O dinheiro deixado em testamento pelo Dmitri tio dele, daria para recomeçar a vida com algum conforto. Depois de uma intensa pesquisa, adquiriu uma simplória casa numa ilhota próxima de Lesbos. O mar era a sua grande paixão. Mas não apreciava pescar, todavia degustava com apetite os peixes feitos no bom azeite grego. O tempo no mar é mais lento, dizem os mais experientes marinheiros.Sentia falta das conversas com o Ulisses, transformado em cidadão panamenho. E professor de matemática, tendo cursado mestrado no México. Sem contar os inúmeros títulos como enxadrista internacional. O grego não o procurou, pois entendia ser página virada a convivência de outrora. E se conscientizou que Teresa nunca conseguiu ser Fenix. A memória registra, mas não toma decisão. Na maré alta, o mar batia fortemente nas pedras, e ele dizia ser o cântico da sereia. Se transportava recordando as viagens empreendidas pelos oceanos do mundo, quer dos perigos quer pela sensação de vitória, quando atravessava uma severa borrasca. Aos setenta anos, o comandante, resolveu rabiscar a autobiografia dele. E a bordo de um poderoso Personal Computer, deu partida a narrar os fatos importantes. Como se fosse um quase réquiem literário, tais quais os compositores de música erudita. A saúde do comandante sempre foi invejável. Atribuia essa performance ao cuidado alimentar, esse costume teve desde sempre. Não se permitia consumir alimentos transgênicos, temperos industrializados e outros. Naquele momento mágico a ser vivido, sentia a imperiosa vontade de um silente recolhimento. Ouvindo "round midnight" do jazzista Telonius Monk, |tentaria escrever garatujas, e assim iniciou o primeiro capítulo.
30 de janeiro de 2020
29 de janeiro de 2020
Teresa Fenix - 58a.parte
O filho de Zeus acordou de um sono leve, numa manhã de plena claridade solar, como deve ser o clima nos trópicos. Decididamente comprou passagem pela internet para o trecho RIO/ATH. Ficou calado, e nada divulgou. Não gostava de despedidas. Nos locais onde mantinha compromissos socais/educativos, avisou que viajaria pela zona rural, visitando os amigos na comunidade da Criméia, por exemplo. Estava feliz por ter rompido algumas amarras. Estava a fazer o que julgava bom para o estado d'alma do próprio. O Comandante há muito sentia saudades de Atenas e dos mares Egeu, Jônico e Mediterrâneo, nessas águas aprendeu a ser um navegante graduado. Alguns livros, como a Odisseia de Homero, As tragédias de Sófocles e outros, foram doados a biblioteca da escola. Viajou ao Rio de Janeiro e depois a São Paulo, onde embarcou pelo aeroporto de Guarulhos, numa quinta-feira à noite. Na manhã seguinte, desembarcou no aeroporto da capital grega. Somente com bagagem de mão, tranquilamente passou pela alfândega. Tomou um táxi, e se hospedou num modesto hotel nos arredores da capital. Após o necessário descanso, almoçou moussaka, famoso prato grego, lembrando uma lasanha sem massa. Visitou o bairro onde morou por mais de duas décadas, encontrando casualmente um velho amigo do pai dele, cujo nome era Yanis. O conterrâneo informou-lhe sobre uma documentação no cartório local, endereçado ao Comandante. Após as despedidas de praxe, ele foi até ao notário. Foi informado pelo servidor público da existência de um testamento, onde um tio com quem manteve raros contatos, deixava-lhe uma pequena herança. Dmitri era o nome do benfeitor, tio por parte paterna.
28 de janeiro de 2020
Teresa Fenix - 57a. parte
O Comandante se divertia, com o conjunto de realidades apresentadas, que é a cultura e seus simbolismos sociais. Os símbolos são sumamente importante, pois interagem como formadores de uma comunidade. Estava partindo para a terra de Sófocles. Somente não sabia o dia. Internamente a decisão estava tomada. Indecisão não lhe parecia uma fraqueza. Divagava frequentemente, como estivesse se despedindo daquela pequena, sem dúvida acolhedora cidade. Ainda não sabia o que fazer na terra de Zorba. Isso não lhe preocupava. Fotografava algumas imagens, as quais lhe pareciam relevantes. Destaque para a união de dois imensos maciços siderúrgicos, cujo o desenho ao longe, lembra uma imensa bunda. Apreciava ouvir casos surreais ou não. Um deles, quando ao participar de um velório, notou que o defunto estava de boca aberta. Intrigado, perguntou a um parente do morto, se poderia fechar a boca daquele que partia alhures. Várias tentativas foram feitas. A boca do defunto não parava fechada. Até que um sujeito colocou um ovo cozido na boca do morto. Assunto resolvido.
16 de janeiro de 2020
Teresa Fenix 56a.parte
O marinheiro helênico não debitava os contratempos vivenciados como ausência de sorte. Acolhia essas experiências como acréscimos no conhecimento dele, parecia ter uma razoável capacidade cognitiva na absorção dos fatos cotidianos. Talvez por ter conceituado alguns desvios da existência humana, facilitavam a capacidade dele na compreensão e na difusão(quando necessária) dos eventos envolvidos. Continuava vaticinando uma das máximas gregas: conhece-te a ti mesmo, e conhecerás o universos e os deuses (Sócrates 400 a.C). E assim caminhava pelas veredas tropicais, de um pequeno município perdido, como tantos outros abaixo da linha equatorial, cujo IDH (índíce do desenvolvimento humano) é dos mais baixos, igual ao distrito boliviano El Palmar del Oratorio. O grego adquiriu o hábito gastronômico, de comer moqueca de peixe à moda indígena (das tribos puris ou botocudos) ou seja, o cozimento na panela de barro acompanhado de banana da terra, e pimenta malagueta. Ele entendia que quaisquer tipos de molhos, não deveriam anular o gosto do prato principal. Por isso, não apreciava a pimenta picante. E o pimentão autoritário, nunca foi tempero original da moqueca. Todas essas novidades deixam o grego encantado com a cultura brasileira. E por último tomou conhecimento da incrível história dos anos 1960, de um assassino e estuprador, que a polícia, teve muitas dificuldades para detê-lo, pois a lenda, pela oralidade, sabia-se possuir uma poderosa oração, se transformava em cachorro e tocos. "Não creio em bruxas, mas que elas existem, existem ".
7 de janeiro de 2020
Teresa Fenix - 55a.parte
Numa manobra ousada, usando a ferramenta mística, Teresa Fenix tentou retornar o affair com o grego, o resultado foi neca de pitibiriba, como falava Mirian Ripper, na época senhora Artur da Távola, nas tertúlias políticas em tempo pretéritos. Teresa Fenix, ficou a ver navios. O Capitão de Longo Curso, internalizou o desejo de voltar a Grécia de Sócrates. Todavia a (in)certeza planava numa cabeça com alto grau de ebulição. Meditabundo se comparava "ao rico Capitão holandês do Navio Fantasma, com mastros negros e velas vermelhas, (ópera de Wagner1813/1883), condenado a vagar eternamente nos mares, enquanto não tiver encontrado uma mulher capaz de ser-lhe fiel até a morte". O pensamento é livre, essa é a maior expressão da liberdade, a luta eterna do ser humano. Os pertences do grego a serem embarcados, eram pouquíssimos. Eram duas obras de arte sacra em madeira, uma foto do navio em que foi o comandante, ao atravessar o Estreito de Magalhães, roupas minimamente necessárias e no mais objetos pessoais. Uma pequena mala comportava a sua bagagem. Ainda na dúvida pois aprendeu a amar, a pequena cidade que lhe acolheu por vários anos. E relembrava o aforismo do poeta gaúcho Mário Quintana " a amizade é um amor que não morre nunca". Certa vez num baile onde se concentrava, em sua maioria, trabalhadores que carregavam nos ombros sacos de café, para os vagões da Leopoldina railway, cujo o nome do evento noturno era "Espera Tapa". Pitacus Theodorakys resolveu comprar ingresso e adentrou ao arrasta-pé, no mês de julho, e os termômetros poderiam estar registrando pelo menos 13 a 15 graus. Depois de beber alguns tragos de cuba-livre e observar o ambiente, meio desajeitado, convidou uma dama, que lhe parecia disponível. Durante a dança, a dama é brutalmente retirada dos braços do grego. E o agressor enfurecido riscou a faca no chão e disse ao grego: vc estava dançando com a dama errada. E partiu prá cima do Comandante. E foi contido pelo Xochin, um dos organizadores do Espera Tapa que disse, em alto e bom som ao valentão: está enganado, não é esse o cara. E grego refeito do susto, recebeu as desculpas do ciumento namorado.
5 de janeiro de 2020
Teresa Fenix - 54.parte
O antropólogo Darcy Ribeiro(1922/1997) cunhou a seguinte frase na lápide do inconsciente coletivo do povo brasileiro. " Como é que uma nação pode perder o amor por suas crianças? O Brasil não tem um bezerro abandonado, um cabrito. Um frango qualquer que você encontra, tem dono. Mas tem milhares de crianças abandonadas". Pingola é um exemplo real da assertiva acima. Não conheceu os genitores dele. Feito um gato selvagem, enfrentou a sociedade judaico-cristã, insensível, egocêntrica e não cumpre a cláusula pétrea - "amar o próximo como se fosse a si mesmo". ("Ouço a Esfinge rir por dentro" - na Chuva Oblíqua poema de Fernando Pessoa, 3a. parte) - Pingola encontrou uma ilhota de generosidade, nada mais. Contudo não conseguiu se ressocializar. E tal qual o dinossauro, não se adaptando ao dilúvio, morreu. Pingola teve o mesmo destino. Se existir o transcendental, certamente deverá estar na categoria - vítima - para lhe oportunizar, caso haja, outra chance.
(a parte 44a. foi perdida e refeita, por favor releiam para entenderem a 54a., desculpa-me)
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