15 de dezembro de 2016

Adega Pérola



Cumulus nimbus, nuvens  plenas de água, que por fenômeno climatológico  se soltam como chuva, e irrigam, fertilizam, limpam e saciam a sede da humanidade. Dizem que a flora é a moldura da terra, como se fosse a madeixa dela. A chuva goteja, pinga, filtra e inunda. Os ribeirinhos correm velozmente para o rio maior, e diluem-se num outro, e se misturam na água salgada, e nos sete mares  perde o seu paladar original para sempre.  Chove copiosamente, à cântaros, a canivetes na terra dos índios puris, primos dos avá-canoeiros. Na chuva assim, os passarinhos se ausentam, bem como o encantador beija-flor.  Com a umidade, as asas molhadas ficam pesadas, e comprometem a aerodinâmica dos voos. Os riachos golfam sem parar. Então o nível da água sobe, sorrateiramente. E  invade  a cama, as roupas, os retratos da família,  os livros de autoria de  Jorge Amado, Jorge Luis Borges e Tchecov. Perdem-se  memórias. Ela se repete, de quando em vez, até  tornar-se igual o mal de Alzheimer. Jorge Alberto, índio aculturado, meu amigo, e contumaz frequentador da Adega Pérola, ensinou que não há enchentes nas florestas, acontecem as cheias que fazem parte da fenomenologia regional.

Nenhum comentário:

Postar um comentário