6 de julho de 2013

A casa da gente

A casa da gente.

Calma! Dizia ele ao chegar em Brasília vindo do Rio. E continuava: o corpo chegou, mas a alma, demora um pouco para se reincorporar... a velocidade do avião é supersônica. E sorria. Paciência, alertava êle. E com passos levemente trôpegos, se encaminhava a uma confortável cadeira giratória, e refastelava-se, cerrando os cílios, afirmando que estava em “alfa”. Após o processo da “reincorporação”, estaria apto a discutir a agenda. Êle Artur da Távola, jornalista, escritor e senador, também vaticinava que a casa da gente sente a nossa falta quando nos ausentamos. Pode parecer uma bobagem, mas ao contrário, isso ocorre. No meu retorno de pequenas viagens, fico a admirar a jabuticabeira , que é moradora do quintal do meu tugúrio, ou da minha modesta residência. No seu tempo, se enfeita elegantemente de colares de contas negras. Não tive a honraria de presenciar a sua primeira florada anual. A cadeira e a mesa de cerejeira, emudecida foi palco e testemunha de muitas conversas interessantes. E a confortável poltrona, presente de “mi hija”, é uma coadjuvante nas audições quase diárias de Bach e outros. A pequena biblioteca, onde se hospedam além das lembranças atávicas ( e de dentro da casa vejo a flor do hibisco, que adormece, para despertar com sol do amanhecer”), o computador, e as viagens de Swift através de Gulliver, sem falar das crônicas de Rubem Braga, ou do “Aleph” de Jorge L.Borges, ou o mapa do blues, de Bessie Smith, ou o som do sax de Lester Young,o trumpete de Wilton Marsallis e a big-band de Duke Ellington e tantos outros jazzistas. E na sequência o livro da história da Portela, ou do G.R.E.S. - Gremio Recreativo Escola de Samba da Portela, do legendário Paulo Benjamin de Oliveira – Paulo da Portela - e do sambista Monarco. A Portela nasceu na querida Madureira, a “meca” da zona norte no Rio de Janeiro. Vasculhar as estantes e encontrar sem querer(querendo), os versos intemporais do bardo Patativa do Assaré, ou do outro nordestino cultíssimo folclorista, etnólogo, historiador, antropólogo, ou tudo que ele queira ser, aqui ou Harvard, Oxford ou na Sorbonne – Câmara Cascudo – um dos ícones da terra brasilis, junto com o baiano Jorge Amado, merecedor do premio Nobel, como foram agraciados, o chileno Pablo Neruda e o guatemalteco Miguel Angel Asturias, e muitas outras constelações de poetas e escritores. E por fim, relembrado, a Flip - Feira Literária Internacional de Paraty, homenageia Graciliano Ramos, preso político na Ilha Grande, por ser filiado ao Partido Comunista, durante a vigência do Estado Novo. Na prisão escreveu "Memórias do Cárcere" narrando a sua infortunada experiência, o qual se transformou num dos livros mais lidos pelos brasileiros. Na casa gente, os objetos tem vida, e são os fantasmas materializados pelo imagético de cada um...

Nenhum comentário:

Postar um comentário