5 de novembro de 2012

A conferir

As definições de cultura são tantas e infinitas, mas uma delas, se sobressai: cultura é um conjunto de realidades regionais. Faz tempo que os arqueólogos chamam de Tupiguarani a um determinado modo de fazer e ornamentar cerâmica, atribuindo essa atividade aos falantes da lingua da família com o mesmo nome. Alguns historiadores sugerem que os colonizadores ibéricos, quer os espanhóis quanto os portugueses, chamavam de índios, os habitantes das terras descobertas, pois julgavam que estavam na India. Na época, os que não fossem europeus, eram nominados de índios, se reportando equivocadamente a India de Mahatma Ghandi. A cultura brasileira tem a sua gênese no encontro das três etnias: Os troncos tribais, Taquará-Itararé vinculada aos jês do sul, centrais e macro-jês. Aos históricos Puris e Cataguás, e outros. O toponômio Cataguases(MG), tem a sua origem na tribo Cataguás. E o colonizador, de ascendência moçárabe,( que eram os cristãos que viviam na península ibérica, leia-se, Portugal e Espanha, ocupada pelos árabes e judeus durante oito séculos, e de convivência pacífica com os católicos até 1492, ano em que foram inexplicavelmente expulsos por Isabel e Fernando, reis de Espanha) o colonizador, e os escravos vindos da mãe África, sendo a escravatura, o período mais traumático e vergonhoso da história do Brasil. É o único pais do mundo com essa formação racial daí a sua riquíssima diversidade cultural. Para ratificar essa prática cultural, contextualiza-se: “ Deve-se lembrar que existem dois modos pelos quais os homens transmitem suas características a seus descendentes : há aquelas cuja a transmissão é regulada pelas leis da genética; há outras como a língua, costumes, crenças, hábitos, que o individuo vai recebendo pouco a pouco pelo aprendizado, formal ou informal, intencional ou não, com os outros membros da sua sociedade. Ao conjunto desses elementos que não são transmitidos de modo biológico, dá-se o nome de cultura.” (Melatti, Julio Cezar, pág.33). Por aqui, nesse sudeste, quase nordeste, nas paragens da tribo dos Puris, se herdou o uso do “urucum” como ingrediente em diversos pratos da culinária brasileira, desde o arroz, e inexoravelmente na moqueca da terra de Rubem Braga. Há quem afirme que na então Sesmaria do Barão do Itapemirim, o peixe-moqueca, desde antanho era acompanhado de banana-da-terra. De usn tempos pra cá, proliferou-se o uso banana. Outro processo cultural, refere-se aos reis magos, os astrônomos que seguiram a estrela até a Jesus Cristo, e lhe ofereceram presentes. Eles são inspiradores da Folia de Reis. É uma tradição oriunda da península ibérica. O palhaço, o grande protagonista, nas comemorações declama os versos, em grande parte do tempo, incluindo algumas passagens da Biblia. Na vizinha e simpática Muqui, essa manifestação cultural existe desde 1950. A colônia sírio-libanesa contribuiu ricamente para gastronomia local, desde os merches, quibes e humus terrine, e até na práxis da ética e do respeito ao próximo. Nos anos dourados desse condado, dos anos 40 até o final dos anos 60, inaugurou-se em 1953, o cine teatro S.José, e a trouppé da Rádio Nacional desembarcou por aqui, e a tira-colo, o Renato Murce, mal comparando era o Pedro Bial, o acompanhava - Baden Powell de Aquino - um dos maiores violonistas mundo. Certa vez, a pedido do Palácio Buckingham, onde reside a Rainha Elizabeth, ele compôs uma peça musical para violão e orquestra, e foi o solista, quando da apresentação, para a realeza. Outras bandas famosas se apresentaram no Municipal Litero Clube, tais como Waldir Calmon, Cassino de Sevilha, Windsor e outras. Essa cidade é musical, pode ser um lastro deixado por aqueles que antecederam. A conferir.

2 de novembro de 2012

São Jorge



Na época traumática da escravatura brasileira; não era permitido professar quaisquer crenças que não fosse a católica, religião oficial do colonizador. Consequentemente a prática do sincretismo afro-religioso era proibido, e diante do veto imperial, os escravos rebatizaram seus ícones místicos; escamoteados sob o manto dos santos da época.
Ogum, entidade da Umbanda e do Candomblé, diante da rigorosa proibição, passou a ser cognominado no Rio de Janeiro de São Jorge, sendo que na Bahia é Santo Antonio, e curiosamente em Cuba, é São Pedro. A história remete à existência de São Jorge, na Turquia, na região da Capadócia, onde ele teria vivido e praticado um ato heróico e milagroso: o resgate de uma mulher das garras de um dragão.
No centro do Rio de Janeiro a igreja de São Jorge, no Campo de Santana, é sobremaneira concorrida, principalmente em 23 de abril, data santificada e feriado municipal na Cidade Maravilhosa. Jorge foi decapitado na cidade de Lida, Palestina por volta do ano de 303 dC. O seu feito correu o mundo, e desde então, a sua popularidade é alta. É aclamado nas liturgias católica, anglicana e ortodoxa. É "santo protetor" na Inglaterra, Portugal, Georgia, Catalunha e Lituania. Em sua homenagem, eis alguns homônimos: Jorge Washington, primeiro presidente dos Estados Unidos, e os escritores: o inglês Jorge Orwell, e o saudoso baiano Jorge Amado, um "Obá", iniciado nos terreiros de Menininha do Gantois. É um profundo conhecer da cultura e dos mistérios da Bahia. Para acrescentar, São Jorge é patrono da Cavalaria do Exército Brasileiro. Por ausência de provas o Santo Ofício ressuscitado, leia-se a Santa Sé, "cassou-lhe" a patente de santo. Contudo no imaginário coletivo, continua "vivo" para multidões que acreditam no seu poder milagreiro.

Pesquisa:
Os santos de cada dia - J.Alves - Ed.Paulinas
São Jorge - Rizzardo da Camino - Ed.Eco