6 de janeiro de 2011

MARIA ANTONIETA TATAGIBA

Leon Tolstoi, escritor de renome universal, foi um verdadeiro cossaco, e afirmou do alto  sabedoria dele : ” ... se queres ser universal, comece por pintar a sua própria aldeia... “ Nesse andamento, como se fosse uma sinfonia e seus movimentos, a escritora Karina Fleury, garimpa de forma arqueológica-literária a vida e a obra de Maria Antonieta Tatagiba, e transcende esse percuciente estudo, quando faz analogias e exegeses bem fundamentadas, ou quando denuncia com legitimidade histórica, o acorrentamento das mulheres pelos ditames da falocracia, lamentavelmente, ainda em pleno vigor ...E ancorando seu ideário na consistência dos versos e dos conceitos nele contidos, encontra a escritora Karina Fleury, paradigmas, desde Charles Baudelaire até o estilo modernista místico-melancólico de Cecília Meirelles, sem contar - Virginia Woolf - essa inglesa, sempre atemporal... Os escritores , além da imortalidade das suas obras, na realidade são as suas próprias e (in)contestes ânimas ! Isso vale para quaisquer outras artes. A mestra Karina Fleury, sua fidelíssima – ghost writer – discorre com cuidadoso equilibrio a saga da família,  e a via crucis da autora de - Frauta agreste – incorporando sua admiração e reconhecimento da peculiar poética, digna de quaisquer galerias oficiais. Antonieta publicou seu livro acima citado em 1927, no Rio de Janeiro. De onde recebeu elogios ,através do “ O Jornal “, o então conceituadíssimo matutino, pertencente ao poderoso conglomerado dos Diários Associados. É a poetisa-primeira  do pequeno estado do Espírito Santo, e morreu precocemente aos 33 anos...lutou bravamente contra o bacilo de Koch, e infelizmente não o venceu.
A intensa peregrinação empreendida pela autora,  na  abissal biografia, ao escrever – O papel da mulher e a mulher de papel - Editora Opção - é mais uma tentativa, espero seja frutífera, de tornar Maria Antonieta Tatagiba, num vate cosmopolita, que viveu na década da Semana da Arte, realizada em 1922, sob a batuta de Mário de Andrade e outros entusiastas colaboradores. A autora da – Frauta agreste - viveu nas alterosas sãopedrenses, no extremo sul do estado-torrão natal de Rubem Braga ...Se ela tivesse nascido francesa, certamente seria reconhecida, pois a França, possui uma sólida cultura comportamental, onde o padrão básico de conhecimento é compartido com todos, indistintamente. A este padrão pertencem naturalmente os escritores patrícios ! Por essas bandas de cá, as coisas culturais não florescem, pelo estrabismo anacronico do poder público acanhado,  e soturno. Não  toma iniciativas, e não permite, em nome do obscurantismo, que outrem o façam...A Mestra Karina Fleury é uma bem-aventurada, ao se lançar no resgate de uma poetisa de escol, e injustamente olvidada. Não é para  se colocar algodões entre os cristais, mas para refletir : o transcendental escritor e dramaturgo - Leon Tolstoi - até hoje, passados 110 anos, continua excomungado por ter colaborado com a revolução de 1917.

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