17 de abril de 2009

O banco e a lavagem

Na ausencia de uma agencia de um certo banco onde me encontrava,viajei para a cidade vizinha na busca de uma sucursal dessa instituição financeira,para efetuar um pagamento.Chegando bem cedo,sentei-me e fiquei a observar o movimento de pessoas e veículos,curiosamente,impressionou-me os nomes dos bairros estampados na parte frontal dos ônibus,e imaginei o significado etimológico e histórico desses nomes,alguns ainda me lembro,como Baiminas,seria uma aliança mercantil entre os estados da Bahia e Minas Gerais,em pleno Estado do Espírito Santo ? Vila Rica,esse é um outro bairro,essa Víla já foi outrora rica,ou uma lembrança da Vila Rica imperial e mineira ? Ilha da Luz,talvez vincula-se a produção de energia ou não é nada disso,ou quem sabe são as luzes da ribalta ?
Carone,Coronel Borges,Aquidabã e tantos outros entretantos ! Solta-me aos olhos uma simplória homenagem,àquele que foi jornalista-correspondente na Segunda Grande Guerra Mundial,foi embaixador no Marrocos,consul no Chile de Pablo Neruda - poeta e premio Nobel de Literatura,perseguido político no governo Vargas(Estado Novo)e também durante a ditadura militar instalada em 1964,e que durou 18 longos anos,foi o primeiro a hospedar Dorival Caymi no Rio de Janeiro,considerado como "o pai da cronica brasileira" - o jornalista e escritor Rubem Braga !
O Poder Público fez-lhe uma homenagem,ainda está a merecer mais ! Deu seu nome a um bairro da cidade que tanto amou e divulgou por onde passava,deixava sua marca de cachoeirense !
Talvez esse bairro recôndito,discreto e habitado por pessoas simples,como gente humilde na letra da música de Garoto e Chico Buarque,teria inspirado em Rubem uma belíssima cronica ! Talvez as crianças desse bairro devessem saber quem foi o homem ,o personagem que elas pronunciam ao serem questionadas em que bairro habitam ? Respondem : Rubem Braga !
Talvez esse personagem homenageado pudesse inspirar as autoridades,e em cada escola(ou pelo menos numa única escola !) uma simplória biblioteca com livros variados,alguns à moda Bertold Brecht : imprescindíveis ! para,também conhecerem a sua própria história !
Mas o tempo é implacável,foi passando, e absorto a essas divagações,tive que entrar no banco comercial,e atencioso a parafernália cibernética conhecida como terminal,pressionando teclas e enfiando e retirando o cartão magnético,ora corretamente,ora erradamente...ora os filetes infra-vermelhos não processavam o código de barras... repetia sofregamente a operação... até que senti meus pés frios e úmidos,olhando para baixo,percebi que estava dentro de uma poça de água com sabão,tudo muito escorregadio ! Olhando ao derredor vi uma mulher,fingindo desconhecer a minha presença,empunhava uma vassoura e pano de chão e num canto da parede, um balde de água-e-sabão a esfregar o chão ! Exclamei : Estou fazendo uma operação bancária e não posso permanecer pisando nesse piso com água e sabão,podendo tomar um tombo ! A senhora deve parar de fazer isso ! disse-lhe energicamente !
Respondeu-me a senhora:Não posso parar,pois ontem não foi possível fazer a lavagem,estou fazendo agora !
Nada mais me restava, não ser pedir ajuda ao gerente,engravatado,posudo com uma expressão auto-referente,como diria há tempos atrás : um verdadeiro lacaio do sistema !
A contragosto solicitou a senhora que interrompesse a lavagem - menos mal ! Dessa vez não foi de dinheiro !

FRASE DO DIA





" QUEM NASCEU PARA RASTEJAR, NÃO SABERIA VOAR "



Maximo Gorki - " O canto do falcão "