6 de abril de 2012

O numeral sete


O poeta Vinicius de Moraes, demonstra ser simpático ao setenarismo, no seu poema: A mulher que passa: tem sete cores nos seus cabelos/sete esperanças na boca fresca. Os números carregam desde a antiguidade, enígmas  e misticismos. Para dar partida a importância esotérica deste numeral, de inicio corresponde aos sete dias da semana, aos sete planetas, aos sete graus da perfeição, às sete esferas celestiais, as sete pétalas da rosa e mais alguns setenários , que para os egípcios é o símbolo da vida eterna. Cada período lunar dura sete dias, os quatros (número 4, também perfeito) períodos do ciclo, que é igual a 4 X 7, fechando o processo.. Filon, filósofo judeu, no séc. I dC, observa que a soma dos sete primeiros números (1+2+3+4+5+6+7) = a 28, ou seja, ao mesmo resultado . As voltas praticadas pelos muçulmanos, em torno da Meca, são sete. Na lenda antiga, o céu tem seis planetas, e o sol é o sétimo, e está no centro. O setenário resume igualmente a totalidade da vida moral, acrescentando as três virtudes teologais – fé, esperança e caridade –  mais as  quatro virtudes cardeais: prudência, temperança, justiça e a força, num somatório de sete. O arco-iris, é composto de sete cores, sendo o branco a síntese de todas as demais.  E  as sete notas musicais. Sete é a chave do apocalipse, onde aparece quarenta vezes: sete igrejas, sete estrelas, sete espíritos de Deus, sete selos, sete trombetas, sete trovões, sete cabeças, sete pestes, sete reis. Sete é o número dos céus búdicos, de Sidarta Gauthama. O árabe Ibn Sina ( Avicena, 980/1036) descreve os “sete arcanjos príncipes dos sete céus”, que são os guardiães de Henoc e remetem aos sete Rishi védicos(indianos). Eles habitam as sete estrelas da Grande Ursa(deusa mãe), com as quais os chineses relacionam as sete aberturas do corpo humano, as sete aberturas do coração. Observe que o Ioga, conhece os sete centros sutis, a saber, seis chakras e o sahasrârapadma. Quarenta e nove ( 7X7) é o número do Bardo, ou poeta. O estado intermediário, que se segue a morte, entre os tibetanos, dura quarenta e nove dias, dividido em sete períodos de sete dias. Acredita-se que as almas japonesas permanecem quarenta e nove dias sobre o teto das casas. A Bíblia cita o número sete em diversas ocasiões. No Velho Testamento aparece setenta vezes, o que passa ser um número mágico. Sete são os céus onde habitam as ordens angelicais, castiçais de sete braços, sete espíritos que repousam sobre o tronco de Jessé. Salomão construiu o templo em sete anos ( 1Rs 4,35). Os minaretes da Meca de Maomé são sete.Pela própria transformação que inaugura, o número sete passa a ter um poder extraordinário: quando da tomada de Jericó, sete sacerdotes, que levavam sete trombetas, deviam no sétimo dia, dar sete voltas em torno da cidade; Eliseu espirrou sete vezes, e a criança ressuscitou (2Rs 4,35). Um hanseniano se banhou sete vezes no rio Jordão e saiu curado ( Rs 5,14). O justo cairá sete vezes e se levantará ( Pr 24,16). Sete animais puros de cada espécie serão salvos do dilúvio. José interpretou o sonho, de sete vacas magras e sete vacas gordas, como sete anos de fatura e sete anos de dificuldades.  Sete é um numeral querido pela aritmética bíblica. Sete significa sempre a perfeição, o que a gnose denomina a pléroma, como “o que está completo”. No apocalipse 5,5, Cristo é o Leão de Judá, que venceu de tal maneira, que pode abrir o livro e desatar os sete selos. Sete configura a conclusão do mundo, e a plenitude dos tempos. Santo Agostinho, filho de Santa Mônica, indica ser o sete, medidor do tempo da história, que é o tempo da peregrinação terrestre do homem. O castelo de "Barba Azul", no corpo do texto  da ópera húngara de Béla Bartok,  existem sete quartos. E numa  outra ópera de Wagner - O Navio Fantasma - o comandante norueguês Daland, a cada sete anos ele desembarca em terra, para encontrar uma mulher para  ser-lhe fiel até a morte. A missa de sétimo dia vigorou até recentemente.  Eis outra curiosidade: sete vezes fui casada/ sete homens conheci/ E juro por fé de Cristo/ Inda estou como nasci. Essa quadra de origem nordestina, remete  a sagrada escritura, a seguinte história: Sara filha de Ragüel, se casara sete vezes, e seus maridos foram mortos por amodeu (diabo) nas noites nupciais. Exorcizado por Tobias, que em seguida a desposou. Isso aconteceu há sete séculos antes de Cristo.

Referências: Guia da Ópera, Jeanne Suhamy, p.198,Ed.L&PM Pocket, Dicionário de Simbologia, Manfred Lurker,Ed. Martins Fontes.


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