31 de maio de 2012
Beethoven
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Eis um adágio popular cujo o remetente é a dramaticidade da (in)decisão; em quaisquer setores da atividade humana. A dúvida nem sempre é uma madrasta, poderá ser atitudinalmente acertada. A sabedoria poderá se hospedar na descrença, ou não. Não se conhece a cronologia, muito menos a validade dessa permanencia. Tal qual um castelo de areia, que se esvai por uma (in)esperada onda do mar. Alguns sábios dizem que o “cavalo só passa uma única vez encilhado” , caso não o cavalgue, ele vai embora. O estado d’alma de quem “perdeu o único corcel”, não é dos mais confortáveis, mas o tempo, eficaz antídoto faz milagre. No contraponto, as culpas purgam incessantemente, daí o purgatório. No andar de baixo, a geena aguarda as almas que desembarcam aos borbotões, combustível indispensável para manter acesa a fogueira. Nesse contexto, o compositor Beethoven(1770/1827), já totalmente surdo, versejou, no quarto e último movimento - Ode a alegria - em sua derradeira nona sinfonia - ele assim vaticinou: “ Quem já conseguiu o maior tesouro/ De ser amigo de um amigo/ Quem já conquistou uma mulher amável/ Rejubile-se conosco/ Mesmo se alguém conquistar apenas uma alma/ Uma única em todo o mundo./ Mas aquele que falhou nisso/ Que fique chorando sozinho " Há um indicativo no ar, que desenha um esboço na construção do (des)encontro - igual ao vôo cego de um falcão - para não se escutar, o silencio da solidão, de quem nunca o desejou. O destino é arrebatador, mesmo num viver modorrento; ele atua feito uma febre rotineira; que arde todas as tardes - quando os pássaros se recolhem aos seus ninhos - como uma irrevogável punição.
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