Cumulus nimbus, nuvens
plenas de água, que por fenômeno climatológico se soltam como chuva, e irrigam, fertilizam,
limpam e saciam a sede da humanidade. Dizem que a flora é a moldura da terra,
como se fosse a madeixa dela. A chuva goteja, pinga, filtra e inunda. Os
ribeirinhos correm velozmente para o rio maior, e diluem-se num outro, e se
misturam na água salgada, e nos sete mares perde o seu paladar original para sempre. Chove copiosamente, à cântaros, a canivetes na
terra dos índios puris, primos dos avá-canoeiros. Na chuva assim, os
passarinhos se ausentam, bem como o encantador beija-flor. Com a umidade, as asas molhadas ficam
pesadas, e comprometem a aerodinâmica dos voos. Os riachos golfam sem parar. Então o nível da água sobe, sorrateiramente. E invade a
cama, as roupas, os retratos da família, os livros de autoria de Jorge Amado, Jorge Luis Borges e Tchecov. Perdem-se memórias. Ela se repete, de quando em vez, até tornar-se igual o mal de Alzheimer. Jorge Alberto, índio aculturado, meu amigo, e contumaz frequentador da
Adega Pérola, ensinou que não há enchentes nas florestas, acontecem as cheias que fazem parte da fenomenologia regional.
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