O Rio comemora 450 anos. Raro é o brasileiro que não tenha um parente no Rio, por diversos
fatores: êxodo rural, mercado de trabalho, oportunidade de estudos técnico/científico, ou por um amor desesperado. O Rio acolhe
gente de todo o Brasil e desde a Armênia até Xique-Xique na Bahia comentar. O carioca é um contumaz bem humorado. Curiosamente foram editadas mais de 1500 músicas em homenagem a Cidade Maravilhosa. Pela BR 101, sentido Mimoso do Sul/Rio, aproximadamente, após três horas e meia de viagem, aparece a placa indicativa - Alcântara - em seguida passando por São
Gonçalo, em direção ao centro de Niterói, despontam o "Caneco Gelado do Mário", Mercado São
Pedro e mais recentemente na praia boa viagem o MAC - Museu de Arte Contemporânea - obra de Niemeyer. Atravessando a ponte que conduz ao Rio, na descida o desvio pela Rodovia Washington Luiz, Duque de Caxias de Tenório Cavalcanti, Petrópolis, Teresópolis, Guapimirim e Xerém ( leia-se Zeca Pagodinho) e todos são cariocas. No retorno Nova
Iguaçu, outrora terra dos laranjais, Nilópolis da Beija-Flor. E depois o bairro que ostenta a homenagem ao poeta Vicente de Carvalho. Na sequência Pavuna e mais à frente chega-se a Avenida Suburbana, rebatizada como Avenida Dom Helder Câmara (bela
homenagem), e chega-se na legendária Madureira, com o Mercadão e a Serrinha do Mestre Darci do jongo. No jongo reside uma das mais significativas origens do samba. E a
tradicional Portela, de Paulo Benjamin de Oliveira, mais conhecido como Paulo da Portela. O cinema Imperator no Meier se transformou em Centro Cultural João
Nogueira, intérprete e compositor incluído na história do samba. Pela Dom Helder, os bairros de Cascadura, Pilares, Quintino, terra do Zico Galinho, Piedade,
Abolição e o Clube River, palco de grandes bailes. Num passe de mágica automotora, eis-me no Chopão de
Ramos. No setor da Leopoldina temos a Penha, Alemão, Bonsucesso, Grotão e retornando o bairro do Higienópolis,
com a famosa e longa Darke de Mattos. Na Praça da Bandeira, passando pela
Tijuca, outrora dos riquinhos, depois do Metro-Tijuca(cinema) em direção a Usina à direita da Conde de Bonfim, junto ao Verinha(buteco) situa-se a rua Uruguai, quase esquina
com a rua Gen. Espirito Santo Cardoso, o Bar do Abrahão ( ex-Rei Momo do
carnaval do Rio nos anos 1960), hoje frequentado por Osmar Frazão, a enciclopédia da música brasileira. A Muda, e a Praça Xavier de Brito – dos cavalinhos e cabritinhos
puxando charretinhos para as crianças – e na Usina
do Colégio Irmãos Maristas, próximo a estrada do Alto
da Boa Vista. Antes um obrigatório “pit-stop”, no Bar das Pombas, que oferecia música, com um
pequena nascente dentro do estabelecimento, dando-lhe um ar etílico-bucólico. E
dirijo para a Barra da Tijuca, indo para direto para a
Cidade de Deus - comunidade do escritor Paulo de Deus - que é a entrada de Jacarepaguá
com dezenas de largos sub-bairros
como Tanque, Taquara, Pechincha, Estrada do Pau-Ferro, Praça Jauru. Voltei pela Estrada dos Bandeirantes, via Curicica até a animada casa musical - Balaio Grande - encontrei os amigos Ivo e Mara ouvindo – Ronda – e bebendo chopinhos. O amigo Ivo irmanou no Sindicato durante a ditadura militar, acrescentando-se os amigos Olavo, João Álvares e outros. Com certeza, faltarão algumas citações, a Mangueira, ou
a Estação Primeira de Dona Neuma, Cartola e Nelson Cavaquinho – São Cristóvão, a Feira Nordestina e o grande poeta cordelista Raimundo Sant'Helena, com o São
Januário lusitano. Salve o Vasco da Gama. E ao centro na Praça Onze, a lendária Rua
Pinto de Azevedo, frequentada pela juventude e todas as faixas etárias, que buscavam aventuras erótico-amorosas. Na rua da Carioca o Bar Luiz, ex-Adolfo,
que oferece chopp schnitt e salsichon. E antes de “pegar” o Aterro
do Flamengo, eis o Amarelinho na Cinelândia de frente para o Teatro Municipal - a lembrança do tenor carioca Paulo Fortes – e a ausência do Palácio Monroe, (onde funcionava o Senado Federal, e em 1930 Getulio Vargas amarrou os cavalos, e arrebatou o poder por 15 anos), um "pulo" no Capela que foi reduto do cantor Blecaute, para degustar um guisado de cabrito, com chopp na meia-pressão. Um breve retorno desembarquei na original Taberna da
Glória, para encontrar o amigo Winston Garcia Moreira, com a intenção de visitar a AME – uma surreal
Associação Matogrossense dos Estudantes – no Catete. Eis que na Taberna da Glória,
lá estava o ícone do samba de roda, descoberta tardiamente (ainda bem) pelo historiador
e compositor Hermínio Belo de Carvalho – a querida e saudosa Clementina de
Jesus. En passant no Bar do Hotel Argentina, e encontrar Olimpio José de Abreu, e beber a cristalina inteligência dele, e em
seguida visitar o restaurante Lamas que
não fechava suas portas, e estando sempre de plantão o gentil garçon Vieira, a servir Botafogo, esse é
o mais simpático bairro do Rio, quer pelo nome, quer por ter acolhido o Fofoca,
bar que foi uma casa de bambas do samba de raiz. Roberto Luiz Santos Silva foi sempre assíduo. Ao lado o Humaitá, tendo a Cobal - com aprazível praça de alimentação - bairro da Márcia, Rachel, Ricardo e meu também. O Aurora na época do “Seu Manel”, foi restaurante de pratos honestos e disputados. Com Aurélio,
Roberto, Ignácio e o tricolor Reinildo - morador do simpático Moneró na Ilha do Governador - foram várias as tertúlias na boca da noite. Foi n'Aurora que Miucha, filha do sociólogo e historiador Sergio Buarque de Hollanda, informou à mesa que o pai dela tinha vivido em 1932, na cidade de Cachoeiro do Itapemirim, na casa dos Veira Cunha . Copacabana é
de Rubem Braga, Manuel Bandeira, Antonio Maria e Carlos Alberto Ferreira Braga,
também conhecido como Braguinha, compositor da música- hino: “ Copacabana" a princesinha do mar. Do Leme ao Pontal, assim cantou Tim Maia,
carioca da rua do Matoso. O Leme se destaca por ser um bairro em que “todos se conhecem”, assim
dizia Artur da Távola na sua meteórica estada pelo bairro. Não tive a oportunidade de frequentar o bar-restaurante - Sereia do Leme - onde o poeta Manuel Bandeira, por lá aparecia de forma bissexta, diferentemente do Humberto, de quem foi amigo. Ao fazer o retorno, eis o Beco das Garrafas, onde nasceu a Bossa-Nova, e depois
surgiram algumas “casas de saliência”, como a New Monique, Don Juan e outras. Pela Rua Sá
Ferreira, acima o Pavão Pavãozinho, vi pela primeira vez (in live) um individuo da
comunidade portar um moderno fuzil-metralhadora. Nessa rua morou Lady Laura
durante muitos anos, no Edifício Lisboa. Ipanema é a “jóia da coroa”. Tendo como testemunha o amigo Debret, morador há anos na rua Vinicius de Moraes, vindo diretamente de Morro do Côco. Ipanema não se comparação em todo o universo, ressaltando
infelizmente a violência, é um bairro que se encontra de tudo, desde o Veloso (hoje é Garota de Ipanema) até cerzideira. Certa vez a vi um cartaz anunciante essa invulgar profissão. Um lugar encantador, com muitas livrarias, teatro e
cafés culturais. E o Leblon com seus metros quadrados mais caros do Brasil,
é um bairro muito chique onde morou o escritor baiano-carioca – João Ubaldo Ribeiro -
que assinava
o ponto no bar Tio Sam na gastronômica Rua Dias Ferreira. E no butiquin Clipper, chopps emergenciais e cremosos com o amigo Marco Gifoni. Pela avenida
Niemeyer se encontra o simpático Vidigal, que depois de pacificado é moda entre muitos estrangeiros, artistas, arquitetos, quer pelo magnífico visual,
quer pelo peculiar modus-vivendi da
comunidade, sem contar com o samba. O Rio é de todos, de Hilton Abi-Rihan, Tom, Vinicius e de Moreira da Silva.
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