15 de agosto de 2010

Dominguinhos e sua arte !

Lá no Pernambuco, Dominguinhos, gostava de degustar tatu-péba. Assim ele confidenciou ao seu interlocutor e anfitrião Beto Ginaid, quando da sua reapresentação no Festival de Sanfona e Viola de São Pedro do Itabapoana, do qual é um grande admirador !
Um dos ascendentes do Beto Ginaid, é  o comerciante sirio-libanes, cujo o nome  completo era Chibre Ginaid, que se estabeleceu no século passado na bucólica São Pedro e por lá ficou. Esses imigrantes possuíam uma invejável têmpera, pois assumir outra língua ,costumes e valores tão diferentes, é uma tarefa hercúlea. Deve existir um pacto secreto em esquecer parcialmente o passado. Senão fica muito difícil construir uma nova história de vida, se o passado estiver presente. É uma tremenda renúncia.
Beto Ginaid, curioso em saber mais de Dominguinhos, perguntou-lhe se tinha provado um refogado de tatu-galinha.  Ele afirmou que tatu-galinha era muito raro no sertão pernambucano.
Dominguin, se chama José Domingos de Moraes, e nunca se separou da sua sanfona e nem da sua mulher.Seu pai Chicão Moraes, era também sanfoneiro. Certa vez Luiz Gonzaga – o rei do baião – visitava a terra natal da família. Seu pai não perdeu tempo, e foi ao encontro do Rei do Baião, e  tocou sua sanfona,  acompanhado de Dominguinhos no pandeiro e seu irmão na zabumba. Luiz Gonzaga gostou do que ouviu naquele improvisado regional. Muitos anos se passaram, quando Chicão Moraes, viajou onze dias num pau-de-arara, à procura de Luiz Gonzaga numa cidade da baixada fluminense, onde se localiza o Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis.
O rei do Baião o recebeu com pompa e circunstancia. Através de Luiz Gonzaga, travou conhecimento com outros músicos como Altamiro Carrilho, Dinho, Meira e muitos outros. A sanfona, prima da acordeon, começaram a sair de moda, sendo substituidas pelo piano e teclado. Dominguinhos permaneceu fiel a sua sanfona da marca, Scandall Super 6 .  Em 1972, ele estava caminhando pelas ruas da poderosa metrópole de São Paulo, meio desanimado, quando a força do destino, igual as quatro notas iniciais da quinta sinfonia de Beeethoven, bateu à sua porta. Surgiu repentinamente, como desembarcado de uma nave espacial, o então famoso empresário dos grandes intérpretes da música brasileira – Guilherme Araújo – que na efervescente avenida São João, gritou pelo seu nome. E de chofre o convidou para participar da feira internacional de música Midem em Cannes, na França. Passou quinze dias encantando os franceses com a sua sanfona, triângulo e zabumba. Com o passar dos anos, ele começou a sentir pavor de avião e há vinte anos não embarca numa aeronave.
- Eu só quero um xodó – é uma das músicas de maior sucesso, de parceria com Anastácia, e outras ,tais como : Isso aqui tá bom demais, De volta para o aconchego, ambas de parceria com Nando Cordel,  e  Asa Branca - hino nordestino - de autoria de  Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.
Dominguinhos é uma figura humana impar, carregado de emoções, contagia a todos que com ele convive mais amiúde. A gratidão, virtude meio rara, todavia em José Domingos Moraes,o agradecimento àqueles que o ajudaram, ele jamais esqueceu. Destaque para Luis Gonzaga e Guilherme Araújo, que abriram as primeiras portas para esse artista, ícone da brasilidade musical. A harmonia nos seus acordes, sua original técnica de tocar seu instrumento, revela um swing, que só existe nele. É sábio, porque é simples !
É uma lástima que o entendimento do poder público brasileiro não cultua a arte popular,  como um dos seus mais importantes símbolos, de conteúdo, que povoa o  imaginário do povo brasileiro. Dominguinhos, Luis Gonzaga, Chiquinha Gonzaga, Donga, Ari Barroso, Ataulfo Alves, Paulo da Portela, Pixinguinha, Jacó
 do Bandolin, Cartola, Nelson Cavaquinho, Moacir Santos, Tom Jobim e Heitor Villa Lobos, e tantas outros, são  fotografias,  de uma mesma galeria de arte.

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