No cérebro o córtex é o responsável pela memória, ou seja vou fazê-lo funcionar ao repaginar a rua onde morei durante a infância e parte da juventude. Reputo ser a infância a parte mais importante da minha vida. Nasci no Rio de Janeiro, por razões da ausência de infraestrutura médica e hospitalar, pois a cidade onde habitava possuía parcos recursos. A cidade dista 380 km do Rio de Janeiro. Após o meu nascimento, imediatamente retornamos ao Mimoso do Sul, "cidade-mulher, eterno amor, de quem aqui vier."(refrão do hino da cidade, autor Orlando Martins). Doutor José Coelho street, era assim a vizinhança: No início uma família com vários filhos, destaque para a Maria Helena, como participante das atividades desde o pique-esconde até a queimada(o). Maria da Glória, também era muito presente.Numa casa no alto, morava Carlos e Paulo, cujo pai era graduado funcionário do Banco do Brasil, vindo do Pará. A agencia foi a 186a. inaugurada no Brasil. Na margem esquerda da rua existia um internato gerenciada pelas irmãs da (des)caridade. Herméticas não interagia com a vizinhança. Numa pequena avaliação psicanalítica, eram sociopatas. O dogma é discutível, pois não aceita a antítese. O Eca era o morador possuidor de um cansado projetor cinematográfico. Um grande lençol branco era a tela improvisada. Cada vizinho(a) carregava uma cadeira ou equivalente para assistir "E vento levou" com Clark Gable e Vivien Leigh ou o " Gavião do mar" com Errol Flynn. O José Cardoso lusitano que fazia questão em manter o sotaque português foi um "engenheiro honoris causa". Ele construia machambomba ou carrossel e se instalava no mesmo espaço do cinema. Outro morador era o casal Doca e a gentil Dona Normanda, que fazia manteiga artesanal do leite das pequeninas vacas vindas da Ilha de Jersey, Inglaterra. Na casa da dona Mariinha uma cobiçada fruta conhecida como o doce abiu. Na casa da Profa. Gilda Brandão as pinhas ou fruta do conde, eram disputadas durante a noite de lua cheia, quando eram furtadas. No fundo do quintal, era a varanda da casa paroquial, onde os padres se reuniam e conversavam em tom alto, fumando charuto e bebendo vinho. Eram todos holandeses, da terra de Van Gogh. Mais a frente, o Fomento Agrícola, depósito dos agrotóxicos da época, quando de uma inolvidável enchente, ocorrida na década de 1960. Ronaldo um jovem estudante, exímio nadador, de braçadas nadou na rua transformada em rio, inalou a água contaminada e perdeu a vida. O circo ambulante, sempre nos frequentou. Esses artistas do povo, amargam a vida divertindo o povo mais humilde, sempre com um sorriso para o público. Diz a crença ser o palhaço, um homem triste. Todas essas atividades preenchiam o tempo e consumia parte das energias, produzidas pela multiplicação hormonal. Há uma indagação no ar: entre a petizada, se sabia ser aquela uma felicidade que jamais se repetiria? Relembrar o feliz passado, é uma atividade recomendável? Recordar é realmente viver?
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