31 de março de 2013

Uma canção desesperada de amor


Desfruto de um crepúsculo dourado. Suave, e esmaecendo quase imperceptível, e os pássaros em revoada, buscam seus lares, seus ninhos, sendo alguns esféricos, tornando-os aconchegantes. É o arremate do dia, espetáculo cromático, é observar o dia morrediço, para renascer com o mesmo andamento harmônico, na alvorada das manhãs. Há um ambiente de solidão, próprio para a meditação, dita transcendental, que após anos na iniciação monástica, dizem que os monjes do Tibete conseguem separar o corpo da alma. Imagino voando feito falcões ou ninjas, rasgando os ares. No inicio do poente do movimento crespuscular, se apresenta com uma intensa luminosidade, energizada pelo sol oculto na linha do horizonte. Nuvens purpúreas matizam os céus como testemunhas do momento-ômega. As árvores, com as suas folhas, estão inamovíveis diante da chegança da escuridão, que desemboca na profunda boca-da-noite. Eis a noite soturna, sorrateira adentrando em todos ao espaços, camuflando as cicatrizes da alma, e a fauna e flora. E a noite-guardiã a proteger o direito natural ao "repouso" da mãe natureza. E o negrume de repente é emoldurado pela encabulada, romântica e discreta lua crescente, com algumas centelhas de luzes, anunciando-a no firmamento, feito uma vésper. Tudo está a meia-luz, lembrando um tango de Gardel. E nessa fase enluarada, é um “abat-jour”, que suaviza a intensidade da luz, e acaricia o olhar de quem procura ler uma poesia. E a noite é longa, como uma serenata, regada de versos, tal qual o sonho do trovador. A noite é insone, e não se cansa, e se regenera feito camaleoa, igual a uma canção desesperada de amor, vinda nas asas das brisas andinas.

23 de março de 2013

Cores e matizes


A roupa bonita disfarça a solidão, igual a vegetação que  engana o deserto, e traz algum conforto. A indumentária possui esse efeito mágico e imagético.  Há uma conspiração entre o estar só  e a camuflagem da estética, fazendo bem aos olhares. Há um vazio na existência humana com todas as cores e matizes. No contexto do vácuo, se instala todos os tons...cinzas e lilases. Nessa ambiência, se desperta a dúvida,   vizinha da consciência mais lúcida -  viver não é preciso, navegar é preciso -  como gravou o poeta lusitano, Fernando Pessoa. Eis a reedição da ação hamletiana, diante das disjuntivas da vida. Contudo a inação toma conta. A palavra perde o seu frescor. A (in)certeza,  se deve seguir esse ou aquele atalho? ou desistir? Faz-se presente a inércia. É assim mesmo, o maestro rege melhor a orquestra conhecendo os músicos, e a obra. Há um instante profético, misterioso, de acordo com  Sergiu Celibidache -  talentoso maestro romeno - que não apreciava ser gravado, e justificava: uma audição ao vivo é algo ímpar, é o desfrute de uma oportunidade única. As sinfonias, árias e canções possuem almas, e adentram nas demais  receptivas, pois é essencialmente sensitiva. E esse instante, não se permite ser reproduzido num pen drive. É como viver os grandes momentos, que não se reeditam. Há (in)decisões que devem ser realizadas. Tal qual a florescência dos arbustos, tal qual o luar, que são "realidades compulsórias", morredouras para renascerem. Na contextualização ora citada, inesgotáveis são as premissas das (in)coerências do ato de existir do ser humano. Não saber qual a estrada a seguir, poderá ser uma sábia direção. Ou não.

15 de março de 2013

Morro da Palha, comunidade afro-descendente



A simpática comunidade do Morro da Palha, foi fundada em 1955, em Mimoso do Sul, próximo do extremo sul capixaba. E as primeiras familias vieram da antiga Caixa D'àgua nas imediações do Usina Hidroelétrica construida pelo governador Rubens Rangel. Os retirantes se estabeleceram no lado direito, pela rua Crispim Braga acima, no sentido Rio de Janeiro pela via férrea. O casal, Manoel Pereira e sua esposa Elcia, lideraram esses novos moradores, na busca da felicidade, através de um abrigo, de uma casa, que é a simbologia maior, para se sentir dentro do princípio inicial da cidadania. E junto, com o casal, a ninhada de filhos, a saber: Margarida, Osvaldo, Maria da Penha, Luci, Manoelita, Jair e Marlene. Num sistema de mutirão, construiram meia duzia de barracas de pindoba e, e cobertas das palhas de sapê. Nessa embrionária comunidade, foi onde se deu origem ao toponomio: Morro da Palha. Vieram em seguida outras famílias, da Pequetita, Josefina(cujo a apelido era "Kalil Morreu"), Joaninha, auxiliar de enfermagem e rezadeira com fé, Filipina, Chico Pedro, Alcebíades, Dona Floripe mãe da Dona Sebastiana, casada com João Azevedo, e mãe do Avides Azevedo, e tantos outros (Dona Sebastiana, longeva, morreu com mais de 100 anos), Alberto Faustino, Lourdes esposa do professor Pitacus, que lecionava quimica, no colégio local. Alguns moradores afirmam, ter sido ele oficial da marinha grega, e que por aqui aportou. Lourdes deu-lhe uma filha. Essa narrativa, ainda criança fez-me lembrar do Quarentinha,(em homenagem ao craque do Botafogo) José Carlos (Tim), Dagmar, Xanfrado, Calango, ou Pé Redondo, e o Joci, que suportava sobre a cabeça, tres sacos de café. Era um hércules, pela sua força física, todavia, foi precocemente vencido pelo alcoolismo. O Morro da Palha com as suas casas de alvenaria, creche, ruas calçadas, luz, e água potável, está plenamente integrado ao conjunto da sociedade local. E para coroar a performance do bairro, o funcional sopão da Rosinha, com a ajuda de todos, alimenta os mais carentes, bem como o providencial asilo.

PS.: Essa matéria teve a inestimável colaboração do Bento.

12 de março de 2013

Papa Bento XVI, cardeal Ratzinger

A renúncia do cardeal José Ratzinger, foi uma surpreendente atitude, pois na idade moderna, há 600 anos, um papa não solicitava esse direito, que é de abrir mão do cargo mais importante da Igreja católica. Há diversas versões, contudo uma é inquestionável: o ex-papa não estava satisfeito, na condição de chefe da igreja católica. Algumas vísceras foram expostas, desde a corrupção no Banco do Vaticano, passando pela divulgação de documentos secretos, atribuído ao mordomo do papa - aliás o mordomo é sempre culpado em muitos filmes de suspense – e por fim a prática de pedofilia por alguns bispos. E assim caminha a humanidade. Os templos evangélicos não-pentencostais - são àqueles que não praticam o batismo – crescem em progressão geométrica. A cada semana se inaugura uma casa de oração. O povo tem a necessidade mística e mítica, ou seja, de acreditar em algo superior e ter o mito como paradígma. Se faz necessário ter fé, e acreditar em Deus, de acordo com o dogma. As doutrinas, seitas e o sincretismo afro-religioso através da umbanda ou candomblé, são menos dogmáticos, menos rigorosos com os seus fiéis. Esses líderes não-católicos, estão sempre disponíveis para atender os seguidores. A igreja católica hermética e encastelada, ainda amarga a crise das ausencias vocacionais para os seminários. Por outro lado, ditam severas condições para se ordenar um diácono, como se fosse um vestibular nas universidades de Harvard ou Oxford. A igreja católica, é recomendado se atualizar, e se não o fizer, metaforicamente, poder-se-á vaticinar o seu destino, tal qual do dinossauro que enquanto vida, não resistindo as intempéries do dilúvio, desapareceu. E para complementar, padre é um ser humano como outro qualquer, possuidor das fragilidades, e das necessidades fisiológicas, inclusive a sexual. Conforme diz a biblia: crescei-vos e multiplicai-vos...(menos os padres?). No dia 13 de março de 2013, o colégio eleitoral dos cardeais, escolheu o novo Bispo de Roma, é o cardeal argentino - Jorge Mário Bergoglio - que se autodenominou como Papa Francisco. A grande novidade é ser ele, o primeiro papa, pertencente aos quadros da ordem da Companhia de Jesus. Os jesuitas, possuem vida economica própria, e são considerados, muito intelectualizados. São mais de vinte mil, espalhados pelo mundo. E no passado recente, foram simpáticos a "teologia da libertação", de inspiração marxista.