23 de março de 2013

Cores e matizes


A roupa bonita disfarça a solidão, igual a vegetação que  engana o deserto, e traz algum conforto. A indumentária possui esse efeito mágico e imagético.  Há uma conspiração entre o estar só  e a camuflagem da estética, fazendo bem aos olhares. Há um vazio na existência humana com todas as cores e matizes. No contexto do vácuo, se instala todos os tons...cinzas e lilases. Nessa ambiência, se desperta a dúvida,   vizinha da consciência mais lúcida -  viver não é preciso, navegar é preciso -  como gravou o poeta lusitano, Fernando Pessoa. Eis a reedição da ação hamletiana, diante das disjuntivas da vida. Contudo a inação toma conta. A palavra perde o seu frescor. A (in)certeza,  se deve seguir esse ou aquele atalho? ou desistir? Faz-se presente a inércia. É assim mesmo, o maestro rege melhor a orquestra conhecendo os músicos, e a obra. Há um instante profético, misterioso, de acordo com  Sergiu Celibidache -  talentoso maestro romeno - que não apreciava ser gravado, e justificava: uma audição ao vivo é algo ímpar, é o desfrute de uma oportunidade única. As sinfonias, árias e canções possuem almas, e adentram nas demais  receptivas, pois é essencialmente sensitiva. E esse instante, não se permite ser reproduzido num pen drive. É como viver os grandes momentos, que não se reeditam. Há (in)decisões que devem ser realizadas. Tal qual a florescência dos arbustos, tal qual o luar, que são "realidades compulsórias", morredouras para renascerem. Na contextualização ora citada, inesgotáveis são as premissas das (in)coerências do ato de existir do ser humano. Não saber qual a estrada a seguir, poderá ser uma sábia direção. Ou não.

2 comentários:

  1. Navegar é preciso...
    Todos deveríamos, em algum momento da existência, questionar nossa própria vida.Quem não consegue fazer questionamento será escravo da sua rotina. Será controlado pela mesmice, nunca enxergará nada além do véu do sistema. Viverá para trabalhar, cumprir obrigações profissionais, ter um papel social.Por fim, sucumbirá no vazio. Viverá para sobreviver até a chegada da morte.

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  2. Como sempre espetacular.. belas e sábias palavras maestro!Parabéns.

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