confiscaram os livros do cartório local, incineraram documentos importantes em praça pública e transferiram pelas armas, a sede do município para Mimoso do Sul. Certamente esse processo se realizaria, pois, aqui desde 1896, já circulava os trens da Leopoldina Railway. Porque a truculência da operação ? Os autores foram inspirados pela tomada do poder por um golpe de estado, liderado pelo gaúcho Getulio Vargas em outubro de 1930, quando amarrou os cavalos no obelisco junto ao palácio Monroe, na Cinelandia, no centro do Rio de Janeiro, e se proclamou ditador-presidente por 15 anos. Depois candidatou-se a presidente e venceu as eleições. Em 24 de agosto de 1954 - cometeu o suicidio - no Palácio do Catete - Rio.
Seus avós, Ivone Aguiar e D.Berenice - Nicinha – aliás a genealogia da D.Nicinha é imensa, sua origem está nos troncos dos Xavier, mineiros de Mar de Espanha(MG), especula-se que chegaram no Brasil vindos da Espanha em 1710 - seus avós vieram residir em Mimoso do Sul compulsóriamente, e criaram todos os seus filhos. O historiador e poeta Grinalson Medina, fez esses versos para o seu avô,eí-los:

Monte Palmerim

Ao dileto terrantês Yvone Aguiar

- Palmerim altaneiro e dadivoso
Encastelados em bosques arejados,
Do seu vasto horizonte majestoso
Desvenda-se redutos variegados

Vigilancia do prado montanhoso
Contendo aves de cantos ressonantes
Cujo gorgeio cadente,melodioso
Vai além mar,às plagas derivantes

Retângulo do globo capixaba
Da brisa florestal que não se acaba
Desde às manhãs,ao por do sol saudoso

Integrado nos vales produtores
d'antes carramanchão de raras flores,
Ó Palmerim,retiro dadivoso !