Feijoada é uma iguaria nacional, brasileiríssima que só existe aqui nesse enorme e generoso continente chamado Brasil. Versejando: Brasil, meu Brasil brasileiro, meu mulato inzoneiro, vou cantar-te nos teus versos. Assim escreveu Ari Barroso, ex-vereador, flamenguista de alta patente, compositor da música brasileira - a mais executada no mundo – Aquarela do Brasil !
Feijoada nunca é completa, alguém sempre reclama da falta de algum ingrediente ou acessório como diria Ítalo Alves Ferreira – ex-craque do Vasco da Gama ! Ou sentem a ausência do rabo ou da orelha do capado,ou da laranja, na sábia função de um eficaz adstringente,ou para ser mais claro,coadjuvante na digestibilidade de tantos e saborosos acepipes. Chico Buarque na sua música dá a receita de uma feijoada e começa assim :
“Uca(cachaça),açucar,cumbuca de gelo,limão,são para abrirem os trabalhos,e aí vem o arroz branco,farofa e malagueta,a laranja bahia ou da seleta/joga o paio,carne seca,toucinho no caldeirão/ E vamos botar água no feijão/Mulher,depois de salgar/Faça um bom refogado/Que é pra engrossar/Aproveite a gordura da frigeideira/Pra melhor temperar a couve-mineira..”
Historicamente a feijoada não constitui um tira-gosto,mas um menu,um cardápio inteiro.Ali se unem a flora e a fauna,num plano de seleção e resultados inestimáveis de pressão atmosférica e graduação calorífera de alta precisão ! Há duzentos anos atrás,o Brasil,em especial o Rio de Janeiro,capital do império,sofria profundas transformações com a chegada da família imperial portuguesa fugida com medo de Napoleão Bonaparte invadir Portugal e trancafiar Dom João VI e seus familiares !!! Se tivesse ficado em Portugal e resistisse,certamente a nobreza lusitana venceria Napoleão,que ao chegar em Portugal, o seu exército,além de ser muito jovem e estava em frangalhos, e famintos ! Dom João mexeu com tudo, e com todos os costumes na época...Só uma instituição permaneceu inamovível,não deu bola e não se permitiu ser adulterada,foi a brasileiríssima feijoada !
Os riquinhos, comiam a feijoada sempre escondidos,talvez por vergonha ! Os bobinhos dos europeus torciam o nariz para a feijoada ! Nada disso atrapalhou a performance da feijoada. Sofisticou-se, ao ponto de estar inserida nos cardápios dos restaurantes e ter um dia,tradicionalmente, só para ela ! Todos os sábados ! Desde o requintado restaurante Satyricon de Ipanema ao Albano’s ou o Faito’s,onde são reservados as suculentas feijoadas ! Há muitos anos passados,o dia da feijoada, chegou a ser nas quartas-feiras !
Essa iguaria sofreu as suas evoluções culinárias,no início do século 19,a feijoada era um feijão ralo,com carne-seca e toucinho,polvilhado com farinha de mandioca.Não se usava talheres nas refeições(só o chefe da casa portava uma faca),os demais se alimentavam fazendo bolinhos com os dedos da mão.Em outras províncias a feijoada tomava outro nome,era conhecida como - tutu de feijão - O Rio de Janeiro capturou,acolheu a feijoada como invenção,ou o aperfeiçoamento pelos cariocas.O arroz branco passou a ser par constante dela, no final do século 19,entrando no século 20.Segundo o historiador El-Kareth,em suas pesquisas,declarou... " ainda não encontrei evidencias comprovando a versão popular de que a feijoada, teria surgido com o aproveitamento do que sobravam das refeições dos senhores escravagistas .”
Enquanto o famoso queijo Rockforf,de origem francesa,tem a sua receita guardada a sete chaves há mais de quatrocentos anos... a nossa feijoada não tem segredo,é democrática,pois qualquer gringo poderá se habilitar fazê-la !
Já que os parlamentares do extremo sul do país,tentam surrupiar os royalties do petróleo do E.Santo e do Rio de Janeiro, seria de bom tom,se recolhéssemos pedágios extras toda a vez que um gaucho degustasse uma feijoada ou uma moqueca capixaba !
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