27 de março de 2014

Hibisco



É possível que imputem-nos manobras arriscadas, para escolhermos  caminhos a serem (per)seguidos ao longo de uma vida ... o famoso filósofo e ensaísta espanhol, José Ortega y Gasset, cunhou a  frase : eu sou eu, e minhas circunstâncias. Em suma, cada um deve saber de si. E cada qual usa as suas defesas para preservar o status quo que conquistou durante a extensa caminhada que o destino lhe reservou, ou não.
E outros dizem ser assim: cada um colhe o fruto da semente plantada, aqui ou alhures. Os embates da vida pressionam  tomadas de difíceis posições. Tantas, e inúmeras ocasiões, tal qual a misteriosa a esfinge, que se comporta friamente, e corta na carne, mas não renuncia da sua tarefa mitológica, quando decreta: decifra-me ou devoro-te.
Isso se (des)encaixa noutro enigma – o do amor – e a sua (im)ponderável leveza ou a sua peculiar (in)coerência, emoldurado pelo (in)visível.  É assim mesmo...é como as quatro notas iniciais da popular quinta sinfonia de Beethoven, que certa vez, ele assim declarou : é a maneira, como o destino bate à sua porta: (in)esperado, vigoroso e arrebatador. Outros desafios, são colocados na távola redonda, onde pratica  o jogo da vida. E o cacife é alto. Se aposta é o ser versus o ter...o ser, é uma oração subordinada da sociedade do espetáculo. Das claríssimas e imensas lâmpadas de néon...símbolizadas no ocidente pelas luzes da Broadway. Contudo, existem outras luminosidades espalhadas em todo o mundo...pois a globalização da economia, facilitou as sociedades a realizarem o sonho do consumo, e para que isso ocorra, performaticamente, há que se ter um viés ideológico muito nítido, o sistema vende inescrupulosamente, a idéia de que a felicidade se encerra no ter...existe um indicativo de orgasmo no ar, no ato de consumir bens e serviços, e as relações afetivas, se embutem nesse espaço. É uma práxis alienante, pois idiotiza o indivíduo, que fixa o seu olhar para o seu próprio umbigo. Acometido de um estrabismo sociológico, é o individuo zarolho, que não consegue sensibilizar-se com o outro. Desenvolver o ser emocional , é dinamizar atitudes e olhares mais profundos, desde a observação, que a linda flor do hibisco, se recolhe para dormir e acorda com o alvorecer... ser, é possuir sensores capazes de identificar que uma criança chora. Ser, é estar alinhado com os pressupostos básicos da solidariedade, e fazer a parte que lhe é reservada, sem tergiversações. Ser, é o comprometimento com as causas mais nobres, na busca de amenizar as agruras dos despossuídos, onde se ausenta,  as mínimas condições humanas. Ser é olhar detidamente o hibisco, e dizer-lhe baixinho: boa noite.

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