Uma missão quase
impossível escrever sobre a escravatura no Brasil. É considerada o maior trauma
social e histórico do nosso país. Tive uma experiência, reveladora,
quando tentei pesquisar a vida de Izidoro Machado, meu avô paterno. O genoma paterno é afrodescendente, segundo os laboratórios
da Heritage, ascendo dos nigerianos e quenianos, além dos ibéricos, leia-se lusitano. Dei inicio a pesquisa, pois
sabia por informação do meu pai, que o Izidoro Machado em 1926, exerceu profissão de alfaiate na vizinha Muqui, antiga São João do Lagarto. Na Cidade-Menina
os registros, quer de nascimentos, quer de óbitos, estavam sob o manto protetor
da santa e pecadora igreja católica, na comarca de Apiacá. O padre que me
atendeu era um holandês, ascendente dos huguenotes. A primeira impressão foi
tosca e quase grosseira. Disponibilizou–me um robusto livro de anotações.
Vasculhei auxiliado por uma lupa, procurando pelas datas de nascimento e morte.
Notei que somente os escravos alforriados, constavam a data de falecimento dos
mesmos. Na época da escravatura, uma alforria custava no valor atualizado, em
torno de dez mil reais. Percebi que aqueles não-alforriados não possuíam certidão
de nascimento ou de óbito. Eram enterrados como indigentes. Faz-me lembrar o
aforismo de Joaquim Nabuco (1849/1910) : A igreja católica, apesar do seu
imenso poderio em um país ainda em grande parte fanatizado por ela, nunca
elevou no Brasil a voz em favor da emancipação.” (sobre a posição da igreja
católica em relação a abolição da escravidão no Brasil). Ficou claro que
existia uma discriminação praticada pelos fazendeiros, entre os próprios escravos.
Lamentavelmente não consegui o meu intento. Voltei de mãos vazias, mas a alma
repleta de todas as certezas possíveis, que a escravidão foi tão perversa, pois ainda persiste, em todos segmentos sociais, contudo mitigada.
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