Na ausência de uma pousada na região, Maga Psicológica pernoitou por favor, na venda de Secos e Molhados, dormindo sobre sacos vazios de cereais. E pela manhã tomou o ônibus de volta. Cabisbaixa e meditabunda, após a total negativa do pai do Chefe em recebê-la, se sentiu arrependida e também impotente. O arrependimento foi não ter dito a ele, que seria morto se não atendesse a reivindicação dos criminosos. E a impotência por não tê-lo peitado. Ela ainda mantinha no recôndito da alma, uma anêmica esperança em reconquistar aquele que foi um grande amor na vida dela. Enfim chegou ao destino final, cansada e tensa. Tocou as tarefas diárias de acordo com a rotina que a vida lhe impunha. Após três semanas, Maga Psicológica recebeu uma ligação, na qual o interlocutor não se identificou, informando que o rico cabouqueiro tinha sido morto. Maga se descompensou e desmaiou. A vizinha socorreu levando-a ao hospital local. Em pouco tempo a notícia se alastrou e na boca da noite, o noticiário midiático comentou o homicídio. Foi um crime perverso, pois a vítima lutou bravamente com o agressor. A arma branca do crime foi uma peixeira. Esfaqueado várias vezes, ele sangrou aos borbotões. Num ato terrorista o homicida cortou-lhe a cabeça, à moda islâmica jihadista. Deixando no chão um pequeno amuleto de cor vermelha, podendo conter no interior do patuá uma oração, ou uma prática mística. Quando da ocorrência do assassinato, José do Egito não estava ausente da propriedade. Um curioso fato ocorreu, semanas antes do crime: convidado a participar de uma gira do Candomblé Kêtu(*), da tradição Iorubá - José do Egito, foi batizado como Sebastião Querino no Terreiro Ilê Axé Opô Afonja - localizado na periferia soteropolitana. Para tomar novo rumo na vida e esquecer o passado, trocou de nome quando se converteu a doutrina kardecista. Nos grotões dos brasis, o expediente dos pseudônimos é quase corriqueiro. Contra a vontade, aceitou o convite. Durante a sessão aconteceu a incorporação do Exú caveira, entidade de má reputação entre os orixás. O espírito materializado avisou-lhe que o patrão dele iria morrer. Adiantou que foi um pedido forte num terreiro baiano. José do Egito contou tudo a ele, contudo em nada acreditou.
(*) Pesquisa, O Negro no museu brasileiro - Ed. Bertrand Brasil, 2005 - Autor: Raul Lody
(*) Pesquisa, O Negro no museu brasileiro - Ed. Bertrand Brasil, 2005 - Autor: Raul Lody
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