24 de fevereiro de 2015

Rio 450 anos

O Rio comemora 450 anos.  Raro é o brasileiro que não tenha  um parente no Rio, por diversos fatores: êxodo rural, mercado de trabalho, oportunidade de  estudos técnico/científico, ou por um amor desesperado. O Rio acolhe gente de todo o Brasil e desde a Armênia até Xique-Xique na Bahia comentar. O carioca  é um contumaz bem humorado. Curiosamente foram editadas mais de 1500 músicas em homenagem a Cidade Maravilhosa. Pela BR 101, sentido Mimoso do Sul/Rio, aproximadamente, após  três horas e meia de viagem, aparece a placa indicativa -  Alcântara -  em seguida passando por São Gonçalo, em direção ao centro de Niterói,  despontam o "Caneco Gelado do Mário", Mercado São Pedro e mais recentemente na praia boa viagem o MAC - Museu de Arte Contemporânea -  obra de Niemeyer. Atravessando a ponte que conduz ao Rio, na descida o desvio pela Rodovia Washington Luiz, Duque de Caxias de Tenório Cavalcanti, Petrópolis, Teresópolis, Guapimirim e Xerém ( leia-se Zeca Pagodinho) e todos são cariocas.  No retorno Nova Iguaçu, outrora terra dos laranjais, Nilópolis da Beija-Flor. E depois o bairro que ostenta a homenagem ao poeta Vicente de Carvalho. Na sequência  Pavuna e mais à frente  chega-se a Avenida  Suburbana, rebatizada como Avenida Dom Helder Câmara (bela homenagem), e chega-se  na legendária Madureira, com o Mercadão e a Serrinha do Mestre Darci do jongo. No  jongo reside uma das mais significativas  origens do  samba. E  a tradicional Portela, de Paulo Benjamin de Oliveira, mais conhecido como Paulo da Portela. O cinema Imperator no Meier  se transformou em Centro Cultural João Nogueira, intérprete e compositor incluído na história do samba. Pela Dom Helder, os bairros de Cascadura, Pilares, Quintino, terra do Zico Galinho, Piedade, Abolição e o Clube River, palco de grandes bailes.  Num passe de mágica automotora, eis-me no Chopão de Ramos. No setor da  Leopoldina temos a Penha,  Alemão, Bonsucesso, Grotão e  retornando o bairro do Higienópolis, com a famosa e longa  Darke de Mattos. Na Praça da Bandeira, passando pela Tijuca, outrora dos riquinhos, depois do  Metro-Tijuca(cinema) em direção a Usina à direita da Conde de Bonfim,  junto ao Verinha(buteco) situa-se a  rua Uruguai, quase esquina com a rua Gen. Espirito Santo Cardoso, o Bar do Abrahão ( ex-Rei Momo do carnaval do Rio nos anos 1960), hoje frequentado por Osmar Frazão, a enciclopédia da música brasileira. A  Muda, e a  Praça  Xavier de Brito – dos cavalinhos e cabritinhos puxando charretinhos para as  crianças – e na Usina do Colégio Irmãos Maristas, próximo a estrada do Alto da Boa Vista. Antes um obrigatório “pit-stop”, no Bar das Pombas, que oferecia música, com um pequena nascente dentro do estabelecimento, dando-lhe um ar etílico-bucólico. E dirijo para a Barra da Tijuca,  indo para direto para a Cidade de Deus - comunidade do escritor Paulo de Deus - que é a entrada de Jacarepaguá com dezenas de largos  sub-bairros como  Tanque, Taquara, Pechincha, Estrada do  Pau-Ferro, Praça Jauru. Voltei pela Estrada dos Bandeirantes, via Curicica até a animada casa musical -  Balaio Grande -   encontrei os amigos Ivo e  Mara ouvindo – Ronda – e bebendo chopinhos. O amigo Ivo irmanou no Sindicato durante a ditadura militar, acrescentando-se os amigos  Olavo, João Álvares e outros. Com certeza, faltarão algumas citações, a Mangueira, ou a Estação Primeira de Dona Neuma, Cartola e  Nelson Cavaquinho – São Cristóvão, a Feira Nordestina e o grande poeta cordelista  Raimundo Sant'Helena, com o São Januário lusitano. Salve o Vasco da Gama.  E ao centro na Praça Onze, a lendária Rua Pinto de Azevedo, frequentada pela juventude e todas as faixas etárias, que buscavam aventuras  erótico-amorosas.  Na  rua da Carioca o Bar Luiz, ex-Adolfo, que oferece  chopp schnitt e salsichon. E antes de “pegar” o Aterro do Flamengo, eis o Amarelinho na Cinelândia de frente para o Teatro Municipal - a lembrança do tenor carioca Paulo Fortes –  e a ausência do Palácio Monroe, (onde funcionava o Senado Federal, e em  1930 Getulio Vargas amarrou os cavalos, e arrebatou o poder por 15 anos), um "pulo" no Capela que foi reduto do cantor Blecaute, para degustar um guisado de cabrito, com chopp na meia-pressão. Um breve retorno  desembarquei na  original Taberna da Glória, para encontrar  o amigo Winston Garcia  Moreira, com a intenção de visitar a AME – uma surreal Associação Matogrossense dos Estudantes – no Catete. Eis que na Taberna da Glória, lá estava o ícone do samba de roda, descoberta tardiamente (ainda bem) pelo historiador e compositor Hermínio Belo de Carvalho – a querida e saudosa Clementina de Jesus. En passant no Bar do Hotel Argentina, e encontrar Olimpio José de Abreu, e  beber a cristalina inteligência dele, e em seguida visitar o restaurante Lamas que não fechava suas portas, e estando sempre de plantão o gentil garçon Vieira, a servir  Botafogo, esse é o mais simpático bairro do Rio, quer pelo nome, quer por ter acolhido o Fofoca, bar que foi uma casa de bambas do samba de raiz. Roberto Luiz Santos Silva foi sempre assíduo. Ao lado o Humaitá, tendo a  Cobal - com aprazível praça de alimentação - bairro da Márcia, Rachel, Ricardo e meu também.  O Aurora na época do “Seu Manel”,  foi restaurante  de pratos honestos e disputados. Com Aurélio, Roberto, Ignácio e o  tricolor Reinildo -  morador do simpático Moneró na Ilha do Governador -  foram várias as tertúlias na boca da noite. Foi n'Aurora que Miucha, filha do sociólogo e historiador Sergio Buarque de Hollanda, informou à mesa que o pai dela tinha vivido em 1932, na cidade de  Cachoeiro do Itapemirim,  na casa dos Veira Cunha .  Copacabana é de Rubem Braga, Manuel Bandeira, Antonio Maria e Carlos Alberto Ferreira Braga, também conhecido como  Braguinha, compositor  da música- hino:  “ Copacabana" a princesinha do mar.  Do Leme ao Pontal, assim cantou Tim Maia, carioca da rua do Matoso. O Leme se destaca por ser  um bairro em que “todos se conhecem”, assim dizia Artur da Távola na sua meteórica estada pelo bairro.  Não tive a oportunidade de frequentar  o bar-restaurante -  Sereia do Leme -  onde o poeta Manuel Bandeira,  por lá aparecia de forma bissexta, diferentemente do Humberto, de quem foi amigo. Ao fazer o retorno, eis o Beco das Garrafas, onde nasceu a Bossa-Nova, e depois surgiram algumas “casas de saliência”, como a New Monique, Don Juan e outras. Pela Rua Sá Ferreira, acima o Pavão Pavãozinho, vi pela primeira vez (in live)  um individuo da comunidade portar um moderno fuzil-metralhadora. Nessa rua morou Lady Laura durante muitos anos, no Edifício Lisboa. Ipanema é a “jóia da coroa”. Tendo como testemunha o amigo Debret, morador há anos na rua Vinicius de Moraes, vindo diretamente de Morro do Côco. Ipanema não se comparação em todo o universo, ressaltando infelizmente a violência, é um bairro que se encontra de tudo, desde o Veloso (hoje é Garota de Ipanema)  até  cerzideira. Certa vez a vi um cartaz anunciante essa invulgar profissão. Um lugar  encantador, com muitas livrarias, teatro e cafés culturais. E o Leblon com seus metros quadrados mais caros do Brasil, é um bairro muito chique onde morou o escritor baiano-carioca – João Ubaldo Ribeiro -  que assinava o ponto no bar Tio Sam na gastronômica Rua Dias Ferreira. E no butiquin  Clipper, chopps emergenciais e cremosos  com o  amigo Marco Gifoni. Pela avenida Niemeyer se encontra o simpático Vidigal, que depois de pacificado é moda entre muitos estrangeiros, artistas, arquitetos,  quer pelo magnífico visual, quer pelo peculiar modus-vivendi da comunidade, sem contar com o samba. O Rio é de todos, de  Hilton Abi-Rihan, Tom, Vinicius e  de Moreira da Silva.