25 de dezembro de 2011

Estação Ferroviária














A estação ferroviária de Mimoso do Sul, foi inaugurada pelos ingleses em 1896. Eles eram os donos, e a empresa se chamava Leopoldina Railway. A gare, foi palco de alegrias e tristezas. Nos anos sessenta, o pioneiro trem de passageiro, era uma Maria Fumaça, movida à lenha, e se chamava de Noturno , não o de Chopin, mas tão importante quanto.  O comboio, saia à noite para o Rio, e voltava noutro dia, em torno das dez horas da manhã. Havia uma subdivisão de horários, e de categorias. Além do supracitado "noturno", circulavam o mixto, composto por vagões de carga, e um único vagonete de passageiros, com a primeira classe, de poltronas e a segunda, de compridos e duros bancos de madeira. O "misto" na sua simplicidade, tinha como freguês contumaz, o coronel Clarindo Lino, o mais opulento latifundiário da região. Segundo informações de polichinelo, só embarcava na classe mais barata. Eis uma pequena curiosidade: seu irmão, Severino Lino foi dono da Assyrius - a mais luxuosa boate do Rio de Janeiro - nos anos setenta, e se situava na avenida Rio Branco, de frente a Cinelândia. O outro trem, era o "expresso", o preferido de Almerinda Braga, saudosa tia e madrinha, nas suas viagens à Campos. O seu ponto de origem era Cachoeiro do Itapemirim, e passava compulsoriamente por Mimoso do Sul, às sete horas da manhã. O trem carregava a alegria, quer por retornar pessoas amadas, quer por trazer revistas, jornais e cartas românticas, e simbolizadas sempre na esperança . Transportava os jovens até ao Rio, na busca aventureira de um trabalho, ou para acrescer novos saberes. A despedida era sempre coberta de lágrimas, e longos e apertados abraços. Era como estivessem partindo para a "guerra". Os trens foram se modernizando, e inesperadamente  chegou um imponente trem de aço. Tal máquina jamais tinha sido vista, pelos simplórios olhares daqueles munícipes. Foi um verdadeiro "frisson". A locomotiva  era movida a óleo diesel. E para o orgulho civilista, era conhecido como, "cacique". Seus maquinistas-condutores envergavam elegantes uniformes, azul-marinho escuro, e quepe. Como se fossem trajes de gala, lembrando o almirantado inglês. O "Cacique", agregava um ou dois carros-leito. Contudo,a  grande novidade ficava por conta do carro-restaurante. Esse carro era o "must". A moda  era degustar à bordo, um bife à cavalo, que compreendia: um filet mignon com dois ovos estrelados, e a guarnição com arroz e fritas. Inexoravelmente, acompanhado por uma cerveja de casco-escuro  estupidamente gelada. Era o clássico pedido. Na ausência d'Orient Express, Agatha Christie, poderia ter se inspirado "n'O Cacique" emoldurado de sedução e glamour. O mistério ficaria por conta do riquíssimo imaginário da escritora. Na América do Norte e a Europa, trens velozes e confortáveis deslizam longas distancias a preços módicos. Aqui nesse Brasil continental, que por "razões de estado", teve precocemente sucateada a sua linha férrea, para dar lugar a alternativa rodoviária.  E la nave va !

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