19 de fevereiro de 2011

João Graveto, o arquiteto

O nome científico desse pássaro, dentro de uma convenção universal, foi batizado em latim como phacellosdomus rufifrons – da ordem da família dos passeriformes, ou é também conhecido por diversos outros pseudônimos populares, por esse Brasil afora... Na Bahia, de Jorge Amado, recebe a alcunha de João-carrega-madeira, e nas alterosas Minas Gerais, de João Peneném! No nordeste atende pelo nomes de João-garrancho, João-de-pau, teotônio, casaca-de-couro e outros...

Por essa região sudeste, é conhecido como João Graveto, até porque constrói sua casa dos mesmos, carregados um a um pelo casal, ou em mutirão entre os seus pares. Mais uma vez nos ensina a mãe natureza, o princípio da solidariedade. Seu ninho em forma de cone, poderá chegar aos extremos, medindo até dois metros de comprimento. Esse pássaro de pequeno porte tem dezesseis centímetros do seu bico até o final da sua cauda. De cor meio amarronzada, tem a cabeça mais escura... e uma leve linha superciliar clara e com riscado negro e fino, após os olhos. Sua cauda é longa...

pássaro

O casal João Graveto é musical! Entoam em duo, e um deles inicia um lindo cântico, e na sequência, o segundo responde, emitindo um canto-risada, mais curto, e levemente acelerado, no final!

Cantam e encantam livremente, até dentro do ninho.

O João Graveto se alimenta de insetos nas árvores, e aqueles encontrados na terra. Infortunadamente, recebem visitas indesejáveis, tal qual o João-Pinto, da espécie Icteridae que invade o ninho do João Graveto, desapropiando-o. A resistência é vigorosa por parte dos legítimos donos do "imóvel". O João-Pinto atende também como Corrupião, Sofrê ou Rouxinol - pássaro que emite um dos sons mais maviosos da flora brasileira - são diversos os marimbondos invasores, tais como: tapiucaba, chapéu, caçador, caboclo, pastel, chumbinho, santo e outros. Assim ensina o mestre-mateiro - Abrahmo Nazzari - um dos maiores conhecedores da flora e da fauna de parte expressiva da Mata Atlântica. Ele é o reitor da "Universidade da Floresta e dos seus mistérios", que numa avaliação num centro de excelência do conhecimento, pelo seu notório saber, seria laureado com o título de doutor honoris causa. Quando da invasão das suas casas, todos os João-Gravetos ao derredor entoam um movimento musical - molto vivace - que em uníssono, pedem socorro aos membros da sua família, para conterem os saqueadores. Após essas contendas, os ninhos poderão ser abandonados.

Os João-Gravetos após terminarem o primeiro ninho, em sequência iniciam a construção de um outro, e assim sucessivamente. No interior do ninho montam uma aconchegante câmara incubadora, protegida por uma forte camada de penas ou paina, de formato esférico. Essa câmara tem por finalidade receber seus futuros filhotes. Esses casulos são geralmente localizados em árvores isoladas e nas extremidades dos arbustos, que vergam e não rompem.

ninho

O João-Graveto é por demais desconfiado, e dificilmente se consegue observá-lo. Está sempre oculto entre as folhagens... Voa velozmente para o seu destino. A porta de entrada da sua casa é feito um labirinto. Por segurança, é quase impossível localizar a porta, por onde adentram esses pássaros-arquitetos, aos seus lares. Curiosamente, se um ninho é avariado por um forte temporal, e cai ao chão, João Graveto reaproveita os ramos, e nessa reengenharia rapidamente reconstrói sua casa.

Essas pequenas aves são bons exemplos de determinação e garra, tenazmente edificam seus ninhos. Alguns projetos na vida deveriam se pautar na corajosa capacidade do João-Graveto de edificar seus lares, resistindo bravamente aos seus perversos adversários. Eles não renunciam da nobilíssima tarefa de construírem os seus abrigos. O João-Graveto é paradigmático.

3 comentários:

  1. muito boa a explicação valeu.

    ResponderExcluir
  2. Muito interessante e apresentado de forma didática. Esses ninhos exóticos sempre me despertaram a maior curiosidade de saber como é iniciada sua construção. A colocação dos primeiros gravetos deve ser um desafio para o engenheiro.

    ResponderExcluir