18 de fevereiro de 2008

ZOILA ABREU

Cheguei ao Rio de Janeiro dia 09 de Janeiro de 1969 - unforgettable day - pois deixava o meu pequeno condado. A modesta cidade vivia sob a égide economica da monocultura cafeeira, e o governo militar, do alto da sua duvidosa sabedoria, determinou a erradicação dos cafezais.Isto posto, dá-se o êxodo rural, que colabora sobremaneira com o inchaço das  grandes cidades. Eis a  diáspora da minha vida, em direção a terra da bossa-nova. Deixei o Mimoso do Sul, carregando uma  mala cheia de esperança,  com a certeza inicial  de estar indo pela dor, e não pelo amor. Esse binomio com tempo foi mudando o seu eixo. E as circunstancias da vida me levaram a trabalhar com o escritor e ex-senador Artur da Távola, cujo o nome de batismo era Paulo Alberto Moretzohn Monteiro de Barros, e foram vinte, e velozes  anos.  Ele está no implacável arquivo da minha memória. E essa convivencia transformou-se  em uma amizade, a qual durou até ele  viajar ao zênite, em  de 2008. Em várias tertúlias   era  instado a dizer de onde eu era. Pois  o meu sotaque causava curiosidade, pois não era nem mineiro e nem nordestino.  Até hoje, possuo   um linguajar meio  híbrido, diferente das sonorizações fonéticas acostumadas aos ouvidos dos cariocas.  Ao dar-lhe  conhecimento da modesta origem, ele perguntou-me se conhecia Zoila Abreu .  Fiquei intrigado, pois um escritor de renome nacional, profundo conhecedor de música erudita e deputado em duas Constituintes, a saber : Constituinte do Estado da Guanabara em 1961 e a Constituinte  de 1988. Curiosa coincidencia, pensei. Além do mais, citando o nome de uma família bastante conhecida, da qual sou admirador. E assim narrou-me Paulo Alberto: " Com o golpe militar em 1964, fui exilado inicialmente na Bolivia, depois fui para o Chile", e lá na terra do premio Nobel de literatura -  Pablo Neruda - cheguei a ser diretor da TV estatal chilena. O exílio deixou marcas traumáticas naqueles que são suas vítimas". Declarou, o meu interlocutor.  Estava ávido para saber onde entrava a familia Abreu, nessa conversa tão intrigante. Prosseguiu dizendo "que  ao chegar no Chile, os brasileiros exilados foram se aproximando, fazendo reuniões, e discutíamos, para sabermos o nosso destino nesse país tão acolhedor". E não pára o seu discurso, e continuou com a sua voz suave e pausada: "observava nas reuniões a postura de Zoila Abreu, sempre muito lúcida  nas suas análises,   vaticinou que os militares, ficariam por muito tempo no poder Zoila estava certa, pois os militares permaneceram longos anos no poder". Ela foi exilada no Chile juntamente com o seu filho Ib Teixeira, ex-Deputado no Rio de Janeiro, e ferrenho adversário do então governador do Rio de Janeiro , Carlos Frederico Werneck de Lacerda. A militante política de esquerda - Zoila Abreu - de ascendencia das alterosas são pedrenses, foi homenageada, por iniciativa da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, e o seu nome consta numa rua na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.