A barra do Chefe começava a pesar por carregar a culpa de ter morto o pai, pelas mãos de um assassino frio e de aluguel, um ser desprezível que o Chefe contratou para a abjeta tarefa. As alucinações se intensificaram e os outros hóspedes começam a se incomodar com os gritos dele durante a madrugada, os quais perturbavam o sono dos demais, e as discussões desperadas se iniciaram. Os mais exigentes queriam que ele fosse para outra cela, e os mais serenos mitigavam o incômodo. O núcleo duro da facção criminosa da prisão se reuniu e decidiu transferir o Chefe para outro compartimento prisional. Foi lotado no gabinete dentário, um local para os peixes do Chefe dos carcereiros, pois o interno deveria manter o consultório limpo e na contrapartida, poderia dormir no consultório. É possível que tal prerrogativa passava ao largo da diretoria do presídio. Um oásis no deserto da criminalidade.Na época esse espaço era disputadíssimo e custava um bom dinheiro. O Chefe se sentiu prestigiado, mas os devaneios noturnos não cessaram. Sem se alimentar, estava se candidatando a uma anorexia. Fumava diariamente três a quatro maços de cigarro e estava magérrimo. A limpeza do consultório estava sendo negligenciada. As reclamações eram frequentes por parte do dentista.
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