24 de janeiro de 2012

Túnel do tempo

Creio que o mundo todo, carrega no imaginário  popular, tipos interessantes, surrealistas e outros. No interior, esses personagens são mais presentes, pois, interagem de perto com  a comunidade. Os fatos e seus atores, habitam o insconsciente coletivo, tendo a memória ( que se perde ) como testemunha,  relatando aos descendentes, os contos  que se supõem, passam de geração a geração. Na década de 1960 em diante, uma personagem quase folclórica, de nome Etelvina, conviveu entre  essas terras, onde passou, presume-se,  o jesuita José de Anchieta em direção a Reritiba, hoje Guarapari. Daí, a vem a lembrança dos versos: Etelvina,  acertei no milhar, ganhei 500 contos, não vou mais trabalhar... como cantou Moreira da Silva. A Etelvina daqui, possuia um apelido, era conhecida jocosamente, como :  Kalil morreu, e urubu comeu. Kalil, era uma alusão a um imaginário “namorado”, que nunca existiu. Quando assim era chamada, em quaisquer ambientes, irritada dizia os palavrões mais arrepiantes possíveis. Hoje os ditos "palavrões" estão (des)moralizados, não produzem o efeito como no  passado, nem tão longínquo. Contemporaneo da Etelvina, foi o Puxavante, que claudicava da perna esquerda, e era da cor do ébano. De baixa estatura, possuia um porte físico atarracado e era quase corcunda. Nas noites, se abrigava sob as  largas portas da estação ferroviária. A sua cama era uma folha de jornal. Se alguém o provocasse, chamando-o, de Puxante ladrão de galinha. Ele não xingava, contudo, partia para cima, e com um mediano e roliço porrete para agredir o sujeito, que se não corresse, apanhava igual pandeiro na mão de Aleixo. O comunicador Hilton Abi-Rihan conta, que certa vez, Puxante  vagando pelas ruas, nas   altas horas da madrugada, falou para si mesmo : se eu achar uma moeda, prometo, doarei para a N.Senhora na gruta. Eis que de repente a encontrou depositada entre o meio-fio e o calçamento.  E retrucou : a gente não pode nem brincar.  No fim da sua vida, Puxavante, velho e adoentado, foi amparado pela generosa Nasle Acha, e sua filha Adélia e a governanta Leocádia. O  outro personagem , de fácil memória,  era o Sabugo Temperani, esquálido e de boa estatura, com algumas cicatrizes na face, parecendo serem sequelas de varicela ou catapora. A  mãe dele, atendia pelo bizarro apelido de Raposa, e morava no Alto San Sebastian. Sabugo possuía um olhar misterioso,  igual ao de Norman Bates  do filme – Psicose - película de terror, interpretado por Anthonny Perkins e dirigido pelo mestre da sétima arte - Alfred Hitchcock. Sabugo Temperani, andava noturnamente, e causava medo na molecada. As mães, diziam mais ou menos assim : meu filho,se você não se alimentar, vou chamar o Sabugo.  Nos dias atuais, não é uma  praxis educacional recomendada, mas era assim que funcionava. Curiosamente, chegou a trabalhar na construção da usina hidrelétrica local, pois sabia ler e uma invejável caligrafia. O canteiro de obras, ficava num lugar conhecido como "mata-fome", pela quantidade imensa de lambaris, que são as piabinhas, que fritas, e acompanhadas com angu mole, é uma iguaria da melhor qualidade e atual, dentro dos padrões dietéticos: uma proteina e um único carboidrato Certo dia Sabugo Temperani, que não dava  a mínima importancia para  dinheiro ( seu pagamento ficava na empresa, e não o recebia. Se alimentava e dormia no local do trabalho).  numa certa manhã, saiu com o seu bornal a tira-colo, e desapareceu nas estradas da vida, talvez sem destino. Ou foi para Katmandu.  E por último, nada melhor do que rememorar, outro tipo, cujo o apelido era  Papo Amarelo. Por ser beato, certa ocasião, acompanhando  uma procissão, na qual os fiés entoavam  cânticos litúrgicos. Eis que um gaiato, no  na pasagem do cortejo, o chamou em alto e bom som:  Papo Amarelo. Impávido, continuou caminhando, e o respondeu no mesmo tom do hino religioso, e sem desafinar, solfejou :” Bendito, louvado seja, Papo Amarelo, é a puta que pariu ...”



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